quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Opinião do dia: Norberto Bobbio

Não é fora de propósito recordar que as várias atitudes que os intelectuais podem assumir diante da tarefa que deles se espera na vida social – atitudes que suscitam contínuas diatribes e formam o objeto principal do assim chamado problema dos intelectuais - correspondem exatamente aos vários modos pelos quais, ao longo dos séculos, as diversas escolas filosóficas procuraram dar uma solução para o problema da relação entre as obras do intelecto, da mente ou do espírito e o mundo das ações: tal problema, considerado do ponto de vista dos sujeitos respectivamente de umas e de outras, pode ser reformulado, para usar uma frase celebérrima, como o problema da relação entre aqueles que são chamados para compreender ou interpretar o mundo e aqueles que são chamados para transformá-lo.
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Norberto Bobbio (1909-2004). ‘Os intelectuais e o poder’, p.111 – Editora Unesp, 1996.

Merval Pereira: Proposta de desenvolvimento

- O Globo

É preciso estabelecer o conjunto de competências para a formação de professores, diz o documento dos economistas

Há mais de um ano, um grupo de economistas coordenado por Flávio Ataliba e Claudio Frischtak vem preparando documento de propostas de políticas públicas para o novo governo. O grupo de discussão, com mais de 200 economistas, existe há mais de três anos, e a proposta conta até o momento com 110 signatários, entre eles Alexandre Schwartsman, Bernard Appy, Cláudio Considera, Elena Landau, Fabio Giambiagi, Gustavo Loyola, José Júlio Senna, José Márcio Camargo, Manuel Thedim, Otaviano Canuto, Samuel Pessôa.

O conjunto de princípios, iniciativas e políticas públicas é construído em torno de 13 diretrizes gerais, distribuídas em quatro grandes áreas: âmbito macro e microeconômico, social, segurança pública e ambiental. O documento foi discutido em seminários na Fundação Getulio Vargas (FGV).

Há o consenso de que, sem reformas, estaremos fadados a um longo período de estagnação, ou pior. As mudanças propostas serão capazes de impulsionar o crescimento sustentado pelos próximos anos.

As políticas macroeconômicas são: 1 —Autonomia do Banco Central, com o objetivo de estabilidade de preços no regime de metas de inflação com câmbio flutuante. 2 — Responsabilidade fiscal apoiada por uma reforma da Previdência consistente com os imperativos demográficos, de equidade e sustentabilidade fiscal; reforma administrativa para ajustar os gastos do Estado com pessoal e custeio; e uma reforma patrimonial, centrada na desestatização de empresas públicas e venda de ativos. 3 —Uniformização e simplificação da tributação do consumo, da renda e da folha, e revisão dos regimes simplificados de tributação para elevar a produtividade e melhorar a distribuição de renda. 4 —Integração do país nas correntes de comércio, investimento e inovação.

Míriam Leitão: A renovação e o jovem político

- O Globo

A renovação nestas eleições de 2018 trouxe, em alguns casos, uma nova forma de se fazer política e estar conectado com os eleitores

Esta eleição teve muita renovação, mas os jovens são ainda pequena minoria nos partidos. Há mais filiados com mais de 79 anos do que gente entre 18 e 24, diz o cientista político Lúcio Rennó. Existem alguns casos animadores em que eles chegam não apenas com sua juventude, mas com novas formas de se relacionar com os eleitores. É o caso do mandato compartilhado, do mandato conjunto, ou até mesmo a convicção do eleito de que recebeu na urna uma orientação de trabalho.

Entrevistei recentemente três deputados de primeiro mandato e que decidiram disputar as eleições no movimento de renovação da política. Três casos exemplares, mas diferentes entre si. Felipe Rigoni foi eleito pelo PSB do Espírito Santo para a Câmara Federal. Ele perdeu a visão aos 15 anos por uma doença congênita, é engenheiro de produção, trabalhou no movimento de empresas juniores e foi para Oxford estudar com uma bolsa da Fundação Lemann e entrou no RenovaBR. Felipe quer uma relação constante com os eleitores e fará isso através de aplicativos que todo cidadão capixaba poderá baixar. Montou também uma rede de instituições com as quais vai discutir os projetos, e inclusive as emendas que apresentará. Ele é um defensor do empreendedorismo.

—Desde que participei de movimento de empresas juniores, aprendi que nada é mais poderoso que o momento em as pessoas se sentem donas de um projeto. Por isso, pensei no mandato compartilhado para que as pessoas e instituições possam interagir comigo —afirma Felipe.

Jô Cavalcanti é deputada estadual em Pernambuco pelo PSOL, mas fez a sua campanha com outras quatro mulheres, na ideia de exercer um mandato conjunto. Ela é ambulante, mas há uma professora, uma jornalista, uma advogada, uma trans. E Jô diz que é preciso, com movimentos assim, “reiventar a esquerda”. As cinco são ativistas de diversas causas e são todas feministas.

—O governo de Pernambuco é de esquerda, mas nós somos mais de esquerda. Haverá momentos de divergir, mas como o cenário nacional é bem extremo, haverá momentos também de convergir —diz Jô.

Bernardo Mello Franco: O velho PFL volta ao coração do poder

- O Globo

O DEM já garantiu três ministérios no governo Bolsonaro. As nomeações causam ciúmes em outros partidos, que ameaçam boicotar a reeleição de Rodrigo Maia na Câmara

O atual superintendente da Polícia Federal no Paraná, Maurício Valeixo, foi indicado pelo futuro ministro da Justiça, Sergio Moro, para comandar a corporação. A nova gestão terá como foco o combate à corrupção e ao crime organizado. Valeixo atuou no caso Banestado e na Lava-Jato ao lado de Moro. Depois de amargar 13 anos na oposição, o DEM retomou a vocação governista com Michel Temer. Mas é pelas mãos de Jair Bolsonaro que o partido voltará ao coração do poder.

Na gestão que termina, o antigo PFL comandou a pasta da Educação. Na que começa, terá três ministérios para chamar de seus. Até a semana passada, a sigla já havia garantido a Casa Civil e a Agricultura. Agora ampliou seus domínios para a Saúde, com a escolha do deputado Luiz Henrique Mandetta.

O partido não ocupava tanto espaço na Esplanada desde 2001, quando o presidente Fernando Henrique Cardoso rompeu a aliança com Antonio Carlos Magalhães. No ano seguinte, Lula se elegeu e a legenda passou a definhar. Sua bancada federal despencou de 105 deputados eleitos em 1998 para apenas 21 em 2014.

Elio Gaspari: A ‘sala vermelha’ da tortura

- O Globo

Baseado em documentos da Justiça, o repórter Rafael Soares mostrou que quatro cidadãos presos na madrugada de 20 de agosto durante uma operação militar em favelas da Penha, no Rio de Janeiro, denunciaram torturas sofridas num quartel da 1ª Divisão de Exército (DE). Eles teriam sido levados para uma “sala vermelha”, onde três pessoas com os rostos cobertos e sem fardas deram-lhes “madeiradas” e chicotearam-nos com fios elétricos. Um deles informou que a sessão durou cerca de 20 minutos. Todos eram interrogados para identificar traficantes da região. O grupo permaneceu no quartel por 17 horas, até ser levado para uma delegacia. Continuam presos, acusados de traficar drogas.

Durante a operação nas favelas da Penha, do Alemão e da Maré , traficantes mataram um cabo e dois soldados do Exército. Foram presas 86 pessoas e apreendidos 15 fuzis, 27 pistolas e 11 granadas de mão. A despeito das baixas, essa pode ter sido a ação mais eficaz das forças da ordem desde o início da intervenção militar na segurança do Rio.

Num primeiro momento, a denúncia dos presos levados para o quartel da 1ª DE foi desprezada. Depois que surgiram novas informações, o comando militar decidiu investigar o caso.

Desde fevereiro, quando sete pessoas foram mortas no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, paira sobre uma tropa do Exército a suspeita de ter praticado uma chacina. No caso, poderia ter havido um confronto, mas ainda não se sabe o que aconteceu. Na denúncia da tortura da “sala vermelha”, os presos teriam conexão com o tráfico, e um deles é reconhecidamente viciado, mas o episódio teria ocorrido dentro de um quartel do Exército.

Julio Wiziack: Reformar ou governar?

- Folha de S. Paulo

Bolsonaro já percebeu que discurso do novo jeito de fazer política pode não ser concretizado

Jair Bolsonaro se elegeu presidente prometendo acabar com o velho jeito de se fazer política, mas, sem quadros para montar seu governo, pode ter o discurso arruinado pelas articulações do deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), futuro ministro da Casa Civil.

O congressista tenta emplacar o ministro da Infraestrutura, afastando militares próximos a Bolsonaro.

Há 15 dias, o vice-presidente, general Hamilton Mourão, um dos responsáveis por esse tema, entregou para o presidente eleito o nome para ocupar o Ministério de Minas e Energia. Onyx tenta viabilizar sua própria indicação, costurada depois de conversas com o MDB do presidente Michel Temer.

Na saúde e na educação não é diferente. Na economia, reduto do futuro ministro Paulo Guedes, as ingerências políticas também marcam presença.

Enquanto Guedes pretende agregar o Ministério de Indústria e Comércio à pasta da Economia (além da Fazenda e do Planejamento), Onyx conquista apoio da ala evangélica para mantê-lo independente e, provavelmente, com um ministro indicado pela bancada. Em troca, barganha apoios contra a reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) à presidência da Câmara.

Fernando Canzian: Grama do vizinho

- Folha de S. Paulo

Lugar onde nascemos e vivemos influencia em até dois terços da renda que teremos em nossas vidas

Estudos sobre desigualdade sugerem que fazemos parte de um mundo em que até dois terços da renda que obteremos em nossas vidas serão consequência do lugar onde nascemos e vivemos.

Intuitivamente, imigrantes que tentam entrar nos EUA e na Europa sabem disso. Se perderam a chance na largada, ao nascer, darão um salto instantâneo ao emigrar para um ambiente mais vantajoso em oportunidades, renda e infraestrutura.

Esse desejo será tão maior quanto mais verde parecer o quintal do vizinho. Contam ainda as probabilidades de melhora do nosso gramado.

No Brasil, 62% dos jovens iriam embora se pudessem, segundo o Datafolha. E nossas décadas de baixo crescimento contrastam, em nível global, com uma das fases mais positivas em termos de redução da desigualdade para o grosso da humanidade.

O economista Branko Milanovic, ex-diretor do Banco Mundial e autor de “Global Inequality” (Harvard University Press) chama de “classe média global emergente” os grandes beneficiários da onda globalizante que o mundo viveu a partir de 1988.

Nove entre dez deles vivem em economias asiáticas, predominantemente na China, mas também na Índia, na Tailândia, no Vietnã e na Indonésia.

Vinicius Torres Freire: Cresce medo de resfriado americano

- Folha de S. Paulo

Tombo feio nas Bolsas é reação ao começo da perda de ritmo da economia dos EUA

O povo do dinheiro está nervoso nos Estados Unidos. No final do feriadão brasileiro e pouco antes do feriadão de Ação de Graças americano, as Bolsas tomaram outro tombo, daqueles feios que vêm levando desde o Outubro Vermelho.

Essa história pode ter interesse para o Brasil, além da confusão que deve acontecer hoje nos mercados daqui.

Dadas as perdas de um mês para cá, os principais índices das Bolsas americanas voltaram ao nível do início do ano —ganho zero. A taxa de juros de dez anos deu uma acalmada.

O preço do petróleo (Brent) voltou a níveis de final do ano passado, baixando mais de 25% desde o pico de outubro passado. Pelo menos até a reunião da Opep do começo de dezembro, a previsão é que vai sobrar petróleo.

A perda do valor das empresas de tecnologia está para lá do trilhão de dólares (considerados os picos de preço dos últimos 12 meses). Sim, trata-se das “Faang”, Facebook, Apple, Amazon, Netflix, Google, além de outras menos cotadas.

O pessoal de Wall Street está nervoso também porque quebrou a cara com as compras que fez em outubro, na xepa, achando que faturaria uma alta agora em novembro.

Em suma, os preços estavam altos e o dinheiro para manter a viagem à lua das ações de tecnologia ficou mais caro. Mas o estrago é mais extenso e reforça discussão mais ampla. De quanto vai ser a desaceleração americana?

Alexandre Schwartsman: Irresponsabilidade revelada

- Folha de S. Paulo

O governo não pode salvar os estados sem exigir contrapartidas duras e claras

O Tesouro Nacional, antes sob o comando de Ana Paula Vescovi, hoje liderado por Mansueto Almeida, tem feito um esforço louvável para detalhar o estado das contas públicas, não só no que se refere ao governo federal, mas expondo também as mazelas dos governos locais.

O exemplo mais recente deste trabalho é o Boletim de Finanças dos Entes Subnacionais, publicação que traz dados sobre estados e municípios até 2017.

Os números são preocupantes. A começar pelo aumento do déficit primário dos estados, que pulou de R$ 1,8 bilhão em 2015 e R$ 2,9 bilhões em 2016 (valores irrisórios na comparação com o PIB) para R$ 13,9 bilhões em 2017 (0,2% do PIB).

