quarta-feira, 2 de outubro de 2024

Posse no México

Jéssica Sant'Ana / Valor Econômico

Em cerimônia com delegações de 105 países e 16 chefes de Estado, incluindo o presidente Lula, Claudia Sheinbaum destacou o protagonismo feminino e o papel de seu antecessor e padrinho político

Primeira mulher a assumir a presidência do México, Claudia Sheinbaum tomou posse ontem no cargo, que ocupará pelos próximos seis anos. Em seu discurso, ela destacou o papel de seu antecessor e padrinho político, Andrés Manuel Lopez Obrador, responsável pela “revolução pacífica da quarta transformação da vida pública” do país, como vem sendo chamada por aliados a polêmica agenda política implementada pelo governo anterior.

Sheinbaum toma posse como a primeira mulher a presidir o México

A cientista e ex-governadora da Cidade do México promete continuar o legado de seu mentor Andrés Manuel López Obrador

A cientista e ex-governadora Claudia Sheinbaum tomou posse nesta terça-feira (1°) como presidente do México, sendo a primeira mulher a ocupar esse cargo. Ela ficará à frente do país latino-americano pelos próximos seis anos.

“É tempo de transformação e é tempo de mulheres. Pela primeira vez, chegamos nós mulheres a conduzir o destino de nossa nação. E eu digo nós, porque não chegamos sozinhas, chegamos todas”, frisou em seu discurso de posse na Câmara dos Deputados do México.

A cerimônia de posse no Poder Legislativo foi acompanhada por delegações de 105 países. Estiveram presentes 16 chefes de Estado, incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Sheinbaum fez questão de citar nominalmente cada um dos presidentes presentes. “[A presença deles] mostra o compromisso internacional do México.”

Quase todos os chefes de Estado foram convidados, à exceção do rei da Espanha, Felipe 6, que não foi chamado, devido ao fato de a Espanha não reconhecer, segundo o governo mexicano, os prejuízos causados aos povos indígenas durante o período colonial. Os Estados Unidos enviaram a primeira-dama, Jill Biden.

Após agradecer aos chefes de Estado, Sheinbaum falou do seu antecessor e mentor, o político populista de esquerda Andrés Manuel López Obrador, conhecido pelas siglas Amlo. Ele deixou o cargo nesta terça-feira (1°).

Ela disse que López Obrador foi o “melhor presidente” do país, que iniciou “a revolução pacífica da quarta transformação da vida pública do México”, afirmou, em uma referência à agenda política implementada pelo seu mentor — numa alusão às três transformações anteriores na história do México, a independência do país, a reforma do século 19 e a revolução do século 20.

“[Ele] se retira da vida pública como um democrata, para seguir lutando em outras trincheiras”, afirmou Sheinbaum.

A sessão de posse foi assistida por diversas delegações e por parlamentares do México. O Morena, partido de Sheinbaum e Obrador, tem ampla maioria no Congresso, incluindo as coligações.

Sheinbaum também disse que o México passou, antes de López Obrador, por um “fracassado modelo neoliberal e de corrupção”, que durou 36 anos e trouxe uma série de “prejuízos à população” em detrimento do “mercado financeiro”.

Ela afirmou que o seu governo vai focar nos mais pobres. “A prosperidade deve ser compartilhada: ‘pelo bem de todos, primeiro os pobres; não pode haver governo rico, se há pobres’”, disse. Ela citou, ainda, que vai lutar todos os dias por um México com justiça e democracia. Também citou que tudo será feito com respeito ao meio ambiente.

Sobre esse tema, comentou que lançará nas próximas semanas um Plano Nacional de Energia, para tratar de investimentos públicos e privados e também para prever a transição energética para fontes renováveis de energia. “Teremos energia limpa a preços baixos para atuais e futuras gerações”, prometeu. Ela citou, ainda, que lançará uma o programa “mais ambicioso do mundo” de economia circular.

Ainda em seu discurso, a nova presidente condenou todas as formas de discriminação. “No nosso governo garantiremos todas as liberdades. Se respeitará os direitos humanos e nunca usaremos a força do Estado para reprimir o povo. Respeitaremos a liberdade religiosa”, destacou.

Em relação à economia, ela disse que o seu governo respeitará a autonomia do Banco Central do México, conhecido como Banxico. Prometeu ainda manter uma política fiscal responsável. “Promoveremos investimentos públicos e privados. Investimentos estarão seguros em nosso país”, afirmou. Ela afirmou que não haverá aumento de preço de gasolina, gás doméstico e energia elétrica.

Sobre a recém aprovada reforma judicial — que prevê eleição popular para juízes do país, incluindo da Suprema Corte, Sheinbaum disse que a reforma trará mais “autonomia e independência ao poder judicial”. Ela negou que o governo vai influenciar nas eleições: “somos democratas. Quem decidirá [a eleição] será o povo”, afirmou, numa resposta às críticas de que a reforma vai enfraquecer a democracia mexicana.

Em relação à política externa, Sheinbaum citou que manterá a posição do México de não se envolver em questões internas do país. Ela, contudo, não fez uma menção direta ao resultado das eleições na Venezuela.

Ela terminou seu discurso prometendo governar para “todas e todos”. “Consolidaremos juntas e juntos um México cada vez mais próspero, livre, democrático e justo.” (A jornalista viajou à Cidade do México a convite da Apex)

 

 

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