terça-feira, 23 de maio de 2023

Pedro Cafardo - Os dez maiores economistas brasileiros, segundo a IA

Valor Econômico

Saiba também quem seriam os cinco maiores economistas da atualidade no mundo

Quais são os dez maiores economistas brasileiros de todos os tempos? A pergunta foi feita pelo colunista no dia 8/5 ao ChatGPT, site de inteligência artificial (IA) que dialoga com humanos. E o número 1 da lista foi Celso Furtado, considerado pela IA como “um dos mais importantes pensadores do desenvolvimento econômico do país”.

Antes de dar a lista, o site fez a ressalva de que a indicação dos maiores economistas pode variar de acordo com os critérios utilizados. E apresentou, em segundos, os dez que, em seu entendimento, são “frequentemente reconhecidos por sua contribuição para a economia brasileira ao longo do tempo”. O ranking abaixo e os minicurrículos são do ChatGPT:

1. Celso Furtado - considerado um dos mais importantes pensadores do desenvolvimento econômico do Brasil.

2. Roberto Simonsen - foi um dos fundadores da Escola Superior de Economia e Administração (ESEA) da FGV [nota da coluna: ele participou do grupo que criou a Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, a FESPSP]. Defendia a industrialização do país.

3. Mário Henrique Simonsen - professor da FGV e ex-ministro da Fazenda, é reconhecido por suas contribuições para a teoria econômica e para a política econômica do país.

4. Maria da Conceição Tavares - conhecida por sua teoria do desenvolvimento econômico e defesa da industrialização.

5. Ignácio Rangel - citado por seu trabalho em teoria econômica e pela defesa do planejamento.

6. Fernando Henrique Cardoso - foi presidente do Brasil e é conhecido por suas contribuições para a sociologia e para a economia política do país.

7. Luiz Gonzaga Belluzzo - indicado por suas contribuições para a teoria econômica e por sua atuação como presidente do BNDES [Belluzzo nunca presidiu o banco].

8. João Paulo dos Reis Velloso - foi ministro do Planejamento e é conhecido por seu trabalho na área da política econômica do país.

9. Delfim Netto - foi ministro da Fazenda e contribuiu para a política econômica do país.

10. Paulo Nogueira Batista Jr. - reconhecido por suas contribuições para a teoria econômica e por sua atuação como diretor-executivo do FMI.

A mesma pergunta, feita pelo colunista novamente no sábado (20/5), 13 dias depois da primeira, obteve resposta bem diferente. O Chat manteve Celso Furtado em primeiro lugar, mas trocou cinco economistas da lista dos dez. Tirou do time FHC, que não é economista, Inácio Rangel, Roberto Simonsen, também não economista, Delfim Netto e Belluzzo. E incluiu Edmar Bacha, André Lara Resende, Gustavo Franco, Bresser-Pereira e Roberto Campos. O ranking ficou assim:

1. Celso Furtado.

2. Roberto Campos, o avô do atual presidente do Banco Central e o colocou equivocadamente entre os formuladores do Plano Real.

3. Maria da Conceição Tavares.

4. Mário Henrique Simonsen.

5. Edmar Bacha, um dos formuladores do Plano Real.

6. Paulo Nogueira Batista Jr.

7. André Lara Resende.

8. João Paulo dos Reis Velloso.

9. Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central.

10. Luiz Carlos Bresser-Pereira.

Por que, em 13 dias, a inteligência artificial teria mudado tanto sua opinião? O colunista perguntou ao próprio site: “O Chat tem opinião própria?”. A resposta foi “não”, com a explicação de que o sistema é projetado para gerar respostas com base nas informações que recebe utilizando o que chama de “rede neural profunda” para processar a entrada de textos e gerar uma saída que se assemelha à resposta que um ser humano daria.

O que seria essa “rede neural profunda”? O Chat explica: trata-se de uma rede de neurônios artificiais treinados para reproduzir, sem precisar de programação detalhada, o funcionamento do cérebro humano.

Quais os critérios utilizados pelo GPT para as respostas? Elas levam em conta o perfil do usuário que faz a pergunta? “Não, elas são baseadas em informações gerais, não levam em consideração o perfil específico do usuário e não usam algoritmos. Procura-se oferecer respostas objetivas e imparciais com base em conhecimentos adquiridos durante o treinamento do modelo.”

Apesar dessa declaração de objetividade e imparcialidade, percebe-se claramente no primeiro “ranking” a presença esmagadora de pensadores desenvolvimentistas, grupo no qual talvez apenas Mario Simonsen não possa ser incluído. Na segunda lista, há mais liberais.

Os melhores do mundo

O colunista também perguntou ao ChatGPT quais seriam os cinco maiores economistas da atualidade no mundo. Com a mesma ressalva de que a escolha “é subjetiva e pode variar de acordo com os critérios utilizados”, a IA indicou os nomes instantaneamente e elaborou os seguintes minicurrículos:

1. Paul Krugman - americano e professor na Universidade de Nova York [ele é atualmente professor de Princeton], ganhador do Nobel de Economia em 2008.

2. Esther Duflo - francesa, professora do MIT e cofundadora do Abdul Latif Jameel Poverty Action Lab (J-PAL). Ganhou o Nobel de Economia em 2019 por seu trabalho em economia do desenvolvimento e pesquisa sobre a pobreza.

3. Joseph Stiglitz - americano, professor da Universidade Columbia e ganhador do Nobel de Economia em 2001 por seu trabalho em teoria da informação e mercados com assimetria de informações.

4. Thomas Piketty - francês, professor da Escola de Economia de Paris e autor do livro “O Capital no Século XXI”. Aborda temas como desigualdade de renda e riqueza.

5. Amartya Sen - indiano, professor de Harvard e ganhador do Nobel de Economia em 1998 por seu trabalho em teoria do bem-estar e desenvolvimento humano.

Os cinco maiores economistas do mundo atual escolhidos pela IA são progressistas/heterodoxos. Entre os dez do ranking brasileiro, nove são ou foram desenvolvimentistas na lista do dia 8 e apenas cinco na de 13 dias depois.

Será que seus textos reproduzem mesmo o funcionamento do cérebro humano? Quais cérebros? Um crítico bolsoneoliberal bem-humorado, o que é raro, diria que o ChatGPT é suspeito por causa das duas letras finais de seu nome. Humor à parte, é possível observar, pelo menos, que a inteligência artificial é volúvel. Como a humana.

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