quarta-feira, 2 de outubro de 2024

Vera Rosa - O dia em que Alckmin dormiu no posto

O Estado de S. Paulo

Amigos do vice veem suas andanças pelo interior como sinal de que ele pode disputar governo de SP

Enquanto a disputa para a Prefeitura de São Paulo continua embolada, Geraldo escapa para “Lins” sempre que pode, nos fins de semana, e dá um “baile” nos seguranças. Engana-se, porém, quem pensa que o destino da viagem seja a cidade localizada a 430 quilômetros da capital paulista, na região centro-oeste do Estado.

“Lins”, para o vice-presidente da República Geraldo Alckmin, significa “Local incerto e não sabido”. Foi driblando os seguranças que no fim do ano passado, por exemplo, Alckmin acabou dormindo num posto de gasolina que vende pamonha, em plena Via Dutra.

O vice estava voltando de Pindamonhangaba para São Paulo quando decidiu estacionar o carro que dirigia para dar uma cochilada. Tinha capinado um lote de seu sítio por três horas e estava cansado. Perto de 18h30, parou embaixo de uma árvore do posto, reclinou o banco e dormiu.

De repente, acordou assustado com uma mão batendo forte na janela de seu HB20 2018. “Aí, doutor! Que moleza, hein?”, afirmou o homem. Mas era assalto? “Não. Era um caminhoneiro que queria tirar retrato comigo”, disse o vice à coluna.

O susto não impediu que Alckmin continuasse apelando para “Lins” uma vez por mês. O destino preferido é sempre Pinda, cidade natal que já administrou como prefeito. “Lá, a minha academia é a enxada”, resume.

Na capital paulista, Alckmin apoia Tabata Amaral (PSB) para a Prefeitura, mas não participou de muitos atos ao lado dela. O confronto deste mês, no seu diagnóstico, não terá impacto sobre 2026, ano em que o presidente Lula deve concorrer a novo mandato. “Eleição municipal é território. Não adianta querer misturar outras coisas”, observou o vice.

Nos bastidores, amigos de Alckmin veem suas andanças pelo interior de São Paulo como um sinal de que ele poderá disputar novamente o Palácio dos Bandeirantes, em 2026, ou até mesmo o Senado, e não ser mais vice na chapa de Lula.

Tudo dependerá do cenário político até lá, incluindo os movimentos do governador Tarcísio de Freitas. “Essa hipótese não existe”, desconversa ele, que comandou quatro vezes o

Bandeirantes. “Cada coisa tem seu tempo.” Desde que deixou o PSDB e fez aliança com Lula em 2022, porém, o vice perdeu boa parte do eleitorado conservador do interior paulista.

Nesta temporada, Alckmin fez campanha em apenas nove cidades, incluindo Recife. Despista, no entanto, quando o assunto volta para suas pretensões, em 2026. Enigmático, recita versos de Martins Fontes: “Tenho a paixão da gleba circunscrita/ Quero morrer ouvindo a voz bendita/dos pausados cantares paulistanos”. Para bom entendedor, meia palavra basta.

 

Nenhum comentário: