Depois de 2008 e de novo agora, investimentos estrangeiros na "produção" brasileira aumentam
Quanto mais o barco da economia mundial faz água, mais investimento externo "na produção" o Brasil recebe.
Mesmo descontadas as distorções cambiais e as aplicações financeiras que entraram disfarçadas em investimento direto (enfim pouco dinheiro, parece), o capital que veio para criar ou ampliar empresas aumentou no pós-crise de 2008 e de novo agora, depois que a recuperação mundial micou.
Cresceu também em termos relativos, como proporção do PIB. O surto de Investimento Estrangeiro Direto (IED), o nome oficial da coisa, é ainda mais impressionante neste 2011. Tome-se como base outubro de 2010, quando o governo brasileiro baixou medidas para limitar a entrada de aplicações financeiras, que não afetavam, claro, o IED, mas podiam "assustar o mercado".
Nos 12 meses anteriores a outubro de 2010, o IED acumulado era de 1,4% do PIB. Em maio deste ano subira a mais de 2,9% do PIB -isso quando já estava claro que a Grécia se esboroava, avariando também Europa e resto do mundo. Em setembro, o IED foi a mais de 3,3%.
Jamais ocorrera tamanha exuberância pelo menos desde 1995 -desde quando as contas brasileiras estão mais arrumadinhas.
A bem da precisão, o IED passou de 4% do PIB nos anos da grande desvalorização do real, entre 1998 e 2002. Mas isso é ilusão aritmética. O IED parecia enorme porque a economia brasileira ficou miudinha, em dólares, dada a desvalorização da moeda. De resto, o Brasil não crescia quase nada.
Sob certo aspecto, a enxurrada de dinheiro pode não parecer surpreendente. EUA, Europa e Japão não devem crescer tão cedo.
No Brasil, o risco relativo de investir é agora menor. Mal ou bem, o mercado interno continua a crescer ainda mais que a economia. Exemplos "pops" e anedóticos recentes do interesse pelo consumidor brasileiro: a Pepsi comprou a biscoitos Mabel, a Kirin comprou a Schincariol, Carrefour e Casino brigaram pelo Pão de Açúcar etc.
Há também oportunidades em infraestrutura, em transportes e em energia. Exemplo: os fabricantes de equipamentos de energia eólica, sem mercado nos EUA e na Europa, correm em massa para o Brasil.
Há o petróleo -a Sinopec, chinesa, depois de entrar na Repsol, agora foi de Galp. Não há espaço para listar os investimentos, inclusive de brasileiros retornando, mas a massa de capital é impressionante.
Tão impressionante que chama a atenção para outro aspecto da torrente de dinheiro: o risco de haver uma freada forte. Por quê? 1) O Brasil deve descolar apenas em parte da crise mundial; 2) Embora exista capital sobrando no mundo à procura de rentabilidade, a piora nas condições financeiras no mundo rico em tese deveria afetar a vontade de investir.
Porém, faz tempo que tais riscos e empecilhos estão claros para quem tem dinheiro, ainda mais para empresas grandes, que fazem planos além do curto prazo. E a torrente de dinheiro apenas aumenta.
O que está havendo? Petróleo, obras esportivas e a perspectiva de "ampliação do mercado de massas" pelo menos pelos próximos cinco anos estão fazendo as múltis relevarem os riscos de curto prazo? O Brasil virou uma aposta de duração ao menos quinquenal?
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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