O Globo
A candidatura do senador hoje vale mais para
o clã do que uma aposta no governador de São Paulo
Flávio Bolsonaro quer o figurino de Tarcísio
de Freitas. Animado com a pesquisa Quaest, que mostrou desempenho melhor que o
do governador paulista no primeiro turno, foi para a rua dizer que o moderado é
ele.
— Sempre pediram um Bolsonaro mais moderado. Eu sou esse Bolsonaro mais moderado, equilibrado, centrado — disse ontem, ao deixar a casa de um empresário, no quintal eleitoral do governador.
Flávio busca avançar no que Tarcísio tem de
melhor na comparação com ele: o eleitor de centro. Segundo a Quaest, esse grupo
soma 32% do eleitorado e é o que definirá a eleição — em 2018, foi com
Bolsonaro; em 2022, com Lula. Hoje, sete em cada dez eleitores de centro não
votariam em Flávio. A rejeição é de 69%, ante 38% de Tarcísio. No segundo
turno, a diferença entre o governador e Lula nesse eleitorado é de 5 pontos:
Tarcísio tem 29% ante 34% do presidente. Flávio amarga 14 pontos de diferença
na disputa com Lula pelo centro: 23% a 37%.
Mas ele será mesmo candidato? O entorno de
Bolsonaro aposta que a candidatura, hoje, é para valer. Por um simples fato: a
candidatura vale mais para o clã que uma aposta em Tarcísio. Flávio é a única
possibilidade de manter o bolsonarismo vivo ao reeditar a estratégia feita por
Lula, também da prisão, quando lançou Haddad para o sacrifício em 2018. De
todas as trapalhadas promovidas pela família, essa é das poucas que atendem a
uma lógica eleitoral. O passe de Bolsonaro havia desvalorizado minutos depois
de sua prisão. Agora, ele volta a dar as cartas na direita.
A candidatura de Flávio mantém o nome da
família — e não o de Tarcísio — como protagonista da polarização com o PT e, de
quebra, ajuda a fazer uma boa bancada de deputados e senadores, um dos
principais interesses da direita não moderada. Por que a família abriria mão
desse ativo para Tarcísio de Freitas, que, para vencer no segundo turno, teria
de negar o bolsonarismo? Bolsonaro sabe que, em caso de vitória de Tarcísio,
ele poderia até receber o indulto, mas estaria morto politicamente, limitado a
12% do eleitorado que se declara bolsonarista. Flávio, sem o cargo de senador,
perderia o foro privilegiado, mas aliados dizem que ser julgado no STF hoje
significa risco maior. E, pela regra em vigor — regra alterada e usada no
julgamento do pai —, ele ainda responderia no STF por eventuais crimes
cometidos no mandato atual.
Não faz o menor sentido Flávio desistir de
uma candidatura agora. Fora que, a depender do “preço” que cobre para isso, não
vale a pena Tarcísio pagar. A rejeição ao Zero Um é gigantesca, seis em cada
dez não votariam nele. Levar isso para a chapa é dar um teto para Tarcísio no
segundo turno, neutralizando o potencial de avanço pelo centro.
Com o figurino de moderado e mirando a força
política para além dos 12%, Flávio busca erodir as bases de sustentação de
Tarcísio: o mercado financeiro e o empresariado. O mercado já começou a se
reposicionar nesta semana, mas ainda guarda esperança. A aliados, o governador
já disse: se Flávio continuar no jogo, ele fica no banco de reservas. Aí o
figurino de moderado passa para Flávio, e muita gente está disposta a acreditar
nele.

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