O Globo
Em janeiro de 2005, Lula se definiu como “o
maior vendedor de otimismo já visto neste país”. A economia crescia em ritmo
acelerado, e o governo ainda não havia enfrentado a crise do mensalão. Dezoito
anos depois, o presidente tenta recuperar a aura de confiança do primeiro
mandato. Mas parece estar menos à vontade no velho figurino.
Diante de uma plateia de jornalistas, o
petista procurou se dizer ontem “mais do que satisfeito” com o início do novo
governo. “Estou convencido de que vamos consertar o país”, garantiu, alternando
promessas e elogios à própria equipe.
À medida que a conversa avançou, o
presidente começou a se queixar das dificuldades. Reclamou da taxa de juros,
criticou o legado do antecessor e admitiu que ainda não sabe se conseguirá
aprovar sua agenda no Congresso. “É muito difícil pensar num sistema de
coalizão política com a quantidade de partidos que nós temos. Com 30 partidos,
é muito complicado”, desabafou.
Lula fez um apelo para que os presidentes da Câmara e do Senado encerrem a disputa de poder que trava a votação de medidas provisórias. O impasse se arrasta desde fevereiro e ameaça demolir a arquitetura da nova gestão. “Tenho certeza que os dois vão se colocar de acordo”, disse o petista. “O país não pode ficar parado”, suplicou.
O vendedor de otimismo reapareceu numa
resposta sobre política externa. “Estou convencido de que tanto Ucrânia quanto
Rússia estão esperando alguém de fora para sentar e conversar”, disse Lula,
voluntariando-se para articular uma trégua entre Putin e Zelensky.
Curiosamente, o presidente pareceu mais
confiante no fim da guerra do que na solução de seus problemas domésticos. Num
acesso de realismo, ele admitiu que o Congresso ficou mais conservador e pode
barrar grande parte de suas promessas. “Quando está na oposição, você fala o
que quer. Quando está no governo, você faz o que pode”, resignou-se.
Apesar dos percalços, Lula deixou claro que
está feliz por voltar ao centro do palco. “Como dizia o doutor Ulysses
Guimarães, a política é como o orgasmo para o ser humano. A gente não consegue
viver sem ela”, gracejou.
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