segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

Felipe Moura Brasil - Contos antipopulistas

O Estado de S. Paulo.

A literatura tradicional ainda é a melhor vacina contra populismos de esquerda e direita

Cinderella (de 2015) é uma jovem órfã que se apaixona pelo príncipe Kit em encontro fortuito na floresta. Aladdin (de 2019) é um jovem órfão que se apaixona pela princesa Jasmine em encontro fortuito na rua.

Com ajuda de uma fada madrinha que a transforma em princesa a bordo de uma carruagem, Cinderella supera os obstáculos impostos por sua malvada madrasta, Lady Tremaine, contorna a barreira social e comparece ao baile onde o príncipe Kit também se mostra apaixonado por ela.

Com ajuda de um gênio da lâmpada que o tira de uma caverna e o transforma em príncipe, Aladdin supera os obstáculos impostos pelo perverso grão-vizir Jafar, contorna a barreira social e é recebido no castelo onde a princesa Jasmine também se mostra apaixonada por ele.

Quando Lady Tremaine descobre que Cinderella se disfarçou de princesa, ela tranca a enteada em um quarto escondido e busca um acordo para ganhar poder caso Kit escolha outra jovem como noiva.

Quando Jafar descobre que Aladdin se disfarçou de príncipe, ele rouba a lâmpada mágica e pede ao gênio para ganhar o poder de sultão do pai de Jasmine.

A busca de Kit por Cinderella faz com que ele ouça seu canto pela fresta da janela do quarto trancado e desmascare Lady Tremaine.

A reação de Jasmine e Aladdin contra Jafar faz com que o grão-vizir peça agora para ser mais poderoso que o gênio e acabe ele próprio sugado para dentro da lâmpada.

As vitórias dos protagonistas sobre seus antagonistas não vêm sem orientações transformadoras. “Tenha coragem e seja gentil”, ensinou a falecida mãe de Cinderella. “Quanto mais você ganha fingindo, menos você realmente terá”, disse o gênio a Aladdin.

Uma vez confessados os disfarces, Kit aceita Cinderella como moça do campo, enquanto Jasmine aceita Aladdin como rapaz da rua, em finais felizes de fazer inveja a Romeu e Julieta.

Para entrar no universo das minhas sobrinhas durante viagem de carnaval em família, assisti às recentes versões cinematográficas de ambos os contos populares de séculos passados.

A literatura tradicional, bem ou mal adaptada ao cinema, ainda é a melhor vacina contra os populismos de esquerda e direita da contemporaneidade, porque ela ilustra como o amor, a gentileza, a sinceridade e a coragem podem suplantar a divisão da sociedade em castas, levando à realização pessoal e ao bem comum, enquanto os “Jafares” e “Tremaines” do nosso tempo tentam nos dividir à base de ódio, inveja, ganância e ressentimento.

Eduque as crianças da sua família também.

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Comparando o incomparável,rs.