O Estado de S. Paulo
Se querem uma Suprema Corte menos ativa, que se redefinam seus poderes
Desde os eventos antidemocráticos de 8 de
Janeiro, muitos têm argumentado que o STF tem atuado de forma consistente com o
Executivo, especialmente diante de um Legislativo não tão cooperativo com o
presidente. Alguns, inclusive, especularam apressadamente que se tratava de um
novo tipo de “coalizão” do governo Lula com o STF em busca de governabilidade.
Mas a decisão do ministro Flávio Dino de impor novas restrições para que a execução das várias modalidades de emendas dos parlamentares seja retomada, referendada por unanimidade pelos demais ministros do STF, parece ter jogado por terra essa suposta coalizão.
Por recomendação expressa do STF, o
Legislativo e o Executivo deveriam encontrar uma solução negociada para tornar
as emendas transparentes e rastreáveis. A alternativa alcançada foi a aprovação
do Projeto de Lei Complementar (PLP 210/2024), sancionado sem vetos por um
presidente enfraquecido.
Para não melindrar ainda mais suas relações
com o Congresso, o Executivo fez jogo de cena e acionou a AGU que pediu
esclarecimento para o STF, argumentando que a nova Lei das emendas já
garantiria transparência e rastreabilidade na sua execução.
Por não ter ficado satisfeito com a solução
dos políticos, o STF passou da posição de árbitro do conflito entre o Executivo
e o Legislativo para se tornar o jogador que define a própria política, o que
tem gerado incômodo na sociedade.
Mas vale lembrar que não se trata de
usurpação de poderes. Quando o legislador aprovou a Constituição de 88, poderia
ter escrito regras e procedimentos detalhados, definindo limites claros de
atuação e gerenciando os micros fundamentos do processo decisório.
Mas, além de delegar amplos poderes ( corte
constitucional, recursal e criminal) para o STF, escreveu regras e
procedimentos vagos. Ou seja, transferiu ampla autoridade para que a Corte
decidisse quando e como atuar, especialmente para controlar chefes do Executivo
eventualmente desviantes.
A super delegação de poderes que o legislador
constituinte fez à Justiça, em especial à Suprema Corte, deixou completamente
vencida, portanto, a discussão normativa sobre se a definição de políticas,
como as orçamentárias, seria ou não o papel e/ou responsabilidade do Supremo.
Se querem uma Corte menos ativa, que se redefinam seus poderes. Mas é imperativo lembrar que equilíbrios piores do que o atual para os próprios políticos podem emergir de uma Suprema Corte menos poderosa.
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