O Estado de S. Paulo
Desde a reunião de junho, a economia avançou, e até corte de 0,5 ponto passou a ser justificável
A maioria dos economistas está apostando
numa queda de 0,25 ponto porcentual da taxa Selic, para 13,50%, ao fim da reunião
de hoje do Copom, mas uma parcela nada desprezível dos analistas acredita que o
corte de juros será mais agressivo, de 0,50 ponto, como quer o governo Lula.
Na ata da sua última reunião, em junho, o
Copom sinalizou para a decisão de hoje o início de “um processo parcimonioso”
de afrouxamento monetário, o que o mercado interpretou como um corte mais
cauteloso, de 0,25 ponto. Todavia, desde essa última reunião os fundamentos
melhoraram a ponto de uma redução mais agressiva, de 0,50 ponto, ser completamente
justificável.
De lá para cá, a inflação corrente registrou importante desaceleração, em particular do seu núcleo, em direção ao limite superior da meta perseguida pelo Banco Central; as expectativas inflacionárias para 2023 e 2024 seguiram caindo; e o dólar teve queda relevante, de R$ 4,85 para ao redor de R$ 4,75. Além disso, os indicadores recentes mostram que a demanda doméstica já está sentindo o impacto de todo o aperto da política monetária até agora.
A questão, portanto, não é o Copom já
começar o ciclo de corte da Selic com uma redução de 0,50 ponto, como o governo
quer. Mas como um corte dessa magnitude será comunicado. Ou seja, como o Copom
irá sinalizar seus próximos passos, restando mais três decisões sobre taxa de
juros até o fim do ano. Se, além da redução de hoje de 0,50 ponto, o Copom
sinalizar que o ritmo de corte de juros seguirá o mesmo nas outras três
reuniões, numa queda de 2 pontos porcentuais da Selic até o fim do ano, o
mercado poderá avaliar que esse afrouxamento da política monetária está
corroborado pelo balanço de riscos da inflação.
O problema será se o Copom sinalizar que o
ritmo de redução da Selic poderá ser acelerado para 0,75 ponto nas próximas
reuniões. Isso poderá acontecer, inclusive, se houver já votos dissidentes nesta
reunião para um corte até mais agressivo. Não seria uma surpresa se os novos
diretores Gabriel Galípolo (Política Monetária) e Ailton Aquino (Fiscalização),
indicados pelo governo, surgirem como vozes dissidentes, caso a decisão seja
por um corte de apenas 0,25 ponto ou até mesmo de magnitude maior.
Um ritmo de redução da Selic de 0,75 ponto
nas reuniões restantes do Copom poderá ser mal recebido, causando, entre outras
coisas, enfraquecimento do câmbio, ao deixar o diferencial de juros com os
Estados Unidos, por exemplo, menos atraente, além de prejudicar o controle das
expectativas de inflação no médio prazo.
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