quarta-feira, 2 de outubro de 2024

Bernardo Mello Franco – Os caminhos do voto útil

O Globo

Em SP, manifesto pró-Boulos irrita Tabata; no Rio, pressão por voto em Paes irrita Tarcísio

Na reta final do primeiro turno, a pregação pelo voto útil deu as caras nas maiores cidades do país. Em São Paulo, o apelo é para evitar um duelo entre dois candidatos da direita. No Rio, para encerrar logo a disputa pela prefeitura.

Em manifesto, artistas e intelectuais paulistanos tentam convencer eleitores de Tabata Amaral a votarem em Guilherme Boulos. O argumento é que só o psolista poderia “evitar o desfecho trágico de um segundo turno entre dois bolsonaristas”.

O texto descreve um eventual confronto entre Ricardo Nunes e Pablo Marçal como “a consagração, pelo voto popular, da violência política, da defesa da tortura, do negacionismo científico”. “Estamos diante de um risco que o país não pode correr”, dramatiza.

No Rio, políticos identificados com a esquerda passaram a pedir voto útil em Eduardo Paes para evitar um segundo turno com Alexandre Ramagem. A ofensiva foi lançada por Marcelo Freixo, ex-rival do atual prefeito.

“Agora é hora de derrotar o bolsonarismo, de ter maturidade, de votar com responsabilidade”, discursou. O apelo teve alvo certo: os eleitores de Tarcísio Motta, que estacionou nos 7% de intenções de voto.

A retórica pelo voto útil faz parte do jogo eleitoral. O risco é exagerar na dose e afastar potenciais aliados.

Em São Paulo, Tabata farejou o assédio a seus eleitores e se voltou contra Boulos nos últimos debates. Para isso, recorreu ao repertório tradicional da direita, levantando temas como aborto, legalização das drogas e até a crise na Venezuela.

A guinada indica que a deputada, antes vista como um apoio certo no segundo turno, pode subir no muro para não ajudar o escolhido de Lula.

No Rio, Tarcísio passou recibo da indignação com Freixo. “Toda vez que a gente deixa o espírito de mudança nas mãos da extrema direita, são eles que vencem, como te venceram em 2022, quando você apresentou um programa para lá de recuado”, atacou.

A lavagem de roupa suja sugere que a esquerda carioca deve sair da eleição derrotada como sempre — e mais dividida do que nunca.

 

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