O Estado de S. Paulo
Quando a saúde vai bem, ninguém nota. Alguém
por acaso se preocupa com os pulmões se a respiração é boa? Assim, também, na
economia.
As contas externas são o caso do momento. As
grandes crises dos anos 1970 e 1980 impuseram grande impacto negativo no
balanço de pagamentos. Não havia moeda estrangeira para honrar as contas lá
fora, o País quebrou em dólares, foram as crises da dívida externa, um
pandemônio.
Mas, agora, o balanço de pagamentos está uma beleza, os pulmões da economia funcionando, sobram dólares, as reservas correspondem a 16 meses de importação. Ao contrário do que acontece na Argentina, ninguém por aqui se preocupa com a dívida externa.
A balança comercial, na qual ficam
registradas exportações e importações, teve um enorme superávit no ano passado,
de US$ 80,5 bilhões, graças ao vigor das exportações que avançaram 1,2% no ano,
para US$ 344 bilhões – as mais altas da história, e, em parte, ao recuo de
10,9% das importações. Foi excelente ano para as vendas externas de commodities
(soja, milho, petróleo e minério de ferro). Por trás do sucesso está a enorme
demanda por commodities brasileiras acionada pela China.
Os Serviços, em que são contabilizados
transportes, aluguéis, seguros, viagens, tiveram um déficit de US$ 37,6
bilhões, recuo anual de 5,1%.
A outra conta, Renda Primária (dividendos e
juros), apresentou déficit de US$ 72,4 bilhões.
Ou seja, as Contas Correntes (que registram
entrada e saída de dólares com mercadorias, serviços e rendas) foram negativas
em apenas US$ 28,6 bilhões, ou 1,3% do PIB, largamente compensadas pela entrada
de capitais.
Nesse item, a maior decepção foi a da entrada
líquida de investimentos estrangeiros. Os Investimentos Diretos no País somaram
apenas US$ 61,9 bilhões, queda de 17% em relação a 2022, quando o total chegou
a US$ 74,6 bilhões. No início de 2023, a expectativa era a de que seriam US$ 80
bilhões. Em parte, essa frustração pode ser explicada pelo início do ciclo de
redução dos juros e, portanto, da redução da diferença entre juros internos e
externos, que desestimulou a entrada de capitais de curto prazo.
Mas a exuberância das contas externas,
especialmente da balança comercial, confere uma tranquilidade extra para o
desempenho da economia.
Uma observação final: as crises das décadas
de 1970 e 1980 se manifestaram mais duramente como escassez de moeda
estrangeira (fuga de dólares), mas o problema de fundo era fiscal: incapacidade
de pagar as contas públicas, preponderantemente em moeda estrangeira. Hoje, o
problema fiscal continua aí, mas a maior parte do rombo está em moeda nacional.
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