Folha de S. Paulo
É um órgão do Poder Judiciário e, assim como
Executivo e Legislativo, está sujeito ao escrutínio popular e da imprensa
"A liberdade é um tema ao qual me tenho
preso". Seguindo o aforismo de Millôr, vamos falar sobre o STF, de novo.
Afinal, a corte é guardiã das liberdades expressas na Constituição e tem agido
de forma duvidosa sob pretexto de defendê-las —desde 2019, pelo menos, quando
foi aberto o inquérito das fake news.
Alexandre de Moraes abriu investigação para apurar a revelação de mensagens que mostram ações fora do rito por parte de seu gabinete. Chama atenção o tom conspiratório e falacioso do documento.
Segundo o ministro, o vazamento das conversas
e sua publicação pela Folha são "indícios da atuação
estruturada de uma possível organização criminosa (...) que
atenta contra a democracia e o Estado de Direito".
Ora, o STF não é a democracia. É um órgão que
faz parte do desenho institucional desse regime e, como tal, está sujeito a
falhas e ao escrutínio popular e da imprensa.
A figura do whistleblower —quem expõe atos
ilegais ou antiéticos de uma instituição pública ou empresa— faz parte da
história do jornalismo, já que é uma ferramenta de fiscalização do poder
público.
Quando vazamentos se referem ao Executivo e
ao Legislativo, como os que levaram ao
impeachment de Fernando Collor e ao escândalo do mensalão, não
são ataques à democracia. Por que devem ser assim tratados em relação ao
Judiciário?
Com o marxismo e o identitarismo dá-se o
mesmo. Quem os critica é burguês ou alienado, racista ou homofóbico. As ações e
os dados levantados pela crítica são esquecidos, em prol de uma resposta que
não se propõe a resolver problemas e só sinaliza virtude —no caso, a defesa do
Estado democrático de Direito.
Mas quando o dissenso vira falha moral ou até
crime, o resultado é o embotamento do debate público.
Se o STF quer proteger a democracia, precisa
atuar com transparência, respeitando ritos processuais e liberdades
individuais, e se dispor a avaliar e eliminar suas distorções. Falácia retórica
não é argumento, não num regime de fato democrático.
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