Valor Econômico
Intenção, pelo menos neste momento, é a de sofrer em silêncio
A intenção no governo Lula, pelo menos neste
momento, é sofrer em silêncio por causa do início do ciclo de alta da Selic.
Olha-se para frente. O “horizonte relevante” na política, para usar um termo
bastante empregado pelo Banco Central quando olha para os próximos meses ao
calibrar a taxa de juros, é o ano eleitoral de 2026.
Já se espera, ainda que com muito pesar, o aumento do juro nas próximas duas reuniões do Copom, em novembro e dezembro. Pelo cenário atual, viria então um período de estabilidade da Selic e na sequência, a partir de meados do ano que vem, uma nova rodada de afrouxamento da política monetária. Isso abriria espaço para uma aceleração da economia no ano seguinte.
Agora, portanto, diz-se que o ideal é evitar
marolas desnecessárias - principalmente em meio à expectativa para a sabatina
de Gabriel Galípolo no Senado. Indicado para a presidência do BC, ele deve ser
ouvido na terça-feira (8) e ter seu nome aprovado no mesmo dia.
Sim, deve-se esperar que o PT continue a
desempenhar o papel de porta-voz da insatisfação com o elevado patamar da taxa
básica de juros. No mês passado, enquanto ocorria a reunião do Comitê de
Política Monetária do Banco Central (Copom), a presidente da sigla, deputada
Gleisi Hoffmann (PR), publicou nas redes sociais mensagem na qual afirmava ser
um corte nos juros “a única decisão sensata” que o colegiado poderia tomar.
No dia seguinte, logo após o Copom elevar a
taxa em 0,25 ponto percentual, o comedimento imperava no governo. Mas ela
voltou à carga e apontou que no Brasil não havia inflação que justificasse juro
de 10,75%.
O comunicado e a ata da reunião do Copom
explicam os motivos que levaram o comitê a elevar a Selic. Quanto ao cenário
doméstico, por exemplo, o primeiro documento registra que o conjunto dos
indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho tem apresentado
dinamismo maior do que o esperado. Como resultado, isso gerou uma reavaliação
do hiato para o campo positivo, o que, na prática, leva à conclusão de que a
economia está sobreaquecida.
Uma fonte do governo lembra que a situação é
“dolorida”. Em primeiro lugar, porque o movimento do BC vai na contramão da
flexibilização conduzida pelo Federal Reserve, o banco central americano, que
em setembro reduziu o juro americano em 0,50 ponto percentual, para a faixa
entre 4,75% e 5% ao ano.
Mais recentemente, é verdade, o presidente do
Fed, Jerome Powell, informou que, se a economia evoluir conforme o esperado, a
instituição irá reduzir o ritmo dos cortes para 0,25 ponto nas duas próximas
reuniões, em novembro e dezembro. Segundo ele, não haveria pressa em cortar os
juros, diante de uma situação em que a economia está forte, o mercado de
trabalho também, mas a inflação próxima à meta. Mas isso não altera o fato de
que o Fed está empreendendo um movimento contrário ao que é visto no Brasil.
Em paralelo, interlocutores do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva questionam a tese de que a economia doméstica esteja
tão sobreaquecida quanto considera o BC.
Um exemplo citado por intelocutores em
Brasília é o IPCA-15 divulgado na semana passada. Considerado a prévia da
inflação oficial no país, o indicador registrou uma alta de 0,13% em setembro,
após alta de 0,19% em agosto. Ele ficou abaixo do aumento de 0,35% registrado
em setembro de 2023. A taxa também foi a menor desde 2022, quando teve deflação
de 0,37%, e consideravelmente inferior à expectativa do mercado.
Um ponto de atenção neste caso é a energia
elétrica. O aumento do IPCA-15 foi influenciado principalmente pela vigência da
bandeira tarifária vermelha. Interessante notar que nessa terça-feira (1) o
Ministério de Minas e Energia apelou ao comando da Agência Nacional de Energia
Elétrica (Aneel) para que seja reconsiderada a decisão de acionar a bandeira
vermelha Patamar 2 para o mês de outubro.
Outros sinais que são monitorados, e que
podem ter influência na análise da utilização da capacidade instalada e da
atividade da economia, é a confiança do setor privado.
Apurado pela Confederação Nacional do
Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o Índice de Confiança do Empresário
do Comércio (Icec) teve queda de 1,6% em setembro ante agosto, para 109,9
pontos. Foi a quinta queda consecutiva do indicador, a mais intensa em cinco
meses. Também houve contração em relação ao mesmo mês do ano passado.
Já o Índice de Confiança Empresarial (ICE),
do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre),
recuou 0,8 ponto em setembro, para 96,9 pontos. Foi a primeira queda de seis
altas seguidas.
Em outra frente, é crescente a disposição
entre integrantes do Executivo de sinalizar compromisso com o arcabouço fiscal
e, mais do que isso, com uma agenda real voltada à contenção de despesas. A
decisão da agência Moody’s de elevar a nota do Brasil ajuda nessa missão de
neutralizar as críticas em relação à política fiscal, ainda que agentes do
mercado local questionem a trajetória da dívida pública.
A orientação que Lula dá aos seus auxiliares
sempre vai no sentido de que o governo não deve agir a reboque da pressão
exercida pelo mercado. É de se observar quanto irá durar esse novo momento na
relação com o Banco Central, em especial a partir da gestão de Galípolo.
Governo e setor produtivo esperam que seu mandato tenha como marca uma maior
preocupação com os efeitos da política monetária sobre a “economia real”.
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