sábado, 23 de março de 2024

Hélio Schwartsman - O presidente e os puxa-sacos

Folha de S. Paulo

Em 2022, antes da posse, Lula pediu para ser criticado, afirmando que não precisava de tapinhas nas costas

Lula criticou a imprensa, que qualificou ironicamente como "gloriosa" e "democrática". Para o presidente, os meios de comunicação não divulgam adequadamente as realizações de seu governo. Ele pediu então a seus ministros que o façam.

A declaração contrasta com uma outra, de dezembro de 2022, dada entre a eleição e a posse. Ali, falando a simpatizantes, ele pediu para ser criticado: "Eu sei que vocês vão continuar nos ajudando e cobrando. Isso é importante. Não deixem de cobrar. Porque se vocês não cobram, a gente pensa que está acertando.E muitas vezes a gente está errando e continua errando porque as pessoas não reclamam. Vou dizer em alto e bom som. Nós não precisamos de puxa-sacos. Um governo não precisa de tapinhas nas costas".

Prefiro o Lula de 2022 ao de 2024. Ali, se ele foi sincero, demonstrava ter consciência dos pontos cegos do poder, que podem deixar um mandatário perigosamente mal-informado. Agora, ele parece reagir, mais por instinto do que por reflexão, a uma queda em seus índices de popularidade. Em circunstâncias adversas, ele costuma mesmo procurar terceiros a quem culpar.

Governantes se queixando da imprensa não é algo que me preocupe. A relação entre mídia e poder é por natureza tensa. Dá até para dizer que a mídia está falhando em sua missão se não deixar dirigentes pelo menos um pouco irritados.

O que me causa certa apreensão é constatar que o apelo que Lula fez em 2022 não esteja sendo atendido por pessoas que sejam de fato ouvidas por ele e tenham a capacidade de influenciá-lo. Entre as várias hipóteses levantadas para explicar a queda na popularidade, uma recorrente são as falas divisivas de Lula, que lhe custam pontos em grupos demográficos específicos como eleitores independentes, evangélicos etc.

Será que não há ninguém próximo ao presidente que lhe diga que falar menos (ou pelo menos não sair do roteiro nas comunicações oficiais) faria bem a seu governo?

 

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Lula só errou na questão das eleições na Venezuela,quer dizer,tem o Putin também.