Valor Econômico
Ao atacar o Banco Central, presidente
destrói o sistema de metas de inflação
O governo Lula não apresentou um plano de
voo suficientemente claro para dirimir as dúvidas sobre o futuro. Ele fez uma
clara opção pelo gasto através do Estado e por mecanismos de transferência de
renda para as camadas mais pobres. Essa segunda parte é um imperativo e
trata-se de uma escolha política. O problema é como fazer e, com isso, o
presidente produziu custos que não precisava. Já era para a taxa de juros estar
menor, o câmbio mais calmo e a bolsa de valores subindo. Isso não aconteceu
porque ficou um conjunto de interrogações sobre como Lula pretende conduzir os
quatro anos de governo.
Uma das principais exigências para o bom
ambiente econômico é a visibilidade com relação ao futuro. Todos os dias o
presidente ataca o Banco Central, por manter a taxa básica de juros em 13,75%
ao ano, e diz que não ataca. É legítimo que os agentes econômicos pensem se vai
ter ou não mais inflação no futuro. “Com essa simples atitude, ele destrói o
sistema de metas para a inflação”, avalia o diretor de um grande banco.
“Ah, mas a taxa de juros está muito alta”, argumenta Lula. “Está alta mesmo e isso é consequência das nossas escolhas”, atesta a fonte.
Um exemplo de como as escolhas que fizemos,
nos últimos 40 anos, foram erradas é que em 1980 as exportações do Brasil, da
Coreia e da China eram de cerca de US$ 25 bilhões. Hoje elas são de pouco mais
de US$ 500 bilhões na Coreia, de US$ 2,5 trilhões na China e de US$ 250 bilhões
no Brasil. Aqui, estão concentradas em grãos e commodities metálicas, enquanto
que a matriz das exportações da Coreia e da China é muito mais diversificada.
Quanto à taxa de juro, ao contrário do que
revela o senso comum, não interessa aos bancos que ela seja elevada. Isto
porque quanto mais alta estiver, maior será a inadimplência e menor a oferta de
crédito, segundo o diretor. É preferível ganhar no volume do crédito a uma taxa
de juros menor. “Ou você acha que é bom levar uma pancada como levamos da Lojas
Americanas?” Nesse caso, porém, houve fraude. “Mas só quando os juros estão
elevados é que se opta por fraudar”, assegura.
É essencial, para o governo, que o PIB
cresça. E o PT entende que o crescimento se dará pela expansão da demanda, o
que seria possível por aumento da renda ou do crédito. Este ano o crescimento
da economia ficará em torno de 1%, o que é muito pouco para as necessidades
sociais e políticas do país.
Além do que há alguns movimentos
esquizofrênicos. Ao mesmo tempo que o governo quer aumentar o crédito, no fim
do dia ele toma medidas que reduzem a oferta de crédito. Até de uma forma
legítima, pois ele está preocupado com o nível de endividamento das famílias.
“Enquanto acreditarmos que a economia
funciona na base de estímulo da demanda, não vamos crescer de forma
sustentável” salienta o diretor. Quase 80% do que o governo arrecada volta para
a economia sob a forma de transferências, sem contrapartida da produção. “ É
como se estivéssemos tentando correr com um peso nas pernas”, reforça ele, que
completa: “Ficamos presos na armadilha da nossa péssima distribuição de renda”.
Mas não temos convulsão social, dirá o governo.
“É verdade. A sociedade construiu uma rede de apoio, seja com recursos
privados, seja com transferências públicas”, acrescenta a fonte.
O auxílio de R$ 600 será de pouca ajuda
para o crescimento. O problema é a produtividade associada a esse pagamento.
“Sem aumento da produtividade não há crescimento de forma sustentável”, atesta
ele.
De 1900 a 2022 vê-se, com clareza, dois
períodos no país: de 1900 a 1980 e de 1980 até os dias atuais. Se a economia
brasileira, com as escolhas que a sociedade fez, tivesse conseguido manter o
crescimento per capita da primeira fase, teríamos um PIB per capita entre duas
vezes e meia a três vezes maior. Para ter uma ideia da diferença que isso faz,
a economia americana cresce a produtividade em cerca de 2% ao ano há uns 200
anos.
Haveria à disposição da sociedade
brasileira um conjunto diferente de escolhas, desde que não se desconheça a
enorme massa da população de baixa renda que tem o país. “Há deficiência na
educação”, alguém vai comentar. A pergunta é por que não fomos capazes de mudar
a educação.
Nos últimos 30 a 40 anos as despesas
públicas cresceram sistematicamente e a capacidade de investimento do Estado
praticamente chegou a zero. Aí entra o governo Lula e dispensa o dinheiro do
setor privado para investir. “É uma coisa de louco!”, comenta o diretor. Essa
foi a mensagem que Lula deixou quando resolveu que não faria mais privatizações
e quer retomar a Eletrobras para o Estado. Aparentemente, ele acredita que na
mãos do Estado a tarifa de energia seria menor, desconhecendo que foi por estar
nas mãos do Estado que o investimento do setor elétrico foi menor do que o
necessário para se cobrar uma tarifa menor.
Crescimento não é uma ferramenta. É
consequência das escolhas feitas.
“Temos um canteiro de obras por fazer no
Brasil que deve ser maior do que o da China”, diz um economista da área
financeira.
Os Estados Unidos têm uma capacidade de
armazenar 80% da produção de grãos enquanto que no Brasil esse percentual é de
somente 5%, o que impede que o produtor, aqui, possa ter uma estratégia de
maximizar seu ganho, cita ele, a título de exemplo de como é necessário
investir mais no país, isto para não mencionar toda área de infraestrutura de
rodovias, ferrovias, dentre outras.
É o investimento na ampliação da oferta de
bens e serviços que vai sustentar taxas mais generosas de crescimento da
economia.
O pior é que o investidor estrangeiro está
aguardando maior clareza do governo para decidir se vem para o Brasil, segundo
uma fonte que acompanha de perto essa movimentação.
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