sexta-feira, 28 de abril de 2023

Relator do PL das Fake News protocola parecer sem órgão autônomo de fiscalização

Por Marcelo Ribeiro e Raphael Di Cunto / Valor Econômico

Brasília - Relator do projeto de lei (PL) que define regras de combate às fake news, o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) protocolou nesta quinta-feira novo parecer sem a previsão de criação de um órgão autônomo para fiscalizar o cumprimento das novas regras. O tema era considerado polêmico e vinha enfrentando resistência das bancadas partidárias da Câmara.

Após a aprovação do requerimento de urgência na última terça-feira, a expectativa é que o projeto seja apreciado pelo plenário da Casa na próxima semana. O próprio presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), tem defendido a importância de o texto avançar e sinalizou que o colocará para apreciação nos próximos dias.

Em seu novo relatório, Silva abriu mão de propor a criação de uma entidade autônoma de fiscalização, o que vinha sendo apontado por parlamentares de oposição como possível ferramenta de interferência do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na regulação de fake news.

Antes mesmo da divulgação do parecer, o relator já havia adiantado que o trecho não constaria na nova versão por avaliar que, se mantivesse essa questão, o texto não passaria.

“O impacto não foi muito bom. O sentimento da Câmara é que, com essa entidade autônoma de revisão, o projeto não passa”, disse Silva em entrevista à emissoa “GloboNews”. “Nossa decisão é apresentar o parecer para que as bancadas todas conheçam sem a entidade autônoma de supervisão”, completou.

Apesar da retirada desse ponto do relatório, o deputado destaca a importância de o projeto trazer quem ficará responsável por fiscalizar a execução das novas regras. “Nós vamos de hoje até a próxima terça-feira encontrar um caminho que dê segurança, que produza convergências e que nos permita aprovar o texto. Esse tema está na mesa e até terça-feira nós devemos examinar qual será o caminho, porque também se não tiver previamente definido que órgão do estado agirá para que a lei seja cumprida, restará a justiça”.

Com o objetivo de deixar ainda mais claro que as vedações previstas no projeto não afetam a liberdade religiosa, o relator incluiu no parecer que deverá ser respeitado “o livre exercício da expressão e dos cultos religiosos, seja de forma presencial ou remota, e a exposição plena dos seus dogmas e livros sagrados”.

Com o objetivo de barrar o avanço do PL das fake news, opositores da proposta chegaram a divulgar uma interpretação falsa do texto, afirmando que o projeto baniria versículos da bíblia.

Além da questão da liberdade religiosa, o parecer também prevê que as restrições não afetem a liberdade do desenvolvimento da personalidade individual e manifestações artísticas intelectuais, de conteúdo satírico, político, ficcional, literário ou qualquer outra forma de manifestação cultural.

O relatório de Silva ainda estabelece a responsabilização das plataformas por conteúdo ilegal disseminado em seus meios e determina a publicação de relatórios de transparência a cada semestre.

O texto ainda criminaliza a divulgação de conteúdos falsos por meio de contas automatizadas, responsabiliza os provedores pelos conteúdos de terceiros cuja distribuição tenha sido impulsionada por pagamento e determina a retirada imediata de conteúdos que violem direitos de crianças e adolescentes, além de determinar que provedores sejam representados por pessoa jurídica no país.

A proposta também estabelece que as empresas de tecnologia paguem veículos jornalísticos por seus conteúdos. Amplia ainda a imunidade parlamentar às redes sociais, ponto que agrada a maioria dos parlamentares.

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