Muitas pessoas bem intencionadas ou desconhecedoras da história política brasileira assumem posturas que renegam a importância do centro político nas conquistas democráticas. Atribuem os atalhos como o melhor caminho, mas, em política, muitas das vezes seria a forma de abreviar a queda num precipício. O Brasil atravessava uma forte recessão econômica com taxas elevadas de inflação em 1983 (164,01%), 1984 (215,26%) e 1985 (242,23%). Essa era uma das heranças do autoritarismo brasileiro que nos permitiu modernizar com uma espiral de desigualdade social e a estabilidade econômica conciliada a um Estado de Bem Estar Social no arcabouço da Carta de 1988 é fruto dessa “engenharia política” conciliadora.
Foi Tancredo Neves um
político moderado e de centro que melhor expressou as condições para conciliar
as forças democráticas com os dissidentes do antigo regime (a Frente Liberal) e
propôs um ex-presidente do partido da ARENA/PDS como seu companheiro de chapa.
A lição política do entendimento para nos permitir o encerramento da ditadura
por meio de uma eleição indireta através de amplos comícios em todo o país.
Esse é o momento de relembrar os ex-deputados Airton Soares, Bete Mendes e José
Eudes que entenderam a grandeza daquele momento político e não se ausentaram do
Colégio Eleitoral.
Uma “onda” de
redemocratização esteve rondando o Cone Sul em 1985. Argentina, Brasil e
Uruguai ingressavam em um processo de transição democrática que os limites de
espaço não nos permite aqui detalhar. Para a rápida localização de nossos
leitores o Uruguai de Pepe Mujica e a Frente Ampla naquele instante se abriu a
democratização com Julio Maria Sanguinetti eleito na sequência do “Pacto do
Clube Naval”. No caso da Argentina, a eleição de Raúl Alfonsín em 1983 foi sob
o impacto da derrota na “Guerra das Malvinas”, ou seja, as FFAA estavam muito
enfraquecidas o que permitiu os eventos que se vê no filme Argentina:
1985.
Ainda lemos lideranças
políticas do “campo progressista” a desdenhar nossa democracia como se fosse
“falsa” por conta de seus contrates, mas é essa a natureza da prática desse
regime que a sua imperfeição é sua melhor qualidade. Não podemos alimentar esse
“negacionismo político” uma vez que só está a reforçar o discurso
“anti-sistema”. Então, muito vagar com essas posturas sectárias que nos faz ver
apenas o “Centrão” no meio político entre uma distorcida polarização política.
Devemos reconhecer que o
Brasil de 1985 nos deixou um legado de conciliação que faltou em outras partes
do mundo como o fim da URSS ou nos conflitos do Afeganistão, da ex-Iugoslávia e
Iraque. O destino da conciliação é uma característica que herdamos de nossa
formação do legado ibérico, portanto nossa história política e social incomoda
aqueles que desejam reconhecimento das fraturas para aprofunda-las. Seriam
filhos de Paulo Prado que escreveu Retrato do Brasil: ensaio sobre a
tristeza brasileira.
Lembrai-vos da personagem
Eunice Paiva ao estimular que iriam sorrir para a fotografia. O sorriso de
Eunice se encontrou/conciliou com o sorriso de Tancredo Neves em 15 de janeiro
de 1985.
¹ – Ver https://votopositivo-cg.blogspot.com/2024/07/boletim-brasilia-conection-bbc-051-1974.html. Acessado em 15 de janeiro de 2025.
*Vagner Gomes de Souza é
doutorando no PPGCP-UNIRIO.
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