Note-se que esta medida leva em consideração a despesa empenhada naqueles anos, não a efetivamente paga. A diferença reflete principalmente o atraso no pagamento de fornecedores e servidores, mecanismo adotado por vários estados, na prática “empurrando com a barriga” o problema, ao invés de atacá-lo frontalmente.

A piora do desempenho não decorre da receita. Pelo contrário, durante o período destacado esta cresceu relativamente ao PIB, embora não muito.

Por outro lado, a despesa do conjunto dos estados cresceu bem à frente do PIB, em parte pela recessão observada até 2016, mas além da modesta expansão da atividade no ano passado.

A verdade é que os gastos estaduais vêm aumentando mais do que a inflação, reproduzindo o padrão do gasto federal até 2016.

Ruy Castro: Mixórdias incompreensíveis

- Folha de S. Paulo

Bolsonaro tem péssima dicção; Lula era língua presa

Entra presidente, sai presidente, e os funcionários das embaixadas brasileiras no exterior continuam sofrendo. Nossos governantes precisam viajar de vez em quando e, como não são obrigados a falar outra língua —nenhum governante é—, dependem dos intérpretes para conversar com seu colega estrangeiro ou com a imprensa local. Esses intérpretes, se forem do velho Itamaraty, são fluentes nas línguas internacionais e competentes na dos países em que servem. O problema são os presidentes. Além das asneiras que dizem, quase todos têm péssima dicção.

Jair Bolsonaro, pelo que já se viu e ouviu, é um desastre vocal. Fala depressa demais e suas consoantes atropelam as vogais, numa mixórdia quase incompreensível —é como um trem descarrilado, com os vagões, no caso, as sílabas, amontoados uns sobre os outros. Às vezes, desiste de uma frase pelo meio e a substitui por outra, que, idem, não conclui. Esse suposto à-vontade não quer dizer segurança ou desembaraço, mas desleixo, mesmo. Ou contratam uma professora como Glorinha Beutenmüller para ensinar Bolsonaro a falar, ou seus intérpretes terão de pular miudinho.

Não é só Bolsonaro, claro. Lula era língua presa —ainda é. Seus esses soam como efes, tipo “Eu fó queria faber, eu fou ou não fou o dono do fítio?”. Imagine-o, em presidente, falando com Mugabe, do Zimbábue, Maduro, da Venezuela, ou Ali Bongo, do Gabão, e os intérpretes tendo primeiro de traduzi-lo para o português antes de vertê-lo para seus ditadores favoritos.

Luiz Carlos Azedo: O DEM volta ao poder

- Correio Braziliense

Novo ministro da Saúde, Mandetta foi indicado pelo governador eleito de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), com apoio da frente parlamentar da setor.

O presidente eleito, Jair Bolsonaro, anunciou ontem que o novo ministro da Saúde será o deputado Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), o terceiro integrante do DEM a ocupar o primeiro escalão do governo. Os outros dois são o poderoso futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), e a igualmente poderosa próxima ministra da Agricultura, Tereza Cristina (DEM-MS). Ambos são do mesmo estado, mas representam segmentos diferentes. O novo ministro foi indicado pelo governador eleito de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM),com apoio da frente parlamentar da saúde, enquanto a ministra representa o agronegócio de exportação dos estados produtores do Sul do país.

A indicação sinaliza dois movimentos de Bolsonaro: de um lado, fortalece a participação do DEM no seu governo, que passa a ser o seu principal e mais experiente partido aliado; de outro, enfraquece a posição do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que é candidato à reeleição e, aparentemente, não conta com o apoio de Bolsonaro. O DEM contará com 29 deputados, enquanto o PSL, de Bolsonaro, elegeu 52 integrantes da Câmara.

Outro aspecto que deve ser considerado é o fato de que o primeiro ministério ligado à área social ficou a cargo de um político. Mandetta responde a processo por improbidade administrativa. É investigado por suposta fraude em licitação, tráfico de influência e caixa 2 em um contrato para implementar um sistema de informatização na saúde em Campo Grande, no período em que foi secretário. Bolsonaro minimizou a situação: “Tem uma acusação contra ele (Mandetta) de 2009, se não me engano, e não deu um passo o processo ainda. Ele nem é réu ainda. O que está acertado entre nós? Qualquer denúncia ou acusação que seja robusta não fará parte do governo”, afirmou Bolsonaro.

