Indicação seria um ‘prêmio de consolação’ para seu partido, o PL, que deve ficar de fora do comando da comissão parlamentar de inquérito que investigará os ataques golpistas de 8 de janeiro
Por Camila Turtelli e Gabriel Sabóia / O
Globo
Maior partido do Congresso, o PL deve
ganhar um “prêmio de consolação” para ficar de fora do comando da CPMI dos
Ataques Golpistas. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), pretende
emplacar um deputado de seu grupo no colegiado que vai investigar os atos de 8
de janeiro. Ao mesmo tempo, deve entregar à sigla do ex-presidente Jair
Bolsonaro a relatoria da CPI que mira nas atividades
do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O mais cotado para o
cargo é o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles (PL-SP).
Já o deputado Tenente Coronel Zucco (Republicanos-RS), autor do requerimento de criação da CPI do MST, deve ficar na presidência. Os dois haviam apresentado pedidos para abertura da investigação e começaram a coletar assinaturas. Salles, contudo, decidiu desistir do seu requerimento para apoiar o de Zucco.
A bancada ruralista, que pressiona para a
instalação da CPI, ainda não fechou acordo sobre os nomes, mas discute apoiar a
indicação de Salles para a relatoria. O ex-ministro de Meio Ambiente de
Bolsonaro integra essa frente parlamentar, uma das mais influentes do
Congresso.
Estratégias em curso
A oposição na Câmara já prepara estratégias
para o avanço da CPI do MST, que tem potencial de incomodar o governo de Luiz
Inácio Lula da Silva. Os petistas são aliados históricos do movimento. O líder
dos sem-terra João Pedro Stédile viajou com Lula à China no início do mês. Uma
das primeiras ações no colegiado, por exemplo, deve ser pedir informações sobre
o fluxo de recursos do MST e a quebra de sigilo bancário de suas lideranças.
A pressão dos ruralistas cresceu após novas
ações do MST no Abril Vermelho, jornada anual de lutas do movimento em prol da
reforma agrária. Em uma delas, no último dia 10, os sem-terra ocuparam a sede
do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Maceió. Os
manifestantes pediam a exoneração de Wilson César de Lira Santos — primo do
presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira — do posto de superintendente
regional do órgão.
Apesar de alguns ministros terem condenado
as invasões, o governo atendeu a reivindicações do movimento ao trocar sete
superintendentes regionais do Incra na semana passada.
Embora a bancada ruralista não tenha
consenso sobre o nome de Salles, quem deverá bater o martelo é Lira, que
prometeu ainda autorizar outras duas CPIs nesta semana — a que vai investigar
as inconsistências bilionárias das Lojas Americanas e suspeitas de manipulação
de resultados em partidas de futebol.
Lira tem trabalhado nos bastidores para que
outra comissão, a CPMI dos Ataques Golpistas, tenha no seu comando um deputado
do seu bloco partidário na presidência. O nome do deputado Arthur Maia
(União-BA) é o mais cotado para assumir o posto, como revelou O GLOBO.
A escolha de um partido de centro, no
entanto, não agrada ao PL. O autor do pedido de abertura da CPMI dos Ataques
Golpistas, André Fernandes (CE), é da sigla e, por tradição, teria direito um
dos cargos de comando do colegiado. Essa escolha, porém, não é regra e depende
de acordo entre os partidos.
Pesa contra Fernandes o fato de ele ser um dos investigados do Supremo Tribunal Federal (STF) no inquérito sobre a autoria dos ataques. A oposição ameaça ir à Justiça para que ele seja considerado suspeito para participar do colegiado.
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