O Globo
Judiciário não apenas abateu a operação de
Curitiba, mas afastou do cenário todo o sistema de combate à corrupção
A Lava-Jato estaria completando dez anos se
não tivesse sido abatida pelo Judiciário, incluindo, principalmente, o Supremo
Tribunal Federal. Não apenas abateu a operação de Curitiba, mas afastou do
cenário todo o sistema de combate à corrupção.
Formou-se uma ampla aliança de políticos dos
velhos métodos, da direita à esquerda, com empresários, todos apanhados em
corrupção, para interromper a Lava-Jato e, mais, eliminar seus efeitos.
Condenações à prisão, multas, devolução de dinheiro, acordos de leniência, tudo
isso vem sendo anulado. Ninguém foi absolvido. Simplesmente os processos foram
anulados, com base no cipoal de formalidades da Justiça. Provas, mesmo
evidentes, foram declaradas imprestáveis.
Esse pessoal, portanto, comemora uma morte.
Mas há quem lamente. São aqueles — entre os quais me incluo — que observam nesse retrocesso a volta da velha política e do capitalismo dos amigos. Nesse regime, prosperam não as empresas mais produtivas, mas as que pagam as maiores propinas.
Falso, portanto, o argumento de que a
Lava-Jato destruiu empresas e reduziu o PIB brasileiro.
Primeiro, porque essas empresas estão de volta, com outro nome e provavelmente
as mesmas práticas. Segundo, porque empresas que crescem com base na corrupção
não criam valor. Ao contrário, destroem valor e produtividade porque bloqueiam
o surgimento de concorrentes eficientes. Mais fácil obter uma vantagem em Brasília do
que gastar dinheiro e cérebros criando novas tecnologias e métodos.
Sobram exemplos dessa volta triunfante do
capitalismo de amigos. Nenhum mais evidente que a retomada da Refinaria Abreu e
Lima. Em 2005, foi lançada, por um custo de US$ 2,5 bilhões. Feito menos da
metade, já custou US$ 20 bi. E quem seria candidato forte a retomar as obras? A
Odebrecht, digo, a Novonor. Novo?
Nesse caso, não é propriamente um
aniversário, mas uma comemoração de volta para aqueles velhos tempos.
Vale para o PT e
para o governo Lula —
e sua narrativa de que tudo não passou de uma conspiração liderada pelos
Estados Unidos para destruir as empreiteiras brasileiras e a Petrobras. Para
eles, as empresas não quebraram por terem cometido grossa — e confessada —
corrupção e, no caso da estatal, uma gestão temerária nos governos petistas.
Faziam tudo certo e foram atacadas.
E tem quem acredite.
Já o 31 de março é um aniversário. Sessenta
anos do golpe. Vai passar sem nada? Muitos militares e civis gostariam de
comemorar. Lembram-se das ordens do dia que os comandantes militares emitiam,
mesmo depois da volta de democracia? As vítimas da ditadura teriam, obviamente,
não o que comemorar, mas muito a lembrar. E cobrar. E investigar.
Parece, porém, que Lula patrocinou um acordo.
Os militares não falam nada, os democratas e as vítimas da ditadura não
comemoram o fim da ditadura, nem pedem julgamentos e busca da verdade. Muito
ruim. Trata-se de uma volta ao final dos anos 1970, início dos 80, quando se
negociou a abertura. A base dessa negociação foi a anistia ampla, geral e
irrestrita, que garantiu a impunidade dos que haviam participado da ditadura,
incluídos os torturadores.
Dirão: mas os esquerdistas subversivos também
foram anistiados. Sim, mas já haviam sido presos, exilados, torturados e
assassinados. Não há simetria aqui. Foi apenas um jeito de garantir a
impunidade e, pois, a retirada dos militares. Destruíram a democracia,
arrasaram os direitos humanos, e tudo bem? Se tivessem sido julgados na forma
da lei, como na Argentina, certamente não teríamos passado pela recente
tentativa de golpe.
O acordo de hoje repete essa assimetria.
Diferença importante: o julgamento dos participantes do golpe de 2022. A ver.
E temos um verdadeiro aniversário de vida: os
30 anos do Plano Real. Voltaremos ao tema. Mas fica um registro: Lula,
beneficiário da estabilidade do Real, não pode comemorar. Foi contra. Por isso,
agora, nada a declarar. Mas a população brasileira pode comemorar 30 anos sem
inflação descontrolada. Como seria o Brasil sem o Real? Fácil, olhem para a
Argentina.
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