segunda-feira, 18 de julho de 2022

Bruno Carazza* - Receita número 3 pra ser eleito: ser rico

Valor Econômico

Entrar para a política tem um preço, e ele é alto

Nas duas últimas colunas demonstrei como a política oferece diferentes mecanismos para a perpetuação no poder de quem já desfruta de suas benesses. Do uso do fundão eleitoral e do orçamento secreto à exploração dos sobrenomes tradicionais, possuir um cargo eletivo constitui uma força desproporcional na disputa eleitoral.

Embora digam que a taxa de renovação nas eleições de 2018 foi elevada, dos 513 deputados eleitos em 2018 pelo menos 427 (ou seja, 83,2%) já tinham exercido mandatos eletivos, eram parentes de políticos ou tinham ocupado posições de ministros ou secretários de Estado anteriormente.

Estar inserido nas máquinas partidárias ou em famílias tradicionais é um atributo muito valioso, pois não é fácil ser eleito no Brasil. As disputas se dão em distritos eleitorais muito grandes e populosos (os Estados) e é preciso vencer a concorrência de centenas de adversários, dispersos por dezenas de partidos políticos. Tamanha pulverização de candidaturas em meio a legendas que não tem quase nenhum substrato programático exige que o político, para se tornar viável, seja bastante conhecido. E isso, em geral, custa dinheiro.

Embora desde a Proclamação da República não existam mais critérios de renda para se elegerem os representantes do povo no Parlamento, ter um patrimônio alto continua a ser uma forma eficiente para contornar os obstáculos da política tradicional e se tornar deputado federal ou senador.

Na última eleição geral, dezoito deputados novatos chegaram a Brasília empregando pelo menos R$ 100 mil do próprio bolso no financiamento de suas campanhas (veja o gráfico). A campeã nesse quesito foi Paula Belmonte, que utilizou fabulosos R$ 2,4 milhões para obter cada um dos 46.069 votos recebidos. Segundo dados declarados ao Tribunal Superior Eleitoral, Belmonte possuía em 2018 um patrimônio de R$ 5,6 milhões, grande parte proveniente de ações de empresas em sociedade com o marido, o advogado Luís Felipe Belmonte - ele também outro arrivista na política, visto que é suplente de senador.

No topo do ranking dos novatos abonados estão empresários do setor de segurança privada (Igor Timo, R$ 2,1 milhões), supermercados e distribuição (Hercílio Coelho Diniz, R$ 1,98 milhão, e Glaustin da Fokus, com R$ 1,83 milhão) e de empresas do ramo da educação privada - o falecido deputado Luiz Flávio Gomes, com R$ 1,59 milhão, e Haroldo Cathedral, que empregou pouco mais de R$ 1 milhão.

Ao permitir que candidatos empreguem somas elevadas do patrimônio pessoal ou familiar na cobertura das suas despesas eleitorais, a legislação torna o jogo político enviesado em favor dos mais ricos. E quando o capital político se soma ao poderio financeiro, a resultante pende a favor da concentração de renda e de poder.

Nossa história é repleta de empresários que se elegeram e exerceram seus mandatos para promover interesses pessoais. Em algumas situações, porém, o envolvimento de ricaços na política faz parte de uma estratégia setorial. Nesse quesito, o agronegócio brasileiro é o caso de maior sucesso.

Enquanto muitos setores exercem pressão na política por meio de lobby ou doações de campanhas para políticos, lideranças do setor agropecuário decidiram dispensar intermediários e eleger seus próprios representantes como deputados, senadores e governadores. Cobrindo os elevados custos das campanhas com recursos pessoais, grandes produtores rurais se lançaram na política e constituíram, no Congresso Nacional, o mais coeso e influente grupo de parlamentares. Imiscuídos em diversos partidos, a poderosa bancada ruralista promove não apenas seus pleitos corporativos - da obtenção de crédito subsidiado à autorização para o uso de armamento pesado para a defesa de suas propriedades - mas também usa seu peso a favor de qualquer projeto político que julgarem conveniente.

Desde 2019, a legislação eleitoral limita o emprego de patrimônio pessoal a 10% do total de gastos permitido para cada cargo. Essa limitação da legislação eleitoral, porém, é inócua, visto que o candidato rico, sem grandes dificuldades, pode recorrer a cônjuges, filhos, irmãos e outros parentes para canalizar sua poupança individual para seu comitê de campanha.

Quando o Supremo Tribunal Federal, em 2015, proibiu as empresas de realizarem doações eleitorais, ele baseou sua decisão no argumento de que essa era uma forma de se corromper o funcionamento da democracia. Se a intenção era eliminar a influência do dinheiro na política, o trabalho ficou incompleto.

*Bruno Carazza é mestre em economia e doutor em direito, é autor de “Dinheiro, Eleições e Poder: as engrenagens do sistema político brasileiro” (Companhia das Letras)”

3 comentários:

Anônimo disse...

Milhões nas contas bancárias, família influente e conhecida, gosto pelo poder, pouca inteligência ou cabeça fraca, subserviência... Receita de sucesso no bolsonarismo!

Anônimo disse...

Quem da menos despesas no cartão corporativo? Creio que vou com este que sai mais em conta para o meu bolso. Com Lula não precisamos sustentar os militares no Viagra também

ADEMAR AMANCIO disse...

E olha que o Viagra nem é caro,imagine os outros produtos?