Folha de S. Paulo
Inimigos do governo exploram medos e a
mudança econômica e ideológica contra o Estado
Inimigos e adversários do governo fizeram
campanha contra a medida que permitiria à Receita
Federal saber de transferências de valor superior a R$ 5.000 —apenas
se ampliava o acesso do fisco a dados de movimentações de dinheiro. Venceram.
Por ora, a
providência foi para a gaveta, outra derrota da "comunicação
política" do governo, não importa a justeza da tentativa.
Alguns desafetos do governo cometeram crimes de informação, outros fizeram política mais ou menos baixa. Conseguiram disseminar o medo. O sucesso não se deve apenas à capacidade da direita e de desafetos do Estado de fazer política pelas redes sociais. Viu-se coisa assim na campanha contra o "imposto das blusinhas". Não são casos isolados.
Mudanças sociais, econômicas, ideológicas e
culturais criaram ambiente propício para tal tipo de campanha. O fato de parte
relevante da economia ser informal alimentou também o medo. Nas redes, era
possível ler montes de "posts" sobre a fiscalização do Pix ser uma
"malha fina" da Receita para pescar e tributar rendimentos de
autônomos.
A disseminação de ideias liberais ou também
de direita torna mais intensa a desconfiança do Estado, visto por parte da
população como empecilho econômico e burocrático, cobrador voraz de impostos
que não resultam em contrapartidas e gastador de dinheiro com
"políticos", mordomias e roubanças.
Cerca de 20% dos jovens e das crianças
matriculadas no ensino básico (até o ensino médio) vão para escolas privadas
(dados do Censo Escolar do Ministério da Educação).
Segundo Agência Nacional de Saúde
Suplementar, 51,4 milhões de brasileiros eram beneficiários de planos de saúde
privados em 2024, mais de 24% da população. São minorias, mas grandes e vocais.
De resto, muita esperança de ascensão social se traduz também no desejo de não
depender dos três maiores serviços sociais públicos (Previdência, saúde e
educação).
A bancarização tornou mais gente suscetível à
campanha de medo. O número de "usuários ativos" pessoas físicas do
sistema financeiro, pagamentos e/ou crédito, passou de 77,2 milhões (46,8% dos
adultos) em 2018 para 152 milhões (87,7%) em 2023.
São dados do Relatório de Economia Bancária
do Banco
Central. Quanto a pessoas jurídicas (inclusive microempreendedores
individuais), o número foi de 3,4 milhões para 11,6 milhões. "Usuário
ativo" é quem fez operação no sistema financeiro no período de três meses.
A parcela de pessoas que têm rendimento do
trabalho por serem "empresários" ou trabalhadores "por conta
própria" (na definição do IBGE) passou de 26,3% do total em 2012 para
29,2% em 2024. Mas é provável que mais gente com outros empregos tenha também
rendimento de trabalho "por conta". O trabalho vem sendo pejotizado.
A carga tributária do Brasil (federal,
estadual e municipal, somadas) é relativamente alta. Mas mudou pouco desde 2002
—flutuou em torno de 32,5% do PIB (dados do Observatório de Política Fiscal do
FGV-Ibre). A revolta ruidosa contra impostos, porém, é mais recente.
O conflito distributivo (disputa por
dinheiros do Estado e impostos) está escancarado desde a crise de 2015-16. Tem
piorado, vide as revoltas contra tributos, dada a necessidade do governo de
conter despesas e/ou elevar receitas a fim de evitar crescimento desastroso da
dívida pública.
Lula 3 parece
entender pouco da política desse novo ambiente.
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