Lideranças de partidos apostam no fim da polarização em 2026
Por Ricardo Mendonça / Valor Econômico
SÃO PAULO - Com a derrota eleitoral do
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2022, seu refúgio nos Estados Unidos e a
omissão diante do golpismo do 8 de janeiro, representantes da chamada terceira
via começam a enxergar uma janela de oportunidade para recuperar o eleitorado
perdido.
O que tem sido interpretado como uma sequência de erros de Bolsonaro acende certa esperança em lideranças tucanas. “Se Bolsonaro tivesse reconhecido a derrota e ido para a oposição para liderar a direita e organizar uma volta em 2026, a situação estaria bem complicada para a terceira via”, avalia o ex-deputado tucano Marcus Pestana, que disputou e perdeu a eleição para o governo de Minas Gerais em 2022. “A sorte é que ele errou muito. Renunciou à liderança, deixou um vácuo enorme e, portanto, abriu espaço para a terceira via”, completa.
Para ele, porém, a trilha aberta por
Bolsonaro não é suficiente para a restauração da terceira via. Até porque o
espaço pode ser ocupado por outros partidos ou personagens. “Para se
reabilitar, o PSDB também precisa fazer a lição de casa”, diz. “É preciso
primeiramente ter unidade interna. Não temos capacidade de mobilização social,
como o lulismo e o bolsonarismo, nem lideranças muito midiáticas. Então o
desafio é recuperar laços com a sociedade. Isso não se faz de uma hora para
outra.”
Ex-senador por São Paulo e ex-presidente
nacional do PSDB, José Aníbal concorda com a avaliação de Pestana: “A cabeça do
Bolsonaro funciona como a de um líder de seita. É como um Jim Jones: se ele
mandar os seguidores tomarem veneno, muitos vão tomar. Mas outros tantos que se
motivaram com ele genuinamente estão vendo agora quem ele realmente é. Então há
espaço, sim, para uma política assertiva que seja capaz de apontar horizontes”,
afirma.
Presidente nacional do Cidadania, partido
federado com o PSDB, o ex-deputado Roberto Freire é outro que enxerga abertura
de espaço para ocupação por parte da terceira via.
“O processo político radicalizou-se de tal
forma que a eleição virou uma disputa de rejeições. Aí, de fato, não houve
chance para a construção de alternativas. Agora é perceptível que começa a ter
um processo mais pluralista. Já dá para perceber que diminuiu o nível de conflito
na sociedade. Então não tenho dúvida de que o que nós representamos poderá ter
um protagonismo maior em 2026”, explica.
Para ele, é preciso que a federação
PSDB-Cidadania seja ampliada. Poderá funcionar melhor, avalia, se conseguir
reproduzir novamente a aliança com o MDB, como ocorreu em apoio à chapa
liderada por Simone Tebet em 2022.
No ano passado, em decisão inédita desde
sua fundação, em 1988, o PSDB não teve candidato próprio à Presidência. Depois
de uma disputa interna feroz entre o ex-governador de São Paulo João Doria e o
governador reeleito do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, o partido acabou
apoiando a chapa de Tebet, que ficou em terceiro lugar na disputa. A bancada
caiu e hoje é uma das mais vulneráveis ao assédio de outros partidos.
Nesse processo, unidade foi exatamente o
que o PSDB não demonstrou, apesar de ter composto a chapa da emedebista com a
presença da senadora Mara Gabrilli (SP), que abandonou a sigla depois da
eleição. Nem todos ficaram com Tebet. O governador do Mato Grosso do Sul,
Eduardo Riedel, por exemplo, apoiou Bolsonaro desde o primeiro turno. Muitos
deputados da bancada tucana também fizeram isso. Já lideranças históricas, como
o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e os ex-senadores José Serra e
Aloysio Nunes Ferreira, apoiaram Lula.
Eduardo Leite recebeu “apoio crítico” do PT
no segundo turno da eleição gaúcha, contra o ex-ministro Onyx Lorenzoni (PL),
mas permaneceu neutro na eleição presidencial. A neutralidade o credenciou para
a presidência nacional da sigla, que assumiu no mês passado. Ele é visto como
opção presidencial em 2026.
Leite esteve em São Paulo na semana passada
para um almoço com deputados estaduais e outras lideranças paulistas da sigla.
Segundo Aníbal, gerou entusiasmo mesmo entre os nomes mais ligados a Doria, que
se desfiliou, mas, nos bastidores, continuaria exercendo influência.
Não é o que indica, contudo a reação de prefeitos que estiveram ao lado de Doria na disputa interna em 2022 à decisão de Leite de cancelar as convenções municipais que estavam marcadas para este mês. O prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando, divulgou nota de repúdio, classificando o gesto de “golpe à democracia no partido”. (Colaborou César Felício)
Um comentário:
Um ensopado de siglas.
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