Fernando Exman: O telefone sem fio do futuro governo

- Valor Econômico

Equipe de Bolsonaro quer melhorar comunicação

Poucos temas relacionados ao presidente eleito Jair Bolsonaro e sua equipe demonstraram, até agora, a capacidade de construir uma unanimidade entre aliados, adversários e observadores desapaixonados. Há uma exceção: a surpresa em relação à forma que o futuro governo se comunica com a sociedade.

Bolsonaro passou os últimos anos visitando praticamente todos os Estados. Percorreu o país, preparando a plataforma de sua candidatura a presidente e arregimentando eleitores insatisfeitos com "tudo o que está aí". Gastou sola de sapato, enquanto construía canais de comunicação direta com a população por meio de redes sociais.

Bolsonaro afastou intermediários e, à medida que sua popularidade crescia e transbordava seu tímido tempo na propaganda obrigatória de rádio e televisão, esses mesmos canais o ajudaram a direcionar o debate travado com seus adversários e a pautar veículos tradicionais de informação.

Bolsonaro e seus colaboradores mais próximos mantiveram a estratégia nas últimas três semanas, após saírem vitoriosos das urnas. Período suficiente para alguns auxiliares do presidente eleito já terem concluído que essa estratégia deve ser ajustada, para evitar ruídos e afastar crises desnecessárias do Palácio do Planalto no início do governo.

Há algumas iniciativas em discussão no Centro Cultural Banco do Brasil, onde está instalada a equipe de transição na capital federal. Sobre a mesa, por exemplo, está em pauta a nomeação de um porta-voz. Um profissional da área que participe das principais reuniões presididas por Bolsonaro, esteja a par dos principais programas e medidas em gestação no governo. Que forneça informações para a imprensa e, de quebra, ajude o presidente da República a manter-se afastado de repórteres e suas perguntas.

Luiz Carlos Mendonça de Barros: 2019: velhos fantasmas reaparecem

- Valor Econômico

Imagem salvacionista do Estado, herdada de Vargas, ainda é muito forte na sociedade e na elite política e militar

Estamos vivendo ainda as surpresas que a eleição do presidente Jair Bolsonaro trouxe a todos nós brasileiros. Fantasmas de um passado que vivi intensamente voltam à cena, travestidos agora de outros personagens, mais jovens e com cores de um mundo tão diferente como o de hoje. Mas para mim estas imagens do passado são ainda claras e nítidas apesar do tempo que passou e de sua nova roupagem.

A escolha de Roberto Campos Neto para a presidência do Banco Central foi um destes momentos em que o passado de 50 anos atrás tomou conta de meus pensamentos. Seu avô, o economista e político Roberto Campos, foi meu primeiro patrão e tutor no final da década dos anos 60 do século passado. Recém-formado na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, buscando meu primeiro emprego, fui trabalhar como analista financeiro no Investbanco, fundado pouco antes por ele. Homem forte do presidente Castelo Branco, tinha liderado com mãos de aço o Programa de Estabilização da economia entre 1964 e 1966. Foi o primeiro - e único - ajuste liberal de fato da economia brasileira moderna, seguindo o manual do então odiado FMI.

Uma outra experiência semelhante ocorreu em 1985 no governo José Sarney com uma equipe montada pelo ministro da Fazenda, Francisco Dornelles, escolhido por Tancredo Neves pouco antes de sua posse. Sarney manteve sua nomeação e a de sua equipe, formada por economistas cariocas e de traço liberal como o guru de Bolsonaro, Paulo Guedes. O próprio Paulo Guedes foi convidado para ser diretor do Banco Central e não aceitou por razões pessoais. Em seu lugar foi nomeado Roberto Castello Branco, escolhido agora como presidente da Petrobras. Duraram apenas poucos meses em seus cargos!!1

Roberto DaMatta: Ilusões eleitorais

- O Estado de S. Paulo

Eles se encontram num comício no qual todos queriam mudar o mundo

Não li e não gostei. Mas, em compensação, não tenho coragem de resistir ao pedido de um amigo. Eis a cara e a coroa do paradoxo nacional cujo ideal é controlar a lei e ser querido por todo mundo. Estaria nisso o centro do populismo e da nossa alergia a tomar decisões? Em 1800, a corte portuguesa cozinhou em banho-maria Napoleão e, fugindo para o Brasil, mudou o centro de gravidade do seu vasto império colonial. A matriz virou colônia num processo irônico e carnavalesco de mudança, justamente para evitá-la. Eis, quem sabe, a origem do nosso “mudancismo”: mudar para permanecer congelado.

Impedir, proibir e rejeitar fazem parte da nossa base ideológica tanto quanto o proteger que nega a realidade. Depende do lado em que as pessoas se situam, mas é preciso repetir que o foco no lado direito ou esquerdo esconde as distâncias entre os pés (descalços) e a cabeça (vazia).

O novo agride um sistema de medalhões. Tudo – fascismo, comunismo e, quem sabe, até uma insegura igualdade democrática – é possível desde que os protocolos do “bom-tom” sejam observados. O conservadorismo inconsciente leva ao paroxismo das adversidades da competição eleitoral que atingiu em cheio a vida diária e veio para ficar.

Monica De Bolle: E coisa e tal

- O Estado de S. Paulo

O espantalho da imigração que hoje vive no imaginário de Trump e de seus seguidores simplesmente não existe

“Direita é do mito
Esquerda é propina.
Direita é águia
Esquerda é rapina.”

Mal parafraseando Arnaldo Jabor, estamos assim. Direita é isso, esquerda é aquilo. Mas ao contrário do amor e do sexo, protagonistas da crônica original, não há complementos entre os dois vértices da política, ao menos não no Brasil das distopias que emerge das cinzas das eleições de 2018.

Nas últimas semanas, soubemos que o nazismo é de esquerda, o globalismo é vertente nefasta do marxismo cultural, ideologia é o que há de pior ainda que se confunda com ideias, e que a bela música Imagine de John Lennon é hino em prol da hiperglobalização, e do sonho comunista. Para os que dizem coisas como essas, privatizar é de direita, intervir no funcionamento dos mercados é de esquerda, priorizar o comércio internacional é de direita, combater a desigualdade de renda é de esquerda. Há apenas dois mundinhos: o da direita divina ou o da esquerda pagã. E, a política econômica, necessariamente, deve se enquadrar em algum desses mundinhos porque caso não o faça, não merece qualquer atenção – nem do bem, nem do mal.

Ocorre que, no Brasil, um governo social-democrata privatizou. Vários governos militares, que de esquerda nada tinham, intervieram no funcionamento dos mercados até não mais poder, causando os desarranjos que hoje muitos preferem esquecer. O comércio internacional sempre foi pauta tóxica que nem a direita, nem a esquerda quiseram abraçar. Afinal, o protecionismo sempre reinou absoluto no País tropical, abençoado por Deus, esse País em que dizer que Ele está acima de todos virou mote de campanha e de governo. O globalismo – Deus nos livre – torna o homem escravo e Deus irrelevante, avisam. Só não nos dizem exatamente como.

Tampouco nos iluminam sobre como o Brasil sairá do seu eterno isolamento global sem passar por algum processo que possa não ser identificado como globalização. A imigração é o mal do século, querem que acreditemos. Contudo, há estudo após estudo mostrando que políticas que facilitam a imigração são capazes de aumentar a produtividade e de impulsionar o crescimento. O espantalho da imigração que hoje vive no imaginário de Donald Trump e de seus seguidores simplesmente não existe, menos ainda no Brasil, onde quase não recebemos – mais – imigrantes. Os recebemos aos montes no passado, somos um País de imigrantes. Mas, é fácil esquecer disso na balbúrdia da atualidade.

Fábio Alves: Testando o novo Banco Central

- O Estado de S.Paulo

Há razões técnicas tanto para elevar os juros em 2019 quanto para adiar para 2020

Elogiado pelos seus pares pelo currículo e perfil técnico, Roberto Campos Neto, que está deixando a posição de diretor de Tesouraria do banco Santander para assumir a presidência do Banco Central, em substituição a Ilan Goldfajn, terá que estabelecer, de imediato, a credibilidade da política monetária sob sua gestão, como todo novo ocupante desse cargo.

Mas a tarefa pode ser mais complicada do que parece em 2019, uma vez que a política monetária encontra-se em pausa, numa transição entre o ciclo de corte e o de alta de juros. Os analistas e investidores estão cada vez mais divididos sobre quando a taxa Selic deve começar a subir de novo, diante de uma economia em recuperação, mas ainda com elevados níveis de desemprego e ociosidade.

Na mais recente pesquisa Focus, do BC, a mediana das projeções dos analistas aponta para uma taxa Selic encerrando 2018 a 6,50%, mas subindo para 8,0% ao fim de 2019. Todavia, é crescente o número de importantes instituições financeiras apostando num adiamento do início do ciclo de alta de juros para apenas 2020, entre elas os bancos Safra, Itaú, Fibra e o Santander.

Num cenário em que as razões técnicas sobre o início de um novo ciclo de aperto monetário têm mais tons de cinza do que justificativas claras, Campos Neto terá mais trabalho em termos de condução das expectativas a fim de evitar possíveis críticas. Quem não se lembra das acusações a Ilan Goldfajn, no início do seu mandato, de que ele foi demasiadamente conservador?

Ricardo Noblat: O risco que corre o capitão

- Blog do Noblat | Veja

Oposição ameaça aderir sem dizer

Uma coisa é o que diz a oposição ao futuro governo para consumo externo – diz que irá para cima dele sem dó nem piedade. Outra, o que ela começa a fazer no escurinho dos gabinetes do Congresso e mesmo fora dali.

A chamada oposição de raiz se resumirá ao PT, PC do B e PSOL. Pois bem: sob o manto do silêncio, parte dela negocia já com interlocutores do capitão cargos de segundo e terceiro escalões em ministérios.

O resto do que se autonomeia de “oposição crítica” não cansa de repetir que aprovará tudo que lhe pareça positivo para o futuro do país. O PSDB está nessa toada, mas não só ele.
O risco que corre o capitão e presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) é o de acordar um dia e constatar que a oposição aderiu ao seu governo.

Sem reformas
Empurrando com a barriga

Por mais que o mercado cobre e que os chamados formadores de opinião também, são remotas as chances de o Congresso no próximo ano aprovar qualquer proposta de reforma da Previdência Social.

A avaliação, unânime, foi feita ontem por cinco cabeças coroadas da Câmara dos Deputados e do Senado, cada uma de um partido diferente, naturalmente sob o compromisso de não serem identificadas.

Não querem ser apontadas como adversárias da reforma. Reconhecem que ela será inevitável. Mas não veem entre seus pares, os atuais e os que estão por chegar, a menor disposição em aprová-la.

Nem a reforma da Previdência, nem a reforma tributária, nem a reforma política. O custo eleitoral seria muito grande. Calcula-se que pelo menos cerca de 100 deputados federais serão candidatos a prefeito em 2020.

Nem bala de prata nem bondades: Editorial | O Estado de S. Paulo

Nenhuma bala de prata vai derrubar o primeiro e mais temível adversário do novo governo, o enorme desarranjo das contas públicas. O presidente eleito precisa pensar com urgência em algo menos fantasioso e mais eficiente. O primeiro passo para uma avaliação realista é reconhecer o tamanho do problema. Para controlar a dívida pública, uma das mais pesadas do mundo, a nova equipe terá de batalhar durante quatro anos. Se der tudo certo, poderá celebrar um avanço importante no fim do mandato de Jair Bolsonaro. Se a estratégia for mal concebida, ou se as medidas forem mal negociadas, a herança para quem assumir a Presidência em 2023 será assustadora, bem mais do que aquela deixada pelo presidente Michel Temer. Quanto à ilusão do ajuste rápido, foi mais uma vez desfeita, na terça-feira, por um dos mais conhecidos especialistas em contas públicas, o diretor executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI), Felipe Salto.

Só em 2023, no começo do governo seguinte ao do presidente Jair Bolsonaro, as contas primárias ficarão de novo no azul, disse o especialista à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE). Contas primárias são calculadas sem os encargos financeiros.

Portanto, só em 2023, de acordo com a projeção, o governo terá algum dinheiro para pagar pelo menos uma parte dos juros vencidos. Até lá, nem isso. Enquanto a mera operação do governo consumir mais que o valor arrecadado, será preciso rolar os juros, além do principal, e assim a dívida bruta continuará em crescimento.

Privatização é o melhor caminho para abater dívida: Editorial | O Globo

Venda de subsidiárias da Petrobras ajuda competição nos combustíveis e reduz ônus para a sociedade

Ainda na campanha eleitoral, na condição de assessor econômico e “Posto Ipiranga” do candidato Jair Bolsonaro, o economista Paulo Guedes fez a defesa da privatização de qualquer estatal, com o sensato e óbvio argumento de que é preciso abater a incontrolável dívida pública.

Em abril, ela passou dos R$ 5 trilhões, e avança a passos firmes para chegar a 80% do PIB, 30 pontos percentuais acima do nível em que estava quando a então presidente Dilma acelerou a delirante política do “novo marco” econômico, destroçando as contas públicas.

Eis a razão, também, da premência nas reformas, a começar pela Previdência, cujo déficit crescente dá o ritmo da expansão do endividamento público. É crucial estancar estes déficits, para que o abatimento da dívida não tenha de se repetir no futuro. Seria trágico.

Bolsonaro ganhou as eleições, Guedes foi ungido superministro indicado da Economia, uma pasta reforçada para o governo ter alguma chance de êxito na multidisciplinar tarefa do ajuste fiscal —dimensionado em cerca de 5% do PIB, uma tarefa repleta de obstáculos, principalmente políticos. O jogo começou para valer.

É indiscutível que o Estado precisa, na linguagem técnica, “vender ativos”, para sair da crise fiscal e afastar o risco de insolvência do Tesouro e seus ingredientes tóxicos: alta da taxa de juros, volta à recessão, ao desemprego.

Cuba deixa Mais Médicos, que precisa ser ampliado: Editorial | Valor Econômico

Em vastas regiões miseráveis do país, o sistema de saúde precisa de toda ajuda que for possível obter. A retirada de Cuba do programa Mais Médicos deixará uma parte do interior em apuros e coloca um desafio ao governo de Jair Bolsonaro. Dos 18.240 médicos que participam do programa, 8.332, ou 45,7%, são cubanos. Segundo a Confederação Nacional dos Municípios, em 1.575 municípios só trabalham médicos cubanos, 80% dos quais com menos de 20 mil habitantes. Problema tão delicado quanto esse não pode ser resolvido facilmente, muito menos com radicalismos de parte a parte.

Bolsonaro é antagonista do PT e, na gestão de Dilma Rousseff, em 2013, o programa foi criado como parte de um plano maior de interiorização da medicina. O presidente eleito anunciou que pretendia rever as condições do programa de tal forma que certamente modificaria o interesse da ditadura cubana nele. Bolsonaro discorda da divisão leonina da remuneração dos médicos - um terço do salário para o profissional, dois terços para o governo de Cuba - e da interdição, típica de ditaduras, de impedir que eles tragam suas famílias para o Brasil. A terceira condição, da revalidação de diplomas, é no caso irrelevante. O programa tem hoje 2 mil vagas ociosas, por falta de médicos interessados.

Calcula-se que Cuba ganhe US$ 11 bilhões em receitas anuais com a exportação de serviços médicos para 67 países das Américas, África e Ásia, garantindo quase 80% das receitas externas do país, dos quais 3% viriam do Brasil (BBC News Brasil, 17/11/2018).

As caravanas: Editorial | Folha de S. Paulo

Trump busca o embate ao tratar da marcha de migrantes da América Central aos EUA

Por mais que Donald Trump os queira longe, mais de uma dezena de milhares de migrantes que cruzam a América Central já se aglomeram no norte do México, às portas dos Estados Unidos. É preciso senso de urgência para resolver tal questão; a maneira como o presidente deseja solucioná-la, porém, tende apenas a um agravamento.

A retomada do controle da Câmara pelo Partido Democrata, nas eleições do início do mês, obriga o líder republicano a dialogar com a oposição caso pretenda rever pontos da legislação imigratória —e, assim, dificultar a chegada dessas caravanas a solo americano.

Não parece ser esse o caminho escolhido pela Casa Branca. Trump estabeleceu, por ordem executiva (medida que não precisa passar pelo Legislativo), que o governo só aceitasse examinar pedidos de asilo de quem o fizesse nos postos oficiais de fronteira e aguardasse o trâmite fora do país.

Na segunda (19), um juiz federal suspendeu a determinação, sob o argumento de que cabe ao Congresso alterar esse tipo de norma.

Bloco Rebeldes Imperial: A verdade é esta (Edgard Moraes)

Carlos Pena Filho: Chopp

Na avenida Guararapes,
o Recife vai marchando.
O bairro de Santo Antonio,
tanto se foi transformando
que, agora, às cinco da tarde,
mais se assemelha a um festim,
nas mesas do Bar Savoy,
o refrão tem sido assim:
São trinta copos de chopp,
são trinta homens sentados,
trezentos desejos presos,
trinta mil sonhos frustrados.

Ah, mas se a gente pudesse
fazer o que tem vontade:
espiar o banho de uma,
a outra amar pela metade
e daquela que é mais linda
quebrar a rija vaidade.

Mas como a gente não pode
fazer o que tem vontade,
o jeito é mudar a vida
num diabólico festim.

Por isso no Bar Savoy,
o refrão é sempre assim:
São trinta copos de chopp,
são trinta homens sentados,
trezentos desejos presos,
trinta mil sonhos frustrados.