O Estado de S. Paulo
Gonet prepara denúncia contra Silas Malafaia em tentativa de reconstruir ponte com militares
Encerrado o julgamento da trama golpista, que
resultou na condenação de 21 militares e oito civis, o procurador-geral da
República, Paulo Gonet, prepara uma nova denúncia ao Supremo Tribunal Federal
(STF). O alvo da vez será o pastor Silas Malafaia, que organizou manifestações
em defesa de Jair Bolsonaro, atacou a democracia, defendeu anistia a golpistas
e xingou ministros da Corte nos últimos anos.
Malafaia, no entanto, não será denunciado agora por crime ligado à tentativa de golpe de Estado, mas por ofensa à honra dos militares – que também foram alvo de ataques do pastor. No estilo morde-e-assopra, o recorte de Gonet marca uma tentativa de reconstrução da ponte entre o Judiciário e as Forças Armadas após as condenações criminais e prisões impostas a detentores de altas patentes.
A ideia do procurador-geral é apresentar a
denúncia até amanhã, último dia de funcionamento do STF antes do recesso. Caso
não consiga finalizar a peça até lá, o plano será adiado para fevereiro de
2026, quando o tribunal retoma as atividades.
Ao defender a honra dos militares, Gonet também tenta amenizar o próximo capítulo de traumas no horizonte das Forças Armadas: no ano que vem, condenados pelo STF correm o risco de perder cargos e patentes em julgamentos no Superior Tribunal Militar (STM).
Em abril deste ano, Malafaia promoveu um ato
em defesa da anistia dos condenados pelo 8 de Janeiro. Do alto de um carro de
som na Avenida Paulista, criticou generais do Exército. “Cambada de frouxos,
cambada de covardes, cambada de omissos. Vocês não honram a farda que vestem.
Não é para dar golpe, não, é para marcar posição”, gritou ao microfone.
Dias depois, Bolsonaro apoiou o pastor
publicamente. “Fiquei muito triste não com o Malafaia, mas com as verdades que
ele falou”, declarou em entrevista.
Em abril do ano passado, Malafaia usou um ato
em defesa do ex-presidente para cobrar a renúncia dos três comandantes das
Forças Armadas – Marcos Olsen, da Marinha; Tomás Paiva, do Exército; e Marcelo
Damasceno, da Aeronáutica. Parte da multidão vaiou a sugestão.
A Polícia Federal investiga Malafaia por
tentativa de obstrução da Justiça nas investigações sobre a trama golpista.
Trocas de mensagens descobertas pela PF indicam que o pastor participou da
articulação de uma campanha para pressionar o STF a liberar Bolsonaro do
processo sobre a trama golpista.
Por ora, a Procuradoria-Geral da República (PGR) não tem planos de apresentar denúncia contra Malafaia ao STF por esse motivo.

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