sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Bernardo Mello Franco - Pintou um clima

O Globo

Se presidente queria demonstrar força, pronunciamento desta quarta teve o efeito contrário

Pintou um clima de derrota na campanha de Jair Bolsonaro.

Às vésperas do segundo turno, aliados do presidente passaram a pedir o adiamento da votação. Alegam que ele teria sido prejudicado na distribuição da propaganda eleitoral em rádios no Nordeste.

A queixa foi apresentada por Fábio Faria, dublê de ministro e animador de palanque. Anunciada em tom de escândalo, baseava-se num relatório vazio e apócrifo. Instado a dizer quem teria participado do boicote, o comitê bolsonarista listou apenas oito emissoras. A maioria de municípios diminutos, como Várzea da Roça e Santo Antônio de Jesus.

O factoide governista não sensibilizou o TSE. O ministro Alexandre de Moraes arquivou a reclamação por ausência de “qualquer indício mínimo de prova”. Para completar, determinou que seus autores sejam investigados por tentativa de tumultuar o processo eleitoral.

Ainda que a história fosse verdadeira, não teria a menor influência numa disputa que envolve mais de 120 milhões de eleitores. Além disso, a responsabilidade de fiscalizar a veiculação de propaganda é dos partidos políticos, não do Judiciário.

Na noite de quarta, Bolsonaro cancelou uma viagem ao Rio e convocou uma “reunião de emergência” com os comandantes militares. Em seguida, chamou a imprensa para fazer novas insinuações golpistas. Atacou o presidente do TSE e prometeu ir até as “últimas consequências” no caso das rádios.

Bolsonaro falou como candidato, não como presidente. Mas fez questão de usar o Palácio da Alvorada e de aparecer escoltado pelos ministros Anderson Torres e Augusto Heleno, superiores hierárquicos da Polícia Federal e da Abin. A presença deles sugere que os dois órgãos podem ser usados para perturbar o ambiente político até domingo.

O capitão sempre jogou com a carta do tumulto. Antes o pretexto era o voto eletrônico. Agora, as inserções de rádio. Nada disso seria levado à mesa se ele não continuasse em desvantagem nas pesquisas.

Se a intenção de Bolsonaro era demonstrar força, o efeito prático foi o contrário. Seu esperneio valeu como um atestado de fraqueza. E de medo da possível derrota nas urnas.

 

2 comentários:

Daniel disse...

Pintou um clima de CADEIA pro futuro ex-presidente Jair Bolsonaro, o miliciano mentiroso e genocida!

ADEMAR AMANCIO disse...

A padroeira do Brasil que olhe por nós.