O Globo
Se por um lado o risco fiscal permanece no
radar dos economistas, por outro, a política monetária sugere estabilidade e
previsibilidade na transição que se aproxima
'A autoridade monetária tem que atuar com cautela e conservadorismo'. A frase, que bem poderia ter sido proferida pelo atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, foi dita, na verdade, pelo diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, indicado ao posto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Galípolo, que deu entrevista ao economista-chefe do banco Bradesco ontem, é o principal cotado para substituir Campos Neto, ao término do seu mandato no final do ano. Ele indicou que o ritmo de cortes de meio ponto deve ser mantido nas próximas reuniões, o que já vem sendo decidido de forma unânime por todos os diretores do Copom. Se por um lado o risco fiscal permanece no radar dos economistas, por outro, a política monetária sugere estabilidade e previsibilidade na transição que se aproxima.
Déficit já está no preço
Questionado sobre o ceticismo do mercado
financeiro em relação ao cumprimento da meta fiscal este ano, Galípolo saiu
pela tangente e disse que um déficit em torno de 0,8% do PIB já está no “preço”
dos mercados. Ainda assim, o dólar e as expectativas de inflação permaneceram
sob controle. Segundo ele, caso o governo consiga entregar um resultado melhor
do que o esperado, haverá uma melhora também no preço dos ativos, com reflexos
na política monetária. O grande balizador do ano, no entanto, continua sendo a política
de juros pelo Fed.
Biruta de mercado
O mercado financeiro está mais confuso do que
biruta de aeroporto ao tentar prever o início dos cortes de juros pelo banco
central americano (Fed). Segundo levantamento do CME Group, citado pelo
economista Luis Otávio Leal, do G5 Partners, na virada do ano os investidores
davam 88% de chance de a redução começar em março. Com a manutenção dos juros
em janeiro, a aposta (93,85%) foi deslocada para a reunião de maio. Com dados
de inflação e mercado de trabalho mais fortes do que o esperado este mês, a “bola
da vez” passou a ser junho, com 81,3% de chance. Quanto antes o Fed começar a
cortar os juros, melhor para o BC brasileiro, que terá mais tranquilidade para
manter o ciclo de cortes da Selic por aqui. Se a taxa se mantiver, por outro
lado, os juros podem parar de cair num patamar mais alto.
Risco e ajuda da China
O gráfico mostra a queda da participação de
empresas privadas na lista das 100 maiores companhias listadas na bolsa da
China. Segundo levantamento feito pelo think tank americano Peterson Institute,
o percentual que chegou a 53,9% em dezembro de 2020 caiu para 36,8% em dezembro
de 2023. São consideradas empresas privadas companhias com menos de 10% de
participação estatal. O dado reforça as preocupações com a segunda maior
economia do mundo, que dá sinais de desaceleração. No curto prazo, porém, essa
fraqueza pode ajudar a derrubar a inflação mundial, com aumento da exportação
de produtos industriais chineses a preços mais baixos. Em outas palavras, a
China já tem exportado “deflação” para o mundo, o que pode ajudar o Brasil.
Domar o dólar
A conversa com investidores estrangeiros foi decisiva para que o Ministério da Fazenda e o Banco Central estudassem um pacote de medidas para atenuar a volatilidade do dólar em investimentos de longo prazo. A ideia, que não tem relação com controle cambial, é criar uma espécie de seguro para que o investidor consiga entrar e sair do país com alguma proteção. O anúncio deve ser feito no final deste mês, ou início de março, com a presença do presidente do Bid, Ilan Goldfajn. Pelo relato do economista-chefe de um banco internacional a autoridades brasileiras, o risco fiscal é mais fácil de prever do que os altos e baixos da moeda americana. Uma das metas do projeto é conseguir aumentar a taxa de investimento no país.
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