quinta-feira, 18 de setembro de 2025

No Congresso, o fundo do poço não tem fim. Por Adriana Fernandes

Folha de S. Paulo

Manobra do PL para livrar Eduardo Bolsonaro desmoraliza a oposição

Motta precisa explicar se fez acordo com partido para aceitar filho de ex-presidente como líder mesmo fora do país

A indicação pelo PL de Eduardo Bolsonaro como líder da minoria na Câmara na tentativa de salvar o parlamentar de um processo de cassação do mandato por faltas é o retrato da completa desmoralização da oposição no Brasil.

Dos Estados Unidos, onde estimula o tarifaço de produtos brasileiros e novas ameaças de sanções do governo Donald Trump, o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro não poderá despachar uma pauta, discutir as propostas, encaminhar a votação.

As imagens e falas do anúncio da substituição da deputada Caroline de Toni (PL-SC) do cargo, com a presença de vários deputados do partido, escancaram o esculacho que se tornou o processo legislativo no Congresso Nacional com a quebra constante do rito regimental e todos os tipos de acordão.

O líder da oposição continua sendo o deputado do Rio Grande Sul Luciano Zucco, que também é do PL, partido que patrocinou a troca para favorecer Eduardo Bolsonaro. Para ajudar a família Bolsonaro, vale tudo.

A troca do PL não pode ser aceita pelo presidente da Câmara, Hugo Motta, que tentou tirar o corpo fora ao dizer que a escolha de líderes não depende da presidência da Casa. Falta o chefe da Câmara esclarecer se fez mesmo um acordo com o PL para garantir a manobra, como propagam parlamentares da legenda da família Bolsonaro.

A tentativa de livrar Eduardo passa por regras mínimas de decoro parlamentar, que tratam da boa conduta individual que se espera ser adotada pelos políticos, representantes eleitos da sociedade.

Acordos obscuros na Câmara têm ganhado escala com completa normalização pelos parlamentares. O último da vez garantiu a aprovação da PEC da Blindagem.

Os deputados estão com medo do que pode sair do avanço das investigações sobre desvios de emendas parlamentares. O STF tem quase uma centena de inquéritos abertos para investigar parlamentares e ex-parlamentares suspeitos de crimes relacionados ao envio dos recursos. A PEC dá salvaguarda a eles.

No Congresso dos dias atuais, o fundo do poço não tem fim

 

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