sexta-feira, 28 de abril de 2023

Eliane Cantanhêde - A história e os fatos condenam

O Estado de S. Paulo

Oposição bolsonarista vai focar no 8/1, mas governo lulista vai buscar a história do golpe

A oposição bolsonarista fez tudo para criar a CPI dos atos golpistas e o governo lulista fez tudo para impedi-la, mas jogou a toalha depois dos vídeos da displicência do general Gonçalves Dias, então no GSI, diante dos bandidos que invadiram e quebraram o Planalto. Esses vídeos reforçam a narrativa bolsonarista contra a inação do governo, mas, ao mesmo tempo, põem no alvo os generais do círculo íntimo de Jair Bolsonaro e o próprio Bolsonaro.

O resultado tende a ser óbvio e claramente a favor do governo Lula, porque será mais difícil transformar a vítima Lula em culpado pela invasão dos três Poderes, o que não é minimamente crível, e bem mais fácil aprofundar culpas e responsabilidades dos bolsonaristas, do antigo governo e do próprio ex-presidente.

O objetivo dos bolsonaristas é focar no 8 de janeiro, com milhares de vândalos depredando as sedes de Executivo, Legislativo e Judiciário, tentando convencer os incautos da internet de que a culpa foi do governo Lula, que mal completava uma semana e não tinha nada a ganhar com o circo de horrores.

Já a estratégia do governo e seus aliados é buscar a história do golpe, suas motivações, líderes e financiadores, muito antes daquele domingo, aprofundando as investigações do Supremo. “O 8 de janeiro é só o desfecho”, resume o senador

Renan Calheiros, que foi relator da CPI da Covid e terá assento na dos atos golpistas.

Assim, a oposição vai mostrar ofícios da véspera (por exemplo, da Polícia Federal), alertando para a chegada de milhares de militantes bolsonaristas a Brasília e a ameaça de invasão de prédios públicos, como acabou ocorrendo. A tentativa é responsabilizar o governo Lula por não ter se preparado para o tamanho e a gravidade da tentativa de golpe.

Sim, e daí? Daí nada, porque os fatos remetem à história militar e política de Jair Bolsonaro e a seus atos, falas e motociatas já na Presidência, como também às provocações de seus filhos, ministros, empresários e militares aliados. Como diz o editorial do nosso Estadão, “sem Bolsonaro, não haveria o 8 de janeiro”. Tudo foi em nome e em favor dele.

Os generais bolsonaristas são personagens-chave em todo o governo Bolsonaro, nas vésperas e no próprio dia 8/1. A oposição mirou no que viu e acertou no que não viu: trouxe G. Dias e assim atraiu para a CPI os generais Braga Netto, Augusto Heleno e Luiz Eduardo Ramos, que devem estar uma fera com os bolsonaristas. Entraram numa fria, sem poder alegar que tomaram morfina, como Bolsonaro, nem que estão deprimidos, como o homem bomba, Anderson Torres.