Posicionando-se
como herdeiro das lutas libertárias do nosso povo, as quais tiveram, em
diferentes períodos, no decorrer do século XX, a participação decisiva dos
anarquistas, dos socialistas e dos comunistas, o Cidadania23 tem consciência,
contudo, de que vivemos um momento historicamente novo, o qual se pauta pela
emergência de novos campos de reflexão e de luta.
As mudanças na
esfera produtiva, com os avanços possibilitados pela automação, a inteligência
artificial e o trabalho por conta própria, já deixam marcas profundas na nossa
maneira de fazer política.
Se o movimento anarquista correspondeu a uma fase da organização da indústria, mais artesanal, e o movimento comunista representava a fase da indústria pesada, com uma maior separação entre o capital e o trabalho, hoje entramos em uma nova era industrial ou até mesmo pós-industrial, com ênfase na sociedade do conhecimento e no trabalho imaterial. Somos Cidadania!
O Cidadania é um
movimento em diálogo permanente com a sociedade, transformando e se
transformando na luta por uma nova hegemonia política que assegure a ampliação
e consolidação da democracia brasileira na busca de uma nova economia, com
inclusão social, preservadora do meio ambiente e dos nossos valores culturais,
os valores do Humanismo.
É natural que
uma outra política se faça necessária, a partir das transformações que se
operam na base material da nossa sociedade. O mundo do trabalho, o mundo da
cultura e a Democracia formam o tripé da nossa atuação política renovada.
O Cidadania23
entende a Democracia como um valor civilizatório, com desdobramentos nos
terrenos econômico, social e institucional. Ou seja, a Democracia como meio e
como fim. Alguns setores revelam mais sensibilidade na abordagem da Democracia
econômica, outros avançam mais na compreensão da Democracia social ou política.
Mas o chão
democrático comum pode uni-los. E a linha divisória se dá entre Democracia e
Autoritarismo. Ou, se preferirmos, entre Civilização e Barbárie.
Cumpre um papel
importante neste processo de retomada da Democracia o pleno entendimento do que
o Estado representa de fato na vida contemporânea. Este entendimento repousa em
dois pilares. De um lado, é preciso afirmar sempre sua dimensão pública,
lutando contra a sua privatização ou submissão a interesses particulares.
De outro, é
necessário que o Estado se submeta, aí sim, aos interesses maiores da
sociedade. A esfera pública só assim poderá ser realmente contemplada. Um
partido político contemporâneo tem que ser o representante da sociedade no
Estado e não o contrário.
Mais: a
contradição não se dá entre Estado e mercado, mas entre capital e interesse
social. O conteúdo público de uma determinada propriedade é dado não por seu
caráter formal, mas por sua gestão. Estatização não é sinônimo de socialismo, nem
mercado sinônimo de capitalismo.
O mundo está em
acelerada transformação. As fronteiras entre as classes sociais, os modos de
vida se deslocam constantemente, assim como se alteram a nossa visão de mundo e
a relação do homem com a natureza. Daí a necessidade imperiosa de alinharmos
alguns eixos de ação, a saber:
a) exame do
desenvolvimento atual das forças produtivas, com foco na automação, na
inteligência artificial, no empreendedorismo e na nanobiotecnologia;
b) análise dos
impasses atuais impostos ao meio ambiente e à sobrevivência da espécie humana;
c)
aprofundamento do conhecimento da cultura brasileira e internacional
(regionalismo, dimensão identitária, miscigenação, papel da contra elite
cultural, a contribuição ou presença feminina, a relação com as instâncias
institucionais);
d) e, por fim,
estudo permanente e acurado da Democracia, entendida como uma conquista da
própria Humanidade.
Repensar, em
suma, o caráter de massas da Democracia, democratizar a própria Democracia,
afinando os instrumentos de representatividade, nos quais têm um valor central
o trabalho colegiado e a rotatividade em todas as esferas do poder.
Um denominador
comum possível talvez seja a cidadania. Seu vínculo com o mundo do trabalho
pode ser feito por intermédio da Constituição. Sua ligação com cada um de nós,
individualmente falando, pode ser realizada por meio das lutas identitárias,
incluindo aí a cultura como pertencimento. Seu elo com as liberdades pode se
dar pela defesa dos direitos de ir e vir das pessoas.
A cidadania pode
ser o grande fator estruturante da participação popular pelas mudanças. Ela
perpassa o sistema de classes; como conquista do processo civilizatório não é
monopólio de classe alguma. É um patrimônio de todos. A lógica do lucro atinge
a toda a sociedade, e não apenas a quem nela trabalha. A cidadania, nesse
sentido, concerne a todos os membros dela. É unificadora das mais diferentes
sensibilidades.
A luta social
ensina que precisamos de duas grandes ferramentas. São elas um programa e o
instrumento para sua colocação em prática. A reflexão e a ação, dialeticamente
irmanadas.
O Cidadania23 é
motivo de orgulho para quem quer fazer política de alto nível, num país em que
a atividade política não é praticada como deveria, sobretudo por não levar em
conta os interesses maiores da sociedade.
Em toda a nossa
rica e longa trajetória, oriundos que somos do Partido Popular Socialista e do
Partido Comunista Brasileiro, cujo centenário ocorreu há um ano, nós nos
reinventamos sempre que a realidade nos coloca esta necessidade, sempre
agregando personalidades e cabeças pensantes de relevo nas ciências (sobretudo
sociais e políticas), na cultura e nas atividades sociais e políticas,
particularmente homens e mulheres que desejam um Brasil melhor e para todos, e
não apenas para uma minoria.
Nesta nova
realidade, somos o partido que primeiro se articulou com os movimentos sociais,
surgidos de atividades organizadas através das redes sociais, particularmente
as engajadas nas tecnologias modernas da internet, como o WhatsApp.
Além do mais,
objetivando bons resultados para os brasileiros, estamos abertos ao diálogo com
todas as forças políticas, evidentemente que não com as que defenderam o
Governo Bolsonaro e sua postura antidemocrática contra as instituições e seus
membros.
Destaque-se que
nenhum grupo politico fez mais por este país do que o nosso partido, de que é
exemplo o seu permanente empenho na defesa da democracia e de oportunidades
iguais para todos. Exemplo maior nesse sentido foi sua batalha para que fosse
feita uma Reforma Agrária no país.
Para tanto, teve
a iniciativa de estimular e colaborar para a criação de sindicatos rurais, por
todo o território nacional. Foi também o principal responsável pela criação da
União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil (Ultab), em 1961,
assim como da fundação, em 1963, da Confederação Nacional dos Trabalhadores da
Agricultura (a famosa Contag).
A campanha O
Petróleo é Nosso, um dos maiores e mais consequentes movimentos de massa a
dominar as ruas do país, teve apoio decisivo nosso. Isso desde meados dos anos
40 e que se tornou vitorioso, em outubro de 1953, quando o presidente Getúlio
Vargas criou a Petrobras – Empresa Brasileira de Petróleo.
A luta
sistemática e permanente em defesa da mulher, dos seus direitos e evitando-se
que ela seja escanteada do seu espaço político natural, também começou por
iniciativas de nosso partido, nas primeiras dezenas do século passado.
Ressalte-se que
uma das maiores ativistas do Bloco Operário Camponês seria Rosa de Bittencourt,
que trabalhava como tecelã em Petrópolis e representaria a mulher brasileira no
Congresso Mundial da Mulher, em 1930, na antiga União Soviética. Rosa foi a
primeira mulher a aderir ao Partido, ainda em 1922.
Era um período
de grande efervescência social e as mulheres não permaneciam alheias a isso.
Havia uma dedicação total ao PCB. Uma dessas mulheres, Laura Brandão, poetisa
alagoana, vivendo à época no Rio de Janeiro incorporou-se, em 1925, ao lado de
Astrojildo Pereira e Otávio Brandão, ao comitê de redação do jornal A Classe
Operária.
Desde os anos
30, seus militantes participam da luta na defesa dos índios e tiveram papel
central na demarcação e preservação das terras indígenas, atuando em estreita
ligação com o marechal Candido Rondon e os irmãos sertanistas Villas-Boas, na
primeira metade do século passado.
O Partido também
incorpora, desde sua fundação, cidadãos negros, por entender que não havia nem
há como garantir um projeto de mudanças para o Brasil sem o combate ao racismo
e à exclusão social.
Em 1930, o Partido
lançou um operário negro Minervino de Oliveira, do Bloco Operário e Camponês
(Boc), como candidato à Presidência da República.
Destaque-se
também que o primeiro deputado negro no Brasil foi, em 1945, o operário
Claudino José da Silva, do Rio de Janeiro, e que o I Congresso do Negro
Brasileiro, realizado em 26 de agosto de 1950, teve a participação decisiva do
antropólogo Edison Carneiro, filiado ao nosso Partido.
Nosso Partido
conquistou para suas fileiras, desde os anos 1930, a figura singular de Luiz
Carlos Prestes, que teve rica expressão na vida política brasileira, assim como
outros dirigentes de grande importância nacional, cabeças políticas de alto
nível, que deram rica contribuição ao Brasil e revelaram-se líderes partidários
exemplares, dentre outros Giocondo Dias, Salomão Malina, Armênio Guedes e
Roberto Freire.
A questão
judaica também mereceu atenção especial do Partido, desde o seu surgimento nos
anos 1920, chegando a conquistar e a incorporar judeus em sua atuação
partidária de que são exemplo Jacob Gorender, Salomão Malina, Marcos Jaimovich,
Helena Bessermann e Dina Lida Kinoshita.
No movimento
editorial, temos Ênio Silveira, Moacyr Félix, Caio Prado Junior, Renato
Guimarães, Raul Mateos Castell, dentre outros, e na história da literatura
brasileira agregam-se nomes comunistas da qualidade de Astrojildo Pereira,
Anibal Machado, Alvaro Moreira, Bandeira Tribuzzi, Bernardo Élis, Ferreira
Gullar, Graciliano Ramos, Jorge Amado, Oswald de Andrade, Solano Trindade e
tantos outros, assim como os historiadores Caio Prado Jr., Nelson Werneck Sodré
e Joel Rufino dos Santos.
Nas artes
plásticas, destacam-se nomes como Candido Portinari, Tarsila do Amaral,
Abelardo da Hora, Villanova Artigas, Di Cavalcanti, Ana de Holanda, Aparecida
Azedo; e no cinema, figuras como Nelson Pereira dos Santos, João Batista de
Andrade, Ruy Santos, Alex Vianny, Lima Duarte, Bete Mendes, Vladimir Carvalho,
Silvio Tendler e Zelito Viana.
No teatro e na
televisão, nomes como os de Dias Gomes, Gianfrancesco Guarnieri, Glauce Rocha,
Dina Sfat, Procópio Ferreira, Mário Lago, Oduvaldo Viana Filho e Stepan
Nercessian.
Na música,
clássica ou popular, nomes como os maestros Claudio Santoro, um dos fundadores
da Orquestra Sinfônica Brasileira, e Francisco Mignone; compositores como
Arnaldo Estrela, Camargo Guarnieri, Candeia, Carlos Lira, Jards Macalé, Jorge
Goulart, José Carlos Capinam, Noca da Portela, Noel Rosa, Paulinho da Viola,
Gonzaguinha (Luiz Gonzaga Junior), Sidney Miller.
No jornalismo,
Élio Gáspari, Vladimir Herzog, Eneida de Moraes, Sergio Cabral, Milton Coelho
da Graça, Noé Gertel, Ivan Alves e Odalves Lima.
O impacto das
transformações técnicas e científicas, a partir da robótica, da
telemática e dos meios de comunicação de massa, afetou a sociedade
moderna e toda a vida política, econômica e social contemporânea.
As organizações
políticas, econômicas, sociais, culturais e espirituais se transformaram
e continuam sendo impactadas com este processo em andamento que integra e
fragmenta a sociedade moderna.
As organizações político-partidárias são parte integrante deste processo de transformação. No caso concreto, o PCB-PPS e atual Cidadania23 procurou e continua procurando adaptar-se a este novo cenário político, econômico e social.
Um comentário:
■Deste manifesto do (ou referente ao) Partido Cidadania23, destaquei o fragmento que colei abaixo, e já dentro do fragmento marquei com '//' uma reivindicação feita no manifesto sobre a origem do Partido Cidadania23
▪" Em toda a nossa rica e longa trajetória, oriundos que somos do Partido Popular Socialista '/ e do Partido Comunista Brasileiro, cujo centenário ocorreu há um ano / ', nós nos reinventamos sempre que a realidade nos coloca esta necessidade, sempre agregando personalidades e cabeças pensantes de relevo nas ciências (sobretudo sociais e políticas), na cultura e nas atividades sociais e políticas, particularmente homens e mulheres que desejam um Brasil melhor e para todos, e não apenas para uma minoria." , diz o parágrafo do manifesto. ".
▪Este manifesto do (ou sobre) o Partido Cidadania23 reivindica ser herdeiro do PPS e '/ do Partido Comunista Brasileiro, cujo centenário ocorreu há um ano / ' , como fiz destaque.
A herança reivindicada no manifesto corresponde, claro: o Cidadania23 realmente veio do PPS, que antes veio do antigo PCB. O reparo que faço é quanto ao fato de que o antigo PCB era um partido com mais de uma corrente política, tendo uma componente ortodoxa e pró-soviética expressiva ; e havia no PCB também a corrente prestista, ligada, óbvio, a Luiz Carlos Prestes, esta bem personalista.
Afora a corrente ortodoxa e a corrente prestista, havia no antigo PCB uma corrente bem moderna e arejada, cujas referências importantes não eram os ideólogos Vladimir Lênin ou LeonTrotski e muito menos era Josef Stalin. As referências daquela corrente moderna e arejada do antigo PCB eram o economista e pensador alemão Karl Kautski, um pensador do marxismo que também foi um dos dois ou três principais formuladores do pensamento social-democrata, e Henrico Berlinguer, que foi 1° Secretário do ultrademocrático Partido Comunista Italiano, hoje com o nome de PD -- Partido de Esquerda.
Era gente assim, de índole radicalmente arejada e democrática e que, mesmo sendo formuladores de política estupendos, não se colocavam como ideológos (assim como Karl Marx não se colocava), os inspiradores daquela corrente do velho PCB.
Esta corrente do antigo Partido Comunista Brasileiro, uma corrente politicamente moderna e que tinha como referência pensadores e operadores políticos arejados como Karl Kautski e Enrico Berlinger, se autodenominava "Eurocomunista" e defendia a democracia não como uma tática para ganhar espaço, atingir o poder e implantar uma ditadura, mas, sim, esta corrente eurocomunista defendia e defende a democracia como um valor permanente e o mais universal possível, para que a democracia sirva para todos os humanos que se inspiram nos valores do real progressismo e humanismo, independentemente do sabor ideológico, se à esquerda ou à direita, que prefiram.
É este o reparo que faço a este manifesto:: o Partido Cidadania23 teve origem no PCB, claro. Mas a origem do Partido Cidadania23 é mais precisamente aquela corrente politicamente arejada e radicalmente democrática que incorporou o eurocomunismo defendido pelo à época PCI de Berlinger, e não o velho PCB como um todo.
Aproveito aqui e rendo minha homenagem a Idivarci Martins, o sempre ativista das causas democráticas na área da cultura.
Edson Luiz Pianca.
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