quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

Um código para o STF. Por William Waack

O Estado de S. Paulo

Não existe nenhum para regular a conduta política quando se trata de crise institucional

A discussão sobre a implantação de um código de conduta para integrantes de tribunais superiores, começando pelo STF, merece outro nome. É crise de legitimidade. Algo seriíssimo, pois não há nada acima do supremo poder do Supremo. É difícil marcar a data de início dessa crise. Os elementos que a compõem são em parte de longo prazo e estão associados a uma permanente sensação de insegurança jurídica. Precede, portanto, o embate com o bolsonarismo a partir da pandemia, quando o então presidente achou que o STF o impedia de governar.

“Distorções no comportamento” da Corte já foram chamadas de forma irônica e certeira de “Catimba Constitucional” (Rubens Glezer) e compõem longa lista de publicações acadêmicas, inclusive. O bolsonarismo não inventou a percepção negativa (justificada ou não) de vastas camadas da sociedade em relação ao STF, mas fez disso uma bandeira política – ingrediente típico de populismos autoritários.

Acabou-se criando uma “armadilha” histórica, um turbilhão político no qual o STF caiu e aprofundou pela maneira como reagiu ao desafio institucional do bolsonarismo. Para todos os efeitos do embate político brasileiro, virou uma situação de o ovo ou a galinha: foi o bolsonarismo que obrigou o STF a apelar ao excepcionalismo ou foi o excepcionalismo da atuação política do STF que alimentou o bolsonarismo?

Da mesma maneira, foi o STF o causador “consciente” da acentuada distorção na relação entre os Poderes ou foi esse desequilíbrio (também de longa data) que conduziu o Supremo a se tornar mais uma instância política, ainda por cima a mais decisiva? Como acontece com enorme frequência na política, mas costuma ser pouco reconhecido, os personagens são muito mais conduzidos pelos acontecimentos do que são capazes de dirigi-los.

A coesão interna do STF foi diminuindo em proporção direta ao escancarado papel público de alguns de seus integrantes, e seus abertos desígnios políticos. A lista é enorme e abrange da lealdade política ao chefe do Executivo atual à arrogância intelectual de projetos de engenharia social, passando pelo puro e simples apego às vantagens do excepcionalismo do poder monocrático de uma caneta.

Em outras palavras, a questão não é apenas o código de conduta individual de seus integrantes, que forneceram eles mesmos armas a seus críticos – consequência direta do comportamento arrogante de quem exerce poder sem controle. O problema é que não existe “código de conduta” político quando se trata de crise institucional como a que o País enfrenta. Depende do imprevisível desfecho dela. •

 

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