Folha de S. Paulo
Dada a carência da população brasileira, além
do serviço débil prestado pelo Legislativo, nada justifica a montanha de gastos
A deputada federal Erika
Hilton (PSOL-SP) foi criticada nas redes sociais por contratar maquiadores como assessores parlamentares.
Na Justiça, uma juíza federal deu 20 dias para que ela explique a contratação
de uma empresa de segurança que possuiria atuação e registro nebulosos.
Hilton se diz perseguida por ser trans, o que não passa de ad hominem. Escrutinar o uso de dinheiro público é função
básica da imprensa, e o mau uso desse dinheiro por políticos no Brasil é
histórico, independentemente de identidade de gênero ou partido.
Em março, o STF homologou
acordo entre o deputado federal André Janones (Avante-MG) e a PGR, no qual ele admite
ter cometido peculato —no caso, utilizar cartão de crédito de um assessor para
despesas pessoais— e aceita pagar multa para evitar um processo criminal.
Por prática semelhante (a tal "rachadinha"), quando era deputado
estadual no Rio de Janeiro, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) foi denunciado, mas o
processo foi arquivado. Em 2020, a Folha revelou indícios de que o mesmo crime pode ter sido
cometido por Jair Bolsonaro (PL), durante seu mandato na Câmara.
Contudo, à parte a notória má índole de parlamentares, há um problema
estrutural. O Brasil gasta muito com o Legislativo, ao encher congressistas de
mimos, além de salários já elevados para a realidade nacional.
Em pesquisa de 2022 que envolveu universidades americanas e a UnB e avaliou 33
países, nosso Congresso foi o segundo mais caro em números absolutos, com
orçamento de US$ 2,98 bilhões, perdendo apenas para os EUA (US$ 4,73 bilhões).
Mas o montante brasileiro corresponde a 0,15% do PIB, enquanto o americano é de
0,02% do PIB.
O gasto com cada congressista no Brasil representa 528 vezes a renda média dos
cidadãos, o maior do ranking. Em segundo lugar está a Argentina (228 vezes).
Dada a carência da maioria da população, além do serviço débil prestado pelo
Legislativo aqui, nada justifica essa montanha de verbas, assessores e
penduricalhos. Precisamos de um Congresso austero, não perdulário.
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