O Estado de S. Paulo
G-20 e Aliança Global contra a Fome e a Pobreza são ‘gol de placa’ do Brasil
Depois de escorregões na política externa e
apesar do voluntarismo juvenil da primeira-dama Janja, a cúpula do G-20, que
reúne as maiores economias do mundo, e a criação da Aliança Global contra a
Fome e a Pobreza, que nasce com adesão de 82 países, estão sendo um grande
momento e uma vitória do Brasil, portanto, do governo e de Lula.
“A Aliança Global e a própria Cúpula são um gol de placa do Brasil”, comemorou o embaixador aposentado Rubens Barbosa, que nunca foi identificado com o PT e o lulismo, mas, sim, como um diplomata profissional e pragmático, que foi embaixador em Washington no governo FHC. O mérito do gol é do Itamaraty, mas é preciso reconhecer o empenho e a habilidade política do presidente.
O combate à fome e à miséria é bandeira de
vida toda de Lula, marco de seus dois primeiros mandatos e alavanca de sua
posição de principal líder político brasileiro na visão internacional. Antes da
aprovação da Aliança e da inclusão do tema no comunicado final, houve o cuidado
de não jogar palavras ao vento, comum em fóruns internacionais, e até seu local
foi predefinido.
A sede será na Itália da primeira-ministra
Giorgia Meloni – convenientemente de direita, para captar o engajamento e a
ação prática dos países mais ricos e afastar o preconceito de que é “coisa da
esquerda”. Lula se reuniu com Meloni antes da
Cúpula e a tratou com particular simpatia,
mas fechou a cara para Javier Milei. A Argentina, porém, apoiou a Aliança.
Barbosa (e longe de ser só ele) considera
“grande êxito do Brasil” o Comunicado Final do G20, que não tinha sido possível
nas últimas duas cúpulas por falta de consenso, principalmente, sobre as
guerras que assolam o mundo, a da Rússia e Ucrânia e a de Israel no Oriente
Médio. Foco no item 7 do comunicado, uma condenação clara às guerras.
O alvo são Vladimir Putin e Netanyahu, sem
citar os dois nem seus países: “…todos os Estados devem se abster da ameaça ou
do uso da força (…) contra a integridade territorial e soberania ou
independência política de qualquer Estado” e cobra: “…todas as partes devem
cumprir com suas obrigações sob o direito internacional, inclusive o direito
humanitário e os direitos humanos”. E, atenção: “Condenamos todos os ataques a
civis e infraestrutura”. Foi um parto, mas importante.
Talvez Lula tenha compreendido que deixar a
diplomacia agir e ser responsável nos discursos é mais produtivo para ele e os
interesses nacionais do que falar demais, de improviso e de forma arrogante em
temas que dividem o mundo. Falta a Janja aprender que “não temos de ofender
ninguém”. Nem falar o que não nos compete, na hora e no lugar errado.
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