Propostas de decretos legislativos para sustar medidas da gestão do presidente e assinaturas para comissão de inquérito parlamentar sobre manifestações golpistas viram instrumentos de pressão em momento de formação da base
Por Marlen Couto, Jeniffer Gularte,
Fernanda Trisotto e Alice Cravo / O Globo
RIO E BRASÍLIA - Enquanto o governo do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda costura uma base estável no
Congresso, a oposição tem lançado mão de diferentes frentes com o objetivo de
pressionar a atual gestão na Câmara e no Senado. O movimento mais recente é a coleta
de assinaturas para a CPI dos Atos Golpistas — na sexta-feira, o deputado
federal bolsonarista André Fernandes (PL-CE) anunciou ter atingido o apoio
necessário para a abertura dos trabalhos. O Palácio do Planalto ainda vê com
ceticismo a possibilidade de o colegiado sair do papel, mas há deputados do PT
defendendo abertamente a entrada dos parlamentares nas apurações, posição
antagônica à de Lula.
Há também na lista de iniciativas da oposição projetos para reverter as regras mais rígidas para o registro de armas de fogo e um texto que busca brecar a indicação da ex-presidente Dilma Roussef para o Banco dos Brics, intenção já manifestada por Lula.
Fernandes disse que angariou as assinaturas
de 172 deputados e 32 senadores para seu requerimento de CPI, número suficiente
para que o pedido vá adiante. Segundo ele, há no grupo integrantes do MDB e do
União Brasil, duas siglas que fazem parte do governo.
Como o ofício de Fernandes ainda não foi
apresentado formalmente, integrantes da base avaliam a possibilidade de tentar
reverter parte dessas assinaturas no MDB e União Brasil, o que poderia
inviabilizar a comissão. Segundo integrantes das duas siglas, os parlamentares
foram liberados para apoiar o colegiado.
— Vou tratar desse assunto na reunião dos
líderes da base na terça-feira (amanhã) — disse o deputado José Guimarães
(PT-CE).
Articuladores de Lula no Congresso apostam
que, apesar de o presidente se opor, a iniciativa representa mais desgaste aos
bolsonaristas, alguns deles, como Fernandes, investigados sob suspeita de
incentivar os atos golpistas. Os opositores, por sua vez, pretendem arrastar o
governo para o centro da apuração.
— Com a CPI, poderemos apurar com mais
detalhes os três núcleos dos golpistas: político, militar e econômico — afirmou
o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), vice-líder do governo no Congresso.
Para o deputado Alencar Santana (PT-SP), a
CPI é mais um instrumento para identificar e punir os golpistas que invadiram o
Congresso, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF):
— Queremos que os golpistas paguem,
inclusive os parlamentares que instigaram e apoiaram os atos.
Governistas ouvidos reservadamente avaliam,
contudo, que o timing para instalação da CPI não é o melhor, por acirrar mais a
polarização entre petistas e bolsonaristas.
O regimento do Congresso determina que a
instauração da CPMI deve ser automática se o pedido tiver assinatura de pelo
menos um terço dos deputados (171 de 513) e um terço dos senadores (27 de 81),
números que, segundo Fernandes, foram alcançados.
Mesmo com a determinação regimental,
contudo, governistas acreditam haver margem para protelar seu início. A
instalação depende da leitura do requerimento a ser feita pelo presidente do
Congresso, função ocupada pelo senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG). O presidente
do Senado tem o “poder de agenda”: ele não é obrigado a ler o requerimento de
instalação e pode adiar a tarefa. Nesse caso, os parlamentares podem recorrer
ao STF, a exemplo da CPI da Covid, que foi instalada por ordem da Corte.
Em paralelo, foram apresentados na Câmara
desde o dia 1º de janeiro ao menos 30 propostas com o objetivo de sustar ou
revogar decretos e portarias do governo Lula, decisões que não precisam passar
pela análise do Legislativo. Desse total, 16 partiram de deputados do PL.
O principal alvo é o decreto que mudou as
regras para a aquisição e o registro de armas de fogo. O texto revogou uma
série de normas do governo Bolsonaro que facilitaram o acesso a armamentos e
munição. Outro tema que mobiliza a oposição é a Procuradoria Nacional da União
de Defesa da Democracia, criada na Advocacia-Geral da União (AGU). A estrutura
tem como atribuição representar a União em processos judiciais para “resposta e
enfrentamento à desinformação sobre políticas públicas” e despertou críticas e
preocupação pelo risco de cerceamento de opiniões e perseguição de opositores
do governo. A criação do Conselho de Participação Social, prática que foi
abandonada no governo Bolsonaro, também entrou na mira dos deputados.
Banco dos Brics
Projetos de lei para marcar posição ou mesmo dificultar escolhas e a atuação do governo são outro caminho. O líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN), por exemplo, protocolou na sexta-feira uma proposta que cria dificuldades para a indicação da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) para a presidência do Banco do Brics. Pelo projeto, que ainda precisa ser pautado e votado na Casa, a indicação de brasileiros para postos de comando de instituições financeiras internacionais passaria a ser avaliada pelo Senado e dependeria do voto da maioria absoluta.
Um comentário:
PL e adjacências:
quebra-molas fora de padrão
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