Tudo indica que importantes setores políticos, sociais, militares e empresariais se envolveram numa trama para interromper o processo democrático brasileiro e revogar nossa Constituição. Toda esta investigação tem que ser conduzida com rigor, serenidade e equilíbrio, assegurando a todos a presunção da inocência e o amplo direito de defesa.
Se há uma ideia
vitoriosa no início do século XXI é a da democracia como valor universal e
permanente. Como expressou Alexis de Tocqueville: “Nada é mais maravilhoso que
a arte de ser livre, mas nada é mais difícil de aprender a usar do que a
liberdade”. Liberdade e democracia são palavras gêmeas, mas não se confundem.
Liberdade tem uma dimensão mais individual, democracia, mais coletiva. Não
existe democracia sem liberdade, mas também não existe liberdade sem
democracia. Até onde vai a minha liberdade e aonde começa a do outro? Como
arbitrar conflitos e contradições? O economista liberal Hayek afirmava que
“Liberdade e responsabilidade são inseparáveis”. Não é trivial e fácil. Melhor
o conceito intuitivo de nossa Cecília Meireles no seu Romanceiro da Inconfidência,
longe das formalizações teóricas: “Liberdade essa palavra, que o sonho humano
alimenta, que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda”.
É impossível na
vida em sociedade a liberdade completa e absoluta. Há limites e
responsabilidades. A democracia é a tradução institucional aproximada da ideia
de liberdade. A singela e clássica definição de Abraham Lincoln deveria
encontrar fácil concretização na realidade: “A democracia é o governo do povo,
pelo povo, para o povo”. Mas o termo “povo” é uma abstração. Na sociedade
moderna seria impensável uma democracia direta. O que faz emergir a pergunta
central: quem fala e age em nome do povo?
Hoje, no Brasil e
no mundo, há um razoável consenso em favor da democracia. Conservadores,
liberais, democratas-cristãos, socialdemocratas, verdes, socialistas
democráticos convergem na defesa da democracia e da liberdade como caminho de
convivência e definição do futuro. Apenas setores radicalizados sonham com
ditaduras reacionárias de direita ou esquerda.
Nesse início de
2024, no Brasil, talvez este seja o principal desafio: fortalecer e consolidar
ainda mais nossa democracia.
Pela experiência
histórica e reflexão teórica acumulada são inarredáveis: eleições periódicas,
livres e diretas; voto universal; alternância no poder; liberdade de
organização, pensamento, opinião, expressão, de ir e vir, sindical, de
imprensa; liberdades individuais garantidas; Constituição e leis com regras que
regulem o jogo democrático e protejam o direito das minorias e dos indivíduos
contra os impulsos coercitivos do Estado; reconhecimento mútuo da legitimidade
dos diversos atores na cena política, contenção no uso do poder.
Mesmo com todas as qualidades aparentemente óbvias da democracia, desafia o pensamento o fato de a maioria do povo americano parecer disposta a votar em Trump? É preciso decifrar as fragilidades da democracia contemporânea.
Nenhum comentário:
Postar um comentário