quarta-feira, 2 de outubro de 2024

Maria Cristina Fernandes - Segundo turno está nas mãos do eleitor de Tabata

Valor Econômico

Candidata tenta fidelizar eleitor que Boulos - e Nunes - buscam atrair com ‘voto útil’

A definição do primeiro turno está, em grande parte, nas mãos do eleitor de Tabata Amaral. Apesar de as pesquisas indicarem que a candidata do PSB não tem chance de passar para o 2º turno, seu desempenho na reta final pode privar tanto Guilherme Boulos (Psol), que é a segunda opção de dois terços de seus eleitores, quanto de Ricardo Nunes (MDB), segunda opção de um terço, dos votos de que precisam para assegurar a vaga. A Quaest de segunda-feira mostrou a candidata do PSB à Prefeitura de São Paulo, pela primeira vez, além da barreira dos dois dígitos (11%), na maior subida, a única fora da margem de erro, da pesquisa.

A disposição em não abrir mão desse quinhão foi exposta pelo comportamento da candidata depois do debate do Flow na semana passada. Foram seis “merdas” e um “filha da puta” em três minutos. Despejou aborrecimento pela repercussão do murro no marqueteiro Duda Lima a ofuscar as propostas apresentadas. Antecipou, assim, as dificuldades que os adversários terão para conquistar o “voto útil” de seus eleitores.

O debate de segunda-feira (30) da Folha/UOL, só as confirmou. Ela explorou as mudanças de posição de Boulos em relação a aborto, drogas e Venezuela, mostrou que não está disposta a repetir a desidratação da atual ministra do Planejamento, Simone Tebet, no 1º turno da disputa presidencial de 2022. E, finalmente, o manifesto lançado nessa terça com 500 assinaturas de intelectuais, empresários e lideranças sociais pró-Tabata dimensionaram a pedreira de Boulos na busca por seu eleitor.

Ao contrário de Simone Tebet, que estava emparedada na política de seu Estado, Mato Grosso do Sul, no fim do mandato como senadora, e tinha, na perspectiva de compor o governo Luiz Inácio Lula da Silva, uma saída, Tabata está no início de sua carreira política, no exercício do seu segundo mandato na Câmara. Daí porque esteja a marcar posição. Se a polarização de 2022 relegou a terceira via à insignificância, o pós-Lula e o pós-Bolsonaro lhe abrem outra janela.

Por isso uma arrancada de Boulos que o distancie do tríplice empate evidenciado pela Quaest nessa segunda - Ricardo Nunes (24%), Boulos (23%) e Marçal (21%) - é uma tarefa mais árdua. Ele não passou recibo da agressividade da candidata - “somos dois candidatos do campo progressista enfrentando dois representantes do bolsonarismo” - porque acredita que o eleitor de Tabata se autonomize e aja por cálculo eleitoral para evitar Boulos fora do 2º turno.

Há dúvidas, na campanha, sobre o potencial de conversão de voto da caminhada com o presidente Lula no sábado. Daí a ampliação de iniciativas como o manifesto de notáveis pelo voto útil lançado pelo candidato do Psol nesta terça. Como o comparecimento de mulheres de ensino médio completo é superior ao de homens, a campanha de Boulos pelo voto útil está concentrada nesse segmento.

 

Nesta reta final, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) tem a máquina municipal, o horário eleitoral gratuito e o exército de candidatos a vereador de 12 partidos, além da chance de disputar, pela direita, o eleitorado, cada vez mais murcho - 6% na Quaest - de José Luiz Datena (PSDB). Já Pablo Marçal (PRTB) tem um exército digital, que indica sinais de esgotamento, e conta com um voto envergonhado e desconfiado das pesquisas, cuja dimensão é desconhecida.

Ao partir pra cima de Nunes no debate, porém, Marçal mostrou que a assertividade pública da extrema direita, da qual sua própria candidatura é mostra, revela um eleitor mais desavergonhado de suas opções. Ao candidato do PRTB, portanto, restaria tirar votos do candidato à reeleição a quem, no último debate, dirigiu, 11 vezes, a mesma pergunta sobre as razões que levaram a esposa de Nunes a registrar boletim de ocorrência, já retirado, por violência doméstica.

 

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