quinta-feira, 28 de março de 2024

Guga Chacra - Críticas a Israel X antissemitismo

O Globo

Há diferenças entre criticar Israel e pregar sua destruição, assim como há distinção entre criticar apenas o Estado judeu e defender a causa palestina; entenda a diferença entre esses quatro pontos

Criticar Israel não pode ser classificado como antissemitismo. Defender a causa palestina de ter direito a um Estado tampouco é antissemita. Mas pregar a destruição de Israel é, sim, antissemitismo, assim como apenas criticar Israel também deve ser visto como uma postura antissemita. São quatro pontos distintos e vale se aprofundar em cada um deles.

Crítico de Israel: Qualquer pessoa deve ter o direito de criticar qualquer país independentemente da nacionalidade e de quem governa a nação criticada. Condenar a invasão dos EUA ao Iraque não torna ninguém antiamericano, até porque muitos dos críticos eram justamente cidadãos que vivem em Nova York, Washington e São Francisco. Assim como o leitor não pode ser descrito como anti-Rússia por se opor à invasão russa da Ucrânia. Portanto não é antissemita, ou mesmo anti-Israel, criticar ações militares israelenses na Faixa de Gaza e a ocupação ilegal da Cisjordânia. Aliás, há setores da sociedade em Israel que historicamente são contrários à presença de assentamentos nos territórios palestinos.

Defensor da causa palestina: Praticamente todos os países do mundo defendem o direito de os palestinos terem um Estado independente, sendo que a maioria apoia a instalação dessa nação nos territórios ocupados por Israel na Guerra dos Seis Dias em 1967 (Cisjordânia, Gaza e Jerusalém Oriental). Mesmo em Israel, a política oficial é de uma solução de dois Estados, ainda que haja divergência sobre as fronteiras, Jerusalém Oriental e a questão dos refugiados. Noto que o atual governo é contrário a uma Palestina independente. Ainda assim, defender uma Palestina independente vivendo em paz e segurança ao lado de Israel não pode ser considerado antissemitismo ou anti-Israel. Aliás, ser contra o direito de os palestinos terem um Estado deve ser encarado como uma forma de preconceito, a não ser que a pessoa defenda o direito de os palestinos da Cisjordânia e Gaza terem cidadania israelense.

Defensor da destruição de Israel: Quem defende a destruição de Israel é um antissemita porque o Estado israelense se identifica como judaico e 80% de sua população é judia. Não há como separar as duas coisas. Defender a destruição é diferente de criticar a ocupação da Cisjordânia ou as ações militares que resultam na morte de milhares de crianças em Gaza. Significa literalmente pregar que milhões de pessoas sejam expulsas ou mortas para que o Estado judeu seja eliminado. O regime do Irã é abertamente antissemita ao pregar a destruição de Israel. Todos os países árabes e a Autoridade Nacional Palestina (ANP), por sua vez, reconhecem o direito de Israel existir nas fronteiras pré-1967 e, portanto, não pregam a destruição do Estado judeu. A maioria não tem relação diplomática, mas isso é distinto de querer eliminar o país.

Crítico apenas de Israel: Como escrevi anteriormente, Israel pode ser criticado pela ocupação da Cisjordânia e pela ação militar em Gaza. Eu mesmo critico ambas e também a anexação ilegal das Colinas do Golã e o desrespeito à soberania libanesa. Mas criticar apenas Israel é antissemitismo. Quem não critica o atentado terrorista do Hamas, mas condena a resposta de Israel, seria antissemita. Assim como também é antissemitismo criticar Israel, mas ignorar os crimes de guerra da Rússia na Ucrânia, a limpeza étnica cometida pelo Azerbaijão contra os armênios no ano passado, a invasão dos EUA ao Iraque e as atrocidades cometidas pelos regimes da Arábia Saudita, Irã, Síria, Egito e outros.

Um comentário:

Daniel disse...

Excelente, é bem isto! Pena que os diplomatas de Israel e os apoiadores de Netanyahu não entendam estas diferenças e queiram quase sempre misturar estas posições. O mesmo vale obviamente para o CRIMINOSO DE GUERRA que dirige Israel atualmente e comanda o MASSACRE de palestinos em Gaza, tendo já ASSASSINADO mais de VINTE MIL mulheres e crianças, com apoio ou complacência dos governos dos EUA e da Europa, além de pseudodemocratas pelo resto do mundo.