As ações do setor financeiro caíram muito este ano, mas os bancos continuam com lucros altos. A receita das empresas cresceu no terceiro trimestre, mas o lucro líquido despencou porque os custos internos aumentaram. A desvalorização do real ajuda as exportações, mas a alta do dólar aumentou o endividamento das empresas que captaram em moeda estrangeira.
A radiografia das empresas brasileiras que já divulgaram balanços no terceiro trimestre mostra como a crise internacional tem nos afetado e causado distorções. As ações dos bancos estão com queda de 17% no ano, mas os resultados têm agradado aos analistas, principalmente porque a concessão de crédito continua forte. O lucro líquido do Itaú Unibanco cresceu 24% no terceiro trimestre em relação ao mesmo período de 2010; do Bradesco, 11,4%; do Banco do Brasil, 11%. De janeiro a setembro, o Itaú bateu o recorde de lucro dos bancos brasileiros, mas suas ações caem 17,8% no ano.
A analista da Ativa Corretora Luciana Leocadio explica que há um descolamento negativo de alguns setores na bolsa, por causa da crise. Mesmo quando as empresas estão bem, as ações caem:
- Os resultados operacionais do setor financeiro estão muito bons, mas as ações estão em queda por causa da crise, que tira confiança e afasta investidores estrangeiros. A mesma coisa acontece com a construção civil.
A queda das ações não atrapalha o dia a dia e o fluxo de caixa das empresas, segundo Luciana, mas dificulta investimentos caso elas tenham que ir a mercado se financiar.
Levantamento da Economática com 127 empresas que divulgaram balanços, excluindo Vale, Petrobras e setor financeiro, mostrou que a receita subiu 11,1% no terceiro trimestre, em relação a 2010, mas o lucro líquido caiu 51%. A alta do dólar aumentou o custo dos insumos importados e também fez disparar as dívidas contraídas em moeda estrangeira.
A economista Monica da Bolle, da Galanto consultoria, aponta a inflação como uma das causas para o aumento dos custos internos das empresas e da indústria brasileira de uma forma geral:
- A inflação está pesando no custo das empresas. Ela fez com que os reajustes salariais ficassem mais fortes, acima da própria inflação, então o custo do emprego para a indústria subiu.
A Vale teve lucro líquido de R$7,8 bi no terceiro trimestre, mas o resultado é 25% menor do que o do mesmo período de 2010. Isso aconteceu apesar do aumento de preço e volume de seus produtos exportados. A exportação de níquel subiu 62%; cobre, 45%; carvão, 7,5%. Os preços dos fertilizantes subiram 38%; do carvão, 17%; minério de ferro, 8%; cobre, 4%. O problema, segundo a Concórdia Corretora, foi o aumento dos custos e das despesas operacionais. A companhia pagou mais caro por royalties, serviços terceirizados e insumos. No ano, as ações da Vale caem 7%, mas o lucro líquido nos três primeiros trimestres aumentou 46%.
Siderurgia e papel e celulose são os setores que têm apresentado os piores resultados. A Fibria teve prejuízo líquido de R$1,1 bi no terceiro tri. As margens da empresa foram afetadas pela queda nos preços, aumento de custos e a disparada do dólar. A Europa é grande compradora de celulose e a redução de gastos dos governos esfria a economia como um todo.
A Usiminas teve queda de 53% no resultado operacional e redução de 80% no lucro líquido em relação ao mesmo período de 2010. A companhia enfrentou vendas e preços internos mais baixos, e custos mais altos das principais matérias-primas.
A Petrobras aumentou o resultado operacional em 13,1% no terceiro trimestre, mas o lucro líquido caiu 26% por causa