Folha de S. Paulo
Janja ainda encarna o papel de militante que
não condiz com sua atual posição
A informalidade em figuras públicas pode ser
um ativo, fator de identificação popular, se bem aplicada. Ou pode deslizar
para o terreno da inconveniência quando seus autores não observam os limites da
compostura adequada ao lugar que ocupam.
Tem sido o caso de repetidos excessos da mulher do presidente Luiz Inácio da Silva (PT) em situações oficiais. Rosângela da Silva demonstra não ter desencarnado do papel de militante de esquerda do qual precisaria se desvincular antes de criar um problema mais sério para o governo e ao país.
O episódio da dancinha ao desembarcar na
Índia enquanto as enchentes assolavam o Rio Grande do Sul já havia sido
constrangedor e aproveitado pela oposição o suficiente para que ela se desse
conta da necessidade de se adaptar à posição assumida lá se vão quase dois
anos.
O fato, no entanto, foi inserido no capítulo
das gafes sem maiores consequências para além de denotar uma acentuada falta de
noção sobre a liturgia do poder.
Quem quer ser atuante, ter protagonismo e
muito justamente almejar influência, deve obedecer a algumas normas. Entre as
quais a da boa educação.
Insultar quem quer que seja, da maneira como
fez a senhora Janja em
evento preparatório do G20 ao se
referir a Elon Musk com
um palavrão em nada atenuado por ter sido dito em inglês, fere a regra básica
da polidez. Mais: adocica a vida de bolsonaristas, autoriza o troco em
grosserias e ainda provoca, como provocou, embaraços a diplomatas.
Na mesma ocasião, ela usou de sarcasmo ao
abordar a explosão das bombas na praça dos Três Poderes, chamando de
"bestão" o autor do atentado que "acabou se matando com fogos de
artifício". A manifestação contrastou com a decisão de Lula de
não se pronunciar sobre o caso no desenrolar da reunião multilateral. Também se
opôs à ideia dominante no governo de que não foi ato isolado de um estúpido.
Tais declarações podem não ter potencial para
atingir as relações entre Brasil e Estados Unidos. Não devem ter. Mas prejudica
a própria Rosângela da Silva como padroeira das causas realmente importantes
que se propõe a defender.
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