Folha de S. Paulo
Show de horror de violência policial tem nome
e sobrenome
O show de horror de violência policial
em São Paulo tem
nome e sobrenome: Guilherme
Derrite. Alvo de um pedido de impeachment na Alesp, com apenas 40
anos, o atual secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo tem um
longo currículo funesto.
De acordo com reportagem publicada na revista Piauí, como membro do 14º Batalhão da Polícia Militar (PM) entre 2006 e 2009, Derrite teria participado de um grupo de extermínio em Osasco, cidade da região metropolitana de São Paulo, chamado "Eu sou a morte".
O grupo assassinava suspeitos de pequenos
furtos, pessoas com antecedentes criminais e, sobretudo, dependentes de drogas.
Todas as operações seriam do conhecimento de Derrite, segundo depoimento de
Wallace Oliveira Faria, segurança e soldado da PM condenado a 102 anos de
prisão por cinco mortes e seis tentativas de homicídio.
Derrite, por sua vez, avançou na carreira,
mas não por muito tempo. Em 2010, ingressou na Rota (Rondas Ostensivas Tobias
Aguiar). Porém, foi expulso após ter comandado uma operação desastrosa que
resultou na morte de seis pessoas e na prisão de três policiais.
Suas ações foram consideradas excessivamente
violentas pela própria Rota. De fato, em menos de quatro anos de atuação na PM,
antes e durante sua atuação na Rota, Derrite participou de intervenções que
resultaram em dez homicídios, como comprova sua certidão criminal.
Sem futuro na polícia, Derrite optou pela
política. Foi eleito deputado federal em 2018 e reeleito em 2022. Orgulhoso de
sua trajetória violenta pregressa, afirmou em uma entrevista a um canal de
YouTube em 2021: "Eu matei
muito ladrão". No entanto, confrontado recentemente com a
denúncia de participação no grupo de extermínio, negou as acusações.
De acordo com o Fórum de Segurança Pública, em contextos de crise, policiais
como Derrite passam a ser vistos como guerreiros desvalorizados e injustiçados
que irão repor a ordem, a moral e os bons costumes.
Daí o crescimento de 28% entre 2018 e 2022 de
candidaturas policiais, a grande maioria por partidos de direita. Em 2022,
o PL,
de Jair
Bolsonaro, foi o partido com maior número de policiais candidatos,
com 232 nomes. Em seguida figuram o PTB com 142 policiais candidatos,
Republicanos e União Brasil, ambos com 135.
No Brasil, policiais podem se candidatar sem
precisar abrir mão de suas carreiras, ao contrário de integrantes do Ministério
Público ou do Poder Judiciário. Apenas dois países são semelhantes ao Brasil
nesse sentido, Alemanha e Canadá, nos quais a atuação da polícia é bem
diferente da brasileira, com seus altos níveis de violência e letalidade.
Para Samira Bueno, diretora-executiva do
Fórum Brasileiro de Segurança Pública, "a violência policial é uma medida
populista, que muitas vezes dá voto, mas não existem evidências de que uma
polícia mais violenta é mais eficiente ou que a alta letalidade reduz
crimes". No entanto, políticas públicas de segurança baseadas em
evidências não orientam a atuação do governo desde o início. O caso das
câmeras corporais é exemplar nesse sentido.
Se o governador deseja sinalizar o oposto,
como bem apontou o ouvidor das polícias de São Paulo, Cláudio Silva, a mudança
do comando da Secretaria de Segurança Pública é imprescindível.
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