quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

Flávio avança no figurino de Tarcísio. Por Julia Duailibi

O Globo

A candidatura do senador hoje vale mais para o clã do que uma aposta no governador de São Paulo

Flávio Bolsonaro quer o figurino de Tarcísio de Freitas. Animado com a pesquisa Quaest, que mostrou desempenho melhor que o do governador paulista no primeiro turno, foi para a rua dizer que o moderado é ele.

— Sempre pediram um Bolsonaro mais moderado. Eu sou esse Bolsonaro mais moderado, equilibrado, centrado — disse ontem, ao deixar a casa de um empresário, no quintal eleitoral do governador.

Flávio busca avançar no que Tarcísio tem de melhor na comparação com ele: o eleitor de centro. Segundo a Quaest, esse grupo soma 32% do eleitorado e é o que definirá a eleição — em 2018, foi com Bolsonaro; em 2022, com Lula. Hoje, sete em cada dez eleitores de centro não votariam em Flávio. A rejeição é de 69%, ante 38% de Tarcísio. No segundo turno, a diferença entre o governador e Lula nesse eleitorado é de 5 pontos: Tarcísio tem 29% ante 34% do presidente. Flávio amarga 14 pontos de diferença na disputa com Lula pelo centro: 23% a 37%.

Mas ele será mesmo candidato? O entorno de Bolsonaro aposta que a candidatura, hoje, é para valer. Por um simples fato: a candidatura vale mais para o clã que uma aposta em Tarcísio. Flávio é a única possibilidade de manter o bolsonarismo vivo ao reeditar a estratégia feita por Lula, também da prisão, quando lançou Haddad para o sacrifício em 2018. De todas as trapalhadas promovidas pela família, essa é das poucas que atendem a uma lógica eleitoral. O passe de Bolsonaro havia desvalorizado minutos depois de sua prisão. Agora, ele volta a dar as cartas na direita.

A candidatura de Flávio mantém o nome da família — e não o de Tarcísio — como protagonista da polarização com o PT e, de quebra, ajuda a fazer uma boa bancada de deputados e senadores, um dos principais interesses da direita não moderada. Por que a família abriria mão desse ativo para Tarcísio de Freitas, que, para vencer no segundo turno, teria de negar o bolsonarismo? Bolsonaro sabe que, em caso de vitória de Tarcísio, ele poderia até receber o indulto, mas estaria morto politicamente, limitado a 12% do eleitorado que se declara bolsonarista. Flávio, sem o cargo de senador, perderia o foro privilegiado, mas aliados dizem que ser julgado no STF hoje significa risco maior. E, pela regra em vigor — regra alterada e usada no julgamento do pai —, ele ainda responderia no STF por eventuais crimes cometidos no mandato atual.

Não faz o menor sentido Flávio desistir de uma candidatura agora. Fora que, a depender do “preço” que cobre para isso, não vale a pena Tarcísio pagar. A rejeição ao Zero Um é gigantesca, seis em cada dez não votariam nele. Levar isso para a chapa é dar um teto para Tarcísio no segundo turno, neutralizando o potencial de avanço pelo centro.

Com o figurino de moderado e mirando a força política para além dos 12%, Flávio busca erodir as bases de sustentação de Tarcísio: o mercado financeiro e o empresariado. O mercado já começou a se reposicionar nesta semana, mas ainda guarda esperança. A aliados, o governador já disse: se Flávio continuar no jogo, ele fica no banco de reservas. Aí o figurino de moderado passa para Flávio, e muita gente está disposta a acreditar nele.


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