O Globo
Primeiro, é preciso saber quais são as
propostas. Segundo, quando se sabe, qual prevalece. E terceiro, quem será
nomeado para tocar as coisas
No início deste mês, dava-se como certo que
a ministra do Turismo, Daniela Carneiro, seria demitida nesta semana. Não foi.
Na próxima, o presidente Lula vai
para a Europa, de modo que a ministra, também deputada federal pelo Rio, pode
ganhar mais alguns dias, se escapar neste final de semana. Estaria o governo
avaliando a política para o turismo? Teria a ministra fracassado em apenas
cinco meses de governo?
Ingenuidade.
Há uma intensa discussão sobre o futuro desse ministério, mas ninguém, entre amigos e adversários da deputada, fala sobre programas para desenvolver o turismo interno ou para atrair mais estrangeiros para este belo país.
Tem mais. Daniela Carneiro integra o grupo
político liderado por seu marido, prefeito de Belford Roxo, o Waguinho. O
casal, com ligações à direita, apoiou Lula nas últimas eleições — e o
presidente é muito grato. Logo, se a questão não tem nada a ver com turismo,
tem muito a ver com a compensação que se dará ao grupo de Waguinho. Algo numa
área parecida? Algo a ver com viagens? Aeroportos? Nada. Especula-se que o prefeito
e sua mulher estejam interessados na gestão dos serviços de saúde do Rio. Mais
exatamente, nos grandes hospitais federais. São cinco grandes. Problema: estão
sob controle do PT.
De novo, não se fala de políticas para
melhorar a eficiência dos hospitais, reduzir as filas de espera, coisas assim.
Nos bastidores da disputa, comenta-se que essa área da saúde tem mais
capilaridade e, sobretudo, muito mais verbas, contratos de prestação de
serviços, compra de equipamentos e medicamentos. (Aliás, como registrou
Bernardo Mello, do GLOBO, dois diretores desses hospitais, indicados pelo PT,
já foram exonerados, depois de reportagens do jornal e da TV Globo, levantando
questões de administração.) Repararam? A ministra tem apenas cinco meses de
gestão. Os diretores, nem isso. Não daria para avaliar nenhuma política séria.
Na última reunião ministerial, Lula disse a
seus auxiliares que não queria mais saber de ideias novas, mas da aplicação de
propostas já definidas. Quem tem propostas? O ministro Fernando Haddad, certamente.
Tem conseguido desenvolver seus programas, mas não sem enfrentar surpresas
dentro do próprio governo. Ele vinha repetindo que seu objetivo é reduzir os
incentivos fiscais, quando o vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo
Alckmin, anunciou um programa de concessão de incentivos para a indústria
automobilística. Haddad ainda se salvou de uma goleada feita de gols contra.
Conseguiu limitar o programa de Alckmin, mas teve de entregar algumas centenas
de milhões de reais.
A questão dos incentivos aparece em dois
temas cruciais para o governo e para o país: a reforma tributária e o arcabouço
fiscal. Qual linha prevalecerá? É a pergunta que se fazem senadores e
deputados. Na verdade, uma questão mais ampla: o governo e suas bases apoiam
que projeto de reforma dos impostos? São dilemas que prejudicam o funcionamento
do governo. Primeiro, saber quais são as propostas. Segundo, quando se sabe,
qual prevalece. E terceiro, o mais importante, quem será nomeado para tocar as
coisas.
Considerem a disputa aberta entre
ambientalistas e desenvolvimentistas. Estes querem os investimentos na
indústria do petróleo, incluindo a exploração do óleo na Margem Equatorial, ao
longo da foz do Amazonas, e na construção de ferrovias e estradas, de apoio ao
agronegócio, que passam pela Amazônia. Ora, a preservação da floresta é
compromisso firme de Lula, local e internacional. E os ambientalistas,
liderados por Marina Silva, demonstram muita firmeza. Parece que o presidente
tentará conciliar as posições.
Muitas escolhas precisam ser feitas, e
logo. O governo está para anunciar uma nova versão do Programa de Aceleração do
Crescimento — e ali deverão constar os investimentos e financiamentos
prioritários. Aí veremos. Aliás, saberemos também o nome. PAC lembra Dilma. E
está meio queimado. É outro dilema. O de menos.
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