O Globo
Nas eleições presidenciais, é comum que um
candidato saia vitorioso muito mais pela fraqueza do adversário do que pelo
vigor de sua proposta. Em 2022 e em 2018, as vitórias de Lula e de Bolsonaro
deveram-se mais à vulnerabilidade do derrotado. No ano passado, houve mais
votos contra Bolsonaro do que a favor de Lula. Na eleição anterior, havia
acontecido o contrário com Bolsonaro. Ele prevaleceu, ajudado muito mais por um
sentimento antipetista do que por suas ideias, que eram poucas e confusas.
O primeiro ano de mandato de Lula está para
terminar, com um desempenho que cultiva a agenda negativa. A situação da
economia e as amarras políticas dificultam-lhe a agenda positiva, mas uma certa
autoconfiança típica de quem está no poder, mostra-se como fonte alimentadora
do voto contra.
Dois episódios recentes:
Primeiro, a classificação dos crimes de guerra de Israel em Gaza como atos ‘terroristas”. Para um presidente que assumiu com áulicos sonhando em levá-lo ao Prêmio Nobel da Paz, da Venezuela à Ucrânia, Lula atravessou continentes para escorregar em cascas de bananas. Na guerra de Israel contra o Hamas, uma frase palanqueira, desperdiçou o prestígio adquirido pela diplomacia brasileira no Conselho de Segurança da ONU.
Num segundo caso, o governo transformou uma
limonada em limão com o episódio dos acessos de Madame Tio Patinhas aos
escalões do Ministério da Justiça.
Indo-se aos fatos: em março passado a
senhora, mulher de um chefe do Comando Vermelho, visitou hierarcas e, na manhã
de segunda-feira da semana passada, ela foi exposta. À tarde, o Ministério da
Justiça mudou o seu protocolo de acesso a autoridades.
Houve um erro e foi corrigido. Seria o
prenúncio de uma agenda positiva. Desde então, contudo, marchou-se heroicamente
em busca de uma agenda negativa. Quem reclama é fascista, a madame tinha o
direito de apresentar seus pleitos humanitários, inclusive com passagens pagas
pela Viúva.
A segurança pública se tornou um assunto
relevante na agenda nacional, e as mazelas da Bahia tisnam o desempenho dos
governos petistas do Estado. Até agora o Planalto respondeu com planos
ambiciosos e notoriamente fracassados. Talvez possam dar certo, mas chamar de
fascista quem critica a ida de Madame Tio Patinhas aos gabinetes do Ministério
da Justiça serve apenas para levar água ao monjolo da agenda negativa que já
serviu de semente para o bolsonarismo.
Americanas
Pode sair nos próximos dias um princípio de
acordo da rede varejista Americanas com quase todos os bancos com a qual está
encrencada.
Os três acionistas preferenciais, Jorge Paulo
Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, colocam R$ 12 bilhões na
empresa e os bancos renegociam outro lote, de cerca de R$ 12 bilhões.
O Bradesco, um dos grandes credores, já tinha
suspendido o litígio judicial.
Teste diplomático
A diplomacia israelense caminha para um
teste. Depois de ter colaborado de alguma forma para o repatriamento de 32
brasileiros, seu governo levou uma cotovelada de Lula ao recebê-los em
Brasília.
Estima-se que ainda haja cerca de 50
brasileiros querendo retornar, e o governo, que já trouxe de volta mais de mil
cidadãos, vem oferecendo toda a ajuda possível, com apoio diplomático e
transporte. (O Japão e a Inglaterra cobraram pelos voos.)
Resta saber qual será a extensão da boa
vontade de Israel. Afinal, são pessoas que nada têm a ver com as extravagâncias
verbais de Lula.
Eremildo, o idiota
Eremildo é um idiota e acha que os juízes
deveriam ter 12 meses de férias.
O cretino entendeu que os magistrados
federais são os únicos brasileiros que padecem de uma sobrecarga de trabalho.
Nada mais justo que lhes fosse concedido pelo Conselho Nacional de Justiça o
benefício de um dia de folga para cada três trabalhados. Imaginando-se um juiz
federal que desempenha uma função adicional durante 90 dias, ele teria direito
aos dois meses de férias regulamentares, mais um terceiro mês de descanso.
Eremildo encantou-se com um dispositivo do
mimo: os dias de folga podem ser trocados por dinheiro.
Até aí seria um caso de pagamento de horas
adicionais eventualmente trabalhadas. Contudo, os magistrados terão direito à
remuneração mesmo durante os dois meses de férias regulamentares.
Ocorreu mais uma vez a Eremildo que os
magistrados passem a reivindicar o pagamento de seus serviços pela pauta de
Polichinelo.
Contratado para receber R$ 1 mil por dia, ou
R$ 5 mil por semana e R$ 20 mil por mês, ele queria receber R$ 1 mil por dia,
R$ 5 mil ao fim das semanas e R$ 30 mil no final dos meses. Como Polichinelo
era um bobo, não havia pensado nas férias.
Novembro de 1963
Hoje, há 60 anos, o povo de Dallas soube o
percurso da caravana do presidente Kennedy. No dia 22 ela passará debaixo do
edifício onde trabalha Lee Oswald. Jacqueline Kennedy escreveu para um amigo
que irá com o marido ao Texas: “Vou detestar cada minuto.”
No Brasil, a falecida revista Manchete chegou
às bancas com uma entrevista do presidente João Goulart na qual ele ameaçou:
“Não tenho a menor dúvida de que, a continuar
como vamos, o caos poderá sobrevir — e a todos atingirá, indistintamente. (...)
A palavra revolução deixou de ser um fantasma abstrato.”
Kennedy chegaria a Dallas na manhã do dia 22.
Nesse dia aconteceriam três reuniões. Uma em Nova York, com a equipe da revista
Life que investigava os negócios milionários do vice-presidente Lyndon Johnson.
Outra no Senado, em Washington, onde uma comissão ouviria uma testemunha das
malfeitorias de Bobby Baker, o faz-tudo de Johnson ao tempo em que ele era o
poderoso líder da maioria Democrata na casa. (O vice sabia que estava sendo
investigado. Na véspera da chegada do presidente a Dallas, disse a um assessor:
“Meu futuro ficou para trás. Estou acabado.”)
A terceira reunião aconteceria num hotel de
Paris. Nela, o chefe da seção de operações especiais da Central Intelligence
Agency encontraria o major do Exército cubano Rolando Cubela, que pretendia
matar Fidel Castro.
No dia 22 circulou no Departamento de Estado
o primeiro projeto do Plano de Contingência para o Brasil, pedido em outubro
pelo embaixador americano Lincoln Gordon. Era um documento classificado como
Top Secret, e o responsável pelo Brasil na chancelaria, remeteu-o ao secretário
de Estado Assistente para Assuntos Hemisféricos, observando que ele oferecia
três alternativas, “com forte ênfase numa intervenção militar americana.”
Na véspera, Lee Oswald pediu a um vizinho que lhe desse uma carona para ir buscar em casa um suporte de cortinas de seu banheiro. Era o fuzil Mannlicher–Carcano com pontaria telescópica que havia comprado em março e que tinha usado sem sucesso em abril para matar um general reservista de extrema direita.
3 comentários:
Intervenção militar americana? Nãããão! Americano é democrata bonzinho...
■O Estado Norte-americano...
...É DEMOCRÁTICO!
Ponto final.
■Seja o que for que aconteça nos Estados Unidos e o seu povo e o povo do mundo saberá pela imprensa livre.
=》NADA será escondido, afora certos segredos de Estado que precisam ser protegidos, mas nunca pessoas.
■A vida norte -americana não sofrerá constrangimentos para evitar que os fatos sejam apurados e divulgados, muito menos seus jornais e seus jornalistas.
Aqui, com a imprensa --jornais e jornalistas-- exemplares que temos, os fundamentalistas petistas e bolsonaristas constrangem a todos todo o tempo, querendo impor aos nossos bons jornalistas edulcorantes às lamentáveis realidades que criam.
O que eles, os bolsonaristas e lulistas fundamentalistas, apoiam são ditaduras que m.a.t.a.m jornalistas e opositores.
O sistema eleitoral é que não é nada democrático.
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