quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

A vez de Malafaia responder ao STF. Por Carolina Brígido

O Estado de S. Paulo

Gonet prepara denúncia contra Silas Malafaia em tentativa de reconstruir ponte com militares

Encerrado o julgamento da trama golpista, que resultou na condenação de 21 militares e oito civis, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, prepara uma nova denúncia ao Supremo Tribunal Federal (STF). O alvo da vez será o pastor Silas Malafaia, que organizou manifestações em defesa de Jair Bolsonaro, atacou a democracia, defendeu anistia a golpistas e xingou ministros da Corte nos últimos anos.

Malafaia, no entanto, não será denunciado agora por crime ligado à tentativa de golpe de Estado, mas por ofensa à honra dos militares – que também foram alvo de ataques do pastor. No estilo morde-e-assopra, o recorte de Gonet marca uma tentativa de reconstrução da ponte entre o Judiciário e as Forças Armadas após as condenações criminais e prisões impostas a detentores de altas patentes.

A ideia do procurador-geral é apresentar a denúncia até amanhã, último dia de funcionamento do STF antes do recesso. Caso não consiga finalizar a peça até lá, o plano será adiado para fevereiro de 2026, quando o tribunal retoma as atividades.

Ao defender a honra dos militares, Gonet também tenta amenizar o próximo capítulo de traumas no horizonte das Forças Armadas: no ano que vem, condenados pelo STF correm o risco de perder cargos e patentes em julgamentos no Superior Tribunal Militar (STM).

Em abril deste ano, Malafaia promoveu um ato em defesa da anistia dos condenados pelo 8 de Janeiro. Do alto de um carro de som na Avenida Paulista, criticou generais do Exército. “Cambada de frouxos, cambada de covardes, cambada de omissos. Vocês não honram a farda que vestem. Não é para dar golpe, não, é para marcar posição”, gritou ao microfone.

Dias depois, Bolsonaro apoiou o pastor publicamente. “Fiquei muito triste não com o Malafaia, mas com as verdades que ele falou”, declarou em entrevista.

Em abril do ano passado, Malafaia usou um ato em defesa do ex-presidente para cobrar a renúncia dos três comandantes das Forças Armadas – Marcos Olsen, da Marinha; Tomás Paiva, do Exército; e Marcelo Damasceno, da Aeronáutica. Parte da multidão vaiou a sugestão.

A Polícia Federal investiga Malafaia por tentativa de obstrução da Justiça nas investigações sobre a trama golpista. Trocas de mensagens descobertas pela PF indicam que o pastor participou da articulação de uma campanha para pressionar o STF a liberar Bolsonaro do processo sobre a trama golpista.

Por ora, a Procuradoria-Geral da República (PGR) não tem planos de apresentar denúncia contra Malafaia ao STF por esse motivo.

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