Folha de S. Paulo
Fatos da campanha despertaram no eleitor
pouco interesse em trocar de time
Uma pesquisa feita pelo Datafolha há 535
dias desenhava o que seria a corrida presidencial. Recém-saído da prisão, Lula
mostrava que havia mantido o domínio da esquerda, aparecendo
como favorito. Mesmo desgastado pela tragédia da pandemia, Jair Bolsonaro
tinha mais que o triplo das intenções de voto de outros nomes de direita,
fechando espaços para uma candidatura alternativa.
O embate entre um presidente e um ex-presidente populares, com plataformas e defeitos públicos, fez com que a eleição se desenrolasse como uma disputa de torcidas. Movido por uma sensação de pertencimento, o país se alinhou de maneira firme em cada lado da arquibancada e reduziu o potencial de mudanças bruscas provocadas pela campanha.
Nenhum fato dos últimos meses abalou de
maneira significativa o vínculo de meio eleitorado com o líder de um governo
encerrado há quase 12 anos. O próprio Lula explorou como arma de defesa a
monotonia de ser um político conhecido, a fim de vender a ideia de que fará uma
gestão sem sobressaltos.
A campanha adversária não desidratou o
petista ao investir no velho fantasma da ameaça comunista ou fabricar novos,
como a ideia de que o ex-presidente fechará igrejas. Os ataques foram úteis
apenas para permitir que Bolsonaro vestisse o uniforme com que conseguiu a
vitória na eleição de 2018.
O principal feito do presidente foi reaglutinar
parte considerável do grupo que o empurrou para o poder há quatro
anos. Bolsonaro soube instrumentalizar a rivalidade com o lado oposto para
convencer muitos daqueles torcedores de que seria impossível mudar de time na
hora de enfrentar o mesmo adversário.
A máquina do governo foi incapaz de
produzir uma avalanche na eleição, ainda que tenha conseguido reduzir o peso da
inflação e a memória do morticínio dos últimos anos. A fidelidade dos
apoiadores foi suficiente para fazer Bolsonaro resistir a escândalos como o
caso das meninas venezuelanas e o ataque armado protagonizado por um aliado.
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