DEU NO CORREIO BRAZILIENSE
Ao sinalizar que não pretende renunciar ao comando da sigla, vice-presidente eleito pode descumprir acordo firmado com correligionários e irrita os demais caciques da legenda
Izabelle Torres
Ao sinalizar que não pretende renunciar ao comando da sigla, vice-presidente eleito pode descumprir acordo firmado com correligionários e irrita os demais caciques da legenda
Izabelle Torres
Depois de deixar insatisfeitos os integrantes do PMDB por conta da sua atuação na briga da legenda por poder no próximo governo, o vice-presidente eleito, deputado federal Michel Temer (SP), vai enfrentar novamente a fúria de parte da bancada de seu partido. Na última quarta-feira, ele anunciou informalmente que não pretende renunciar à Presidência da legenda, mas apenas licenciar-se do cargo. Com isso, ele descumpre um acordo feito com caciques da sigla em fevereiro, quando negociava apoio à reeleição. Na época, a ideia era que ele renunciasse ao comando do PMDB quando seu nome se viabilizasse como vice de Dilma Rousseff. Isso abriria espaço para o senador Romero Jucá (RR) se eleger para a função. Foi graças a esse acordo que o grupo aliado a Jucá aceitou reconduzir Temer.
A promessa de renúncia ao cargo quando assumisse uma função no Executivo rendeu ao vice-presidente eleito o apoio de lideranças da legenda como Renan Calheiros (AL) e José Sarney (AP). A dupla, apesar de ser ligada a Valdir Raupp (RO) — que é o atual primeiro vice do Diretório Nacional do partido —, não pretendia transformar o aliado em presidente da legenda num eventual licenciamento de Temer, já que encabeçaram o grupo que costurou o acordo em torno da futura eleição de Jucá.
O anúncio de que desistiu da renúncia e vai optar pelo licenciamento irritou os peemedebistas, que chegaram a cogitar um motim para tirar Michel Temer das articulações por cargos em ministérios. Na última terça-feira, caciques da legenda se telefonavam a todo instante.
O assunto era o mesmo: a péssima atuação do vice-presidente eleito em defesa dos interesses do partido. Segundo eles, a confusão de papéis desempenhados pelo deputado — que ora atuava como presidente do PMDB, ora como representante do governo — estava atrapalhando as negociações da sigla e amenizando o tom de ameaças de uma possível ruptura com Dilma Rousseff, caso os pleitos não fossem atendidos.
Os peemedebistas decidiram, no mesmo dia, tirar Temer da função de principal interlocutor da legenda nas negociações por ministérios. Mas a decisão durou apenas algumas horas.
Prevaleceu a tese de que, como o novo governo ainda não começou, um racha antes da largada poderia prejudicar definitivamente futuras negociações. Decidiram, então, digerir a atuação de Michel Temer e armazenar munição para os ataques por espaço e poder a partir do próximo ano.
Com ministérios de peso menor do que os que mantiveram nas mãos nos últimos anos, os peemedebistas articulam agora a ofensiva aos cargos-chaves das estatais. Eles vão alegar que aceitaram as pastas oferecidas por Dilma, mas não pretendem engolir calados a baixa no orçamento que administram.
Motim
As pressões para que Michel Temer dê o recado e pressione a presidente eleita já começaram. A bancada do PMDB diz que a ideia agora é avaliar a forma como ele vai atuar no remendo das feridas abertas na divisão de cargos já anunciada. A depender, podem retomar o motim e tentar novamente tirar o parlamentar das negociações em nome da legenda.
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