Os políticos de Pernambuco são pródigos em utilizar os nossos símbolos oficiais (bandeira e hino) e a nossa cultura popular (carnaval e futebol) como arremedo de cultura cívica, destinada a vender suas marcas, seus governos e suas gestões. Muda partido, muda sigla, mudam as pessoas nos cargos públicos, mas persiste a engenharia simbólica de manipular o chamado "mundo da vida" dos cidadãos, para divulgar os feitos e acontecidos do governo tal ou qual. Afinal, o que há de novo em Pernambuco, além do clima de excitação político-partidária?
Saímos de uma eleição bi-polarizada, onde o Nordeste teve um papel fundamental para a eleição da nova presidente da República. A questão regional foi trazida à baila, no fim das eleições, com as manifestações de xenofobia e preconceito contra o Nordeste e os nordestinos. É indiscutível o que a região mudou. Mudou a matriz econômica. Mudou a cor dos partidos governantes. Mudou o papel econômico dos estados nordestinos. Podemos falar numa sociedade civil nordestina, hoje, animada por uma miríade de atores e instituições diferenciadas, que estão ajudando a democratizar as velhas estruturas oligárquicas e clientelísticas do velho nordeste.
O Estado de Pernambuco - que vegetou muitos anos num clima de paralisia econômica e decadência política - tem sido muito contemplado pelo novo quadro econômico e político da região. A virtuosa sinergia criada pelos três níveis de governo (municipal, estadual e federal) foi muito importante para a recuperação econômica do estado. A nossa matriz foi profundamente modificada com o pólo têxtil, o pólo petroquímico, a indústria naval, o porto de Suape, a refinaria etc. O impacto social e financeiro sobre a vida da população tem sido grande, na geração de renda e emprego. A questão que ora se coloca é em relação à política de Pernambuco. Como anda o ambiente político do Estado?
Poderíamos dizer que, com a vitória acachapante do governador Eduardo Campos e o encolhimento brutal da oposição, abriu-se um céu de brigadeiro para esta segunda gestão do neto de Miguel Arraes. Mas há indícios preocupantes de sobrevivência de velhas práticas e o aparecimento de novas práticas, não tão republicanas. Enfim, é como se estivéssemos diante de um "híbrido" institucional composto do velho patrimonialismo e da gestão gerencial, de Fernando Henrique Cardozo. É como se o governo reeleito adotasse uma postura clientelística em relação aos aliados e amigos, na distribuição de cargos e benesses, e procurasse mostrar um perfil "moderno", "gerencial" na gestão estadual. Nota-se que no trato a bens juridicamente tutelados, como educação, cultura, saúde e meio-ambiente, a postura é uma.
No que diz respeito à política industrial, de infra-estrutura, negócios etc., é outra. Um setor da administração é entregue ao terceiro setor - com base numa gestão por metas - outro é administrado com base na "venda" de vantagens locacionais á investidores e empresas, nem sempre autorizadas ou conhecidas pela sociedade. E tudo em nome do crescimento econômico, da geração de emprego e renda, do desenvolvimento de Pernambuco.
Esse modelo híbrido, revestido por uma imensa propaganda, vem deixando na sombra uma série de problemas ambientais, sociais e financeiros. Aos poucos, os conflitos, a insatisfação, as carências e demandas da população vão encontrando espaços para se manifestar. Outro problema é o encolhimento da oposição na Assembléia Legislativa. A casa de Joaquim Nabuco perdeu em diversidade e liberdade de crítica e fiscalização do executivo. Tornou-se governista e conservadora. A atitude do governo para com os movimentos sociais é de cooptação. Dessa forma, é necessário se buscar um espaço de crítica e de resistência a projetos e interesses não necessariamente republicanos. Acrescente-se a isso, o ambiente de ajuste fiscal, guerra cambial, problemas na balança de pagamentos e inflação. Certamente o Nordeste e suas subunidade vão perder o foco que antes tinham com o governo Lula.
Michel Zaidan Filho é professor da Universidade Federal de Pernambuco
Saímos de uma eleição bi-polarizada, onde o Nordeste teve um papel fundamental para a eleição da nova presidente da República. A questão regional foi trazida à baila, no fim das eleições, com as manifestações de xenofobia e preconceito contra o Nordeste e os nordestinos. É indiscutível o que a região mudou. Mudou a matriz econômica. Mudou a cor dos partidos governantes. Mudou o papel econômico dos estados nordestinos. Podemos falar numa sociedade civil nordestina, hoje, animada por uma miríade de atores e instituições diferenciadas, que estão ajudando a democratizar as velhas estruturas oligárquicas e clientelísticas do velho nordeste.
O Estado de Pernambuco - que vegetou muitos anos num clima de paralisia econômica e decadência política - tem sido muito contemplado pelo novo quadro econômico e político da região. A virtuosa sinergia criada pelos três níveis de governo (municipal, estadual e federal) foi muito importante para a recuperação econômica do estado. A nossa matriz foi profundamente modificada com o pólo têxtil, o pólo petroquímico, a indústria naval, o porto de Suape, a refinaria etc. O impacto social e financeiro sobre a vida da população tem sido grande, na geração de renda e emprego. A questão que ora se coloca é em relação à política de Pernambuco. Como anda o ambiente político do Estado?
Poderíamos dizer que, com a vitória acachapante do governador Eduardo Campos e o encolhimento brutal da oposição, abriu-se um céu de brigadeiro para esta segunda gestão do neto de Miguel Arraes. Mas há indícios preocupantes de sobrevivência de velhas práticas e o aparecimento de novas práticas, não tão republicanas. Enfim, é como se estivéssemos diante de um "híbrido" institucional composto do velho patrimonialismo e da gestão gerencial, de Fernando Henrique Cardozo. É como se o governo reeleito adotasse uma postura clientelística em relação aos aliados e amigos, na distribuição de cargos e benesses, e procurasse mostrar um perfil "moderno", "gerencial" na gestão estadual. Nota-se que no trato a bens juridicamente tutelados, como educação, cultura, saúde e meio-ambiente, a postura é uma.
No que diz respeito à política industrial, de infra-estrutura, negócios etc., é outra. Um setor da administração é entregue ao terceiro setor - com base numa gestão por metas - outro é administrado com base na "venda" de vantagens locacionais á investidores e empresas, nem sempre autorizadas ou conhecidas pela sociedade. E tudo em nome do crescimento econômico, da geração de emprego e renda, do desenvolvimento de Pernambuco.
Esse modelo híbrido, revestido por uma imensa propaganda, vem deixando na sombra uma série de problemas ambientais, sociais e financeiros. Aos poucos, os conflitos, a insatisfação, as carências e demandas da população vão encontrando espaços para se manifestar. Outro problema é o encolhimento da oposição na Assembléia Legislativa. A casa de Joaquim Nabuco perdeu em diversidade e liberdade de crítica e fiscalização do executivo. Tornou-se governista e conservadora. A atitude do governo para com os movimentos sociais é de cooptação. Dessa forma, é necessário se buscar um espaço de crítica e de resistência a projetos e interesses não necessariamente republicanos. Acrescente-se a isso, o ambiente de ajuste fiscal, guerra cambial, problemas na balança de pagamentos e inflação. Certamente o Nordeste e suas subunidade vão perder o foco que antes tinham com o governo Lula.
Michel Zaidan Filho é professor da Universidade Federal de Pernambuco
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