Folha de S. Paulo
Lula faz com Haddad o oposto do que Itamar
fez com FHC há 29 anos
Não se espantem, mas é provável que Luiz
Inácio da Silva não busque a reeleição em
2026. Ele não pode acenar com essa hipótese agora, sob pena de
entregar o governo antes do tempo. É o tal do lugar-comum da expectativa de
poder que se retroalimenta e permite governar.
Havendo sentido na probabilidade de Lula não ir a um quarto mandato aos 81 anos de idade e tendo quase perdido o terceiro para uma figura de péssimas credenciais, o primeiro da fila para disputar seria Fernando Haddad.
Digo seria, e pode ser, porque o presidente
não reforça, antes
fragiliza, seu ministro da Fazenda quando se dá ao desfrute de
pontificar a respeito do que não entende: os meandros, as causas e os efeitos
do caminhar da economia. Elege o "mercado" como seu malvado
predileto, mas nesse palanque só agrava os problemas.
Haddad vinha dando um duro danado na defesa do
déficit zero. A impossibilidade da meta era voz corrente, uma
realidade até, mas a insistência nela sinalizava compromisso, um desestímulo ao
estouro das contas.
Menos de um ano e o governo já aderiu ao
centrão —e não o contrário, como se especulava. Minoria no Parlamento, o PT tampouco faz valer
sua maioria no Executivo para ajudar. Só não atrapalha mais com as posições
vocalizadas pela presidente Gleisi
Hoffmann porque ela não é interlocutora autorizada.
Fernando Haddad é visto (ou era) como tal.
Lula retira
autoridade do ministro indo no sentido contrário ao adotado por
Itamar Franco quando deu autonomia ao titular da Fazenda, Fernando
Henrique Cardoso, inscrever-se como sujeito oculto e essencial do
Plano Real e abriu caminho para eleger o sucessor.
Itamar conteve por um período o temperamento
difícil e manteve a mira direcionada ao objetivo maior de médio prazo. Em sua
insensata certeza de ser o guia genial de todos os povos, Lula faz o oposto e
ainda contrata escândalos futuros. Nessa toada, contribui para tornar turvo o
horizonte da reeleição.
Um comentário:
Dora adora criticar o governo Lula.
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