quarta-feira, 26 de abril de 2023

Fábio Alves - A conta do Brexit chegou

O Estado de S. Paulo

A inflação no Reino Unido bateu em 10,1% em março, superando o índice na Zona do Euro

O Reino Unido é a única economia da Europa Ocidental e também entre as sete mais avançadas do mundo onde a inflação desacelerou muito pouco e segue em dois dígitos, o que está fazendo uma parcela cada vez maior da população e de especialistas apontar o Brexit como um dos maiores culpados pela situação.

Em março, o índice de preços ao consumidor do Reino Unido registrou alta anual de 10,1%, enquanto na Zona do Euro a taxa foi de 6,9%. Na Espanha, a inflação anual desacelerou para apenas 3,1%. Nos EUA, a inflação anual foi de 5,0%. No Canadá, a taxa ficou em 4,3%.

É bom lembrar que, em outubro do ano passado, a Zona do Euro registrou alta anual nos preços ao consumidor de 10,6%, maior nível em 40 anos. Nos EUA, isso aconteceu em junho, com uma taxa anual de 9,1%. Desde então, a inflação vem desacelerando com o aperto monetário em curso pelos bancos centrais, a queda no preço do petróleo e a perda de fôlego da atividade econômica.

Todos os países sofreram com a disparada nos preços de energia e de alimentos, primeiro em razão da pandemia de covid e, depois, devido ao impacto da guerra na Ucrânia. Mas por que, então, a inflação se mostra tão persistentemente elevada no Reino Unido? Em março, os preços dos alimentos subiram 19,1%, maior alta em 45 anos.

A busca pelo culpado vem dominando o debate na imprensa britânica. Há quem diga que a persistência da inflação em dois dígitos é porque o desempenho da economia britânica não foi tão fraco como se esperava no primeiro trimestre de 2023, reflexo até de uma taxa de desemprego (3,8%) bem mais baixa do que na Zona do Euro (6,6%). Ou seja, ainda há pressão de demanda apesar de o Banco da Inglaterra estar subindo os juros desde dezembro de 2021.

Mas muitos defendem que o baixo desemprego tem a ver com uma escassez de mão de obra causada justamente pelo Brexit, como ficou conhecida a saída do Reino Unido da União Europeia (UE), que entrou em vigor em janeiro de 2020. O Brexit inibiu o fluxo de trabalhadores vindos de países da UE. Pesquisadores calcularam que, até junho de 2022, esse fluxo foi de 460 mil trabalhadores a menos.

Um mercado de trabalho mais apertado significa maior inflação de salários. Também por causa do Brexit, a volta de barreiras tarifárias e da burocracia dificultou a importação de produtos europeus mais baratos. E, desde então, a libra esterlina desvalorizou-se ante o dólar e o euro, o que pressiona a inflação. Não à toa, a frustração entre os britânicos é grande. Muitos acreditam que estão pagando agora a fatura pelo Brexit.

 

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