O Globo
Os setores produtores têm obtido fortes e
constantes ganhos de produtividade, especialmente a agropecuária
O ano passado não foi propriamente amistoso
para a exportação brasileira. Os preços dos produtos agropecuários sofreram
queda de 10% nos mercados mundiais, em comparação com 2022. Na indústria
extrativa, a queda foi maior, 12%, na mesma base de comparação. Entretanto as
exportações brasileiras bateram um recorde histórico, alcançando a expressiva
marca de US$ 344 bilhões. Qual o segredo? Ganhos de produtividade, permitindo
maior quantidade embarcada.
Na soja, principal exportação nacional, o
volume enviado ao exterior subiu quase 30%. No petróleo, alta de 18,5%, tudo
compensando a queda de preços. Para este ano, as condições são parecidas:
redução de preços, mais acentuada na agropecuária que no petróleo. Espera-se
novo ganho de produtividade na agropecuária e maior volume na produção de óleo.
Tudo somado e subtraído, a exportação de soja deverá render US$ 45 bilhões
(ante US$ 53 bi no ano passado). A venda de petróleo poderá alcançar US$ 48 bi
(mais que os US$ 44 bi obtidos em 2022). O terceiro maior item na pauta de
exportação é o minério de ferro, que deverá trazer US$ 31 bilhões, quase o
mesmo resultado de 2023.
E como vão esses setores por aqui?
O pessoal do agronegócio tem queixas. Querem
mais apoio financeiro para compensar a quebra da safra, em consequência das
condições climáticas. Mas há um rolo político mais complicado. O agro tem forte
bancada no Congresso, bastante conservadora. Em tese, não gosta do governo
Lula, mas tem lá o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro,
senador eleito pelo PSD, partido de Gilberto Kassab, que é secretário de
Governo na administração do governador bolsonarista Tarcísio
de Freitas. É como estar no governo e na oposição ao mesmo tempo. Não sem
conflitos. O PT e
seus aliados mais ideológicos são contra o marco temporal para demarcação das
terras indígenas. O Congresso, conservador, puxado pelo agro, tem maioria a
favor do marco temporal, entretanto declarado inconstitucional pelo STF.
Um conflito não resolvido, portanto.
A mineração sofre constante ataque dos
ambientalistas, assim como a exploração de petróleo. A produção de óleo deve
ter forte aumento neste ano, mas a Petrobras manifesta preocupação com a
reposição das reservas. O pré-sal está próximo de entrar em declínio, de modo
que é preciso descobrir novos poços. Por exemplo na Margem Equatorial, faixa
litorânea que vai do Amapá ao Rio Grande do Norte. Ali mesmo onde a Petrobras
batalha por uma licença ambiental, negada pelo Ibama.
O conflito aqui envolve ambientalistas,
instalados no governo Lula, mas atravessa todo o espectro político. Resumindo:
parlamentares, governadores e prefeitos da Região Norte, não importa o partido
ou ideologia, apoiam a exploração do petróleo, de olho nos royalties. A disputa
aqui está dentro do governo e no Congresso.
Pode-se dizer que a área da economia
brasileira mais bem posicionada está nas contas externas. Um baita superávit
comercial de US$ 80 bilhões no ano passado, embora baseado em produtos
ambientalmente contestados: soja, petróleo e minério.
De outro lado, os setores produtores têm
obtido fortes e constantes ganhos de produtividade, especialmente a
agropecuária, de classe mundial. Então o país quer mesmo especializar-se em
entregar ao mundo comida, petróleo e minério de ferro? Questão mal colocada.
Não é necessário sacrificar setores de bom desempenho para desenvolver a
indústria do futuro, da tecnologia, da IA e verde. Aliás, a agropecuária é
usuária intensa dessas novas tecnologias.
Não há política de médio e longo prazo para o
país. As escolhas têm sido feitas no dia a dia, no improviso. Ou não há escolha
nenhuma, com cada setor, estatal ou privado, se virando por conta. Discute-se
muito sobre incentivos. E, de fato, há muitos setores incentivados no país,
alguns funcionando, outros não. Mas prevalecem os interesses de grupos de
pressão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário