Folha de S. Paulo
Um dos principais motivos para o crescente
apoio a candidatos é a desconfiança nas instituições tradicionais
Nos últimos anos, a política global tem sido marcada pela emergência de
"políticos de fora" ou "outsiders", indivíduos ou grupos
que operam à margem dos sistemas partidários tradicionais. Podem tanto ser pessoas que
acreditam na democracia e desejam se engajar para contribuir na correção de
falhas no sistema político, quanto aqueles que se apresentam como antissistema
e buscam subverter a ordem estabelecida.
Como sabemos, a internet tem um papel essencial nesse fenômeno. Por meio das redes sociais, esses atores conseguem contornar os tradicionais "gatekeepers" e se comunicar diretamente com o público. Isso permite a construção de movimentos, a mobilização de recursos e a disseminação de suas mensagens sem a necessidade de apoio de partidos ou grandes veículos de comunicação.
Essa estratégia é especialmente eficaz em
contextos onde a mídia é centralizada ou o controle partidário é forte,
oferecendo uma alternativa para aqueles que se sentem mal representados
conforme apontam os pesquisadores Andreas Junkherr, Ralph Schroeder e Sebastian
Stier.
Um dos principais motivos para o crescente apoio a outsiders é a desconfiança nas
instituições tradicionais. Eleitores que se sentem traídos pelo sistema buscam
alternativas que promovam reformas ou mudanças radicais. Muitos desses
eleitores também desejam uma maior participação cidadã no processo decisório,
vendo os outsiders como uma ponte para uma democracia mais direta e
participativa.
O estudo de Sebastien Rojon e outros
pesquisadores mostra que essa preferência varia conforme o tipo de outsider. Professores universitários e líderes empresariais
são vistos como figuras independentes e competentes por cidadãos europeus. Em
contrapartida, altos funcionários públicos podem ser vistos com desconfiança em
países onde a burocracia é considerada politizada, como França, Alemanha e
Holanda.
A atratividade dos outsiders, no entanto, não
é uniforme em todos os lugares. Em países como Itália e Espanha, onde políticos
de fora já ocuparam cargos importantes com certo sucesso, o apoio a eles é
maior. Em contraste, na República Tcheca e na Bulgária, experiências negativas
levaram a um ceticismo maior em relação a esses atores, ainda de acordo com os
autores. Esses casos mostram que a experiência prática dos eleitores com
outsiders pode moldar sua percepção sobre sua capacidade de governar eficazmente.
Outro aspecto importante é a valorização da
expertise. O estudo de Rojon destaca que cidadãos que prezam pela competência
técnica tendem a preferir professores universitários para cargos ministeriais.
Ou seja, a expertise importa na medida que os eleitores a valorizam, não sendo
um critério universal.
A ascensão dos outsiders é uma tendência
global, manifestando-se de diferentes formas em democracias ao redor do mundo.
Suas implicações para a democracia são complexas. Por um lado, há atores que
trazem novas ideias, desafiam elites enraizadas e podem representar vozes
marginalizadas. Por outro, aqueles que têm como estratégia romper com normas e
instituições estabelecidas enfraquecem o discurso democrático, acirrando
divisões sociais.
No Brasil, a eleição de
2018 representou uma onda de renovação significativa. A Câmara dos
Deputados, por exemplo, viu a entrada de 243 novos parlamentares,
resultando em uma taxa de renovação de 47,3%. Desde então, já houve tempo
suficiente para avaliar quem, entre esses novos representantes, desempenhou um
bom papel e quem não correspondeu às expectativas.
Contudo, resta saber se dado que mais da
metade dos eleitores brasileiros geralmente não se lembra em quem votou para o
Legislativo, construímos uma casca contra oportunistas. Para bem e para mal, a
qualidade dos representantes, sejam novatos ou da política tradicional, depende
da capacidade do eleitor de utilizar seu voto para premiar um bom desempenho ou
um histórico de qualificação.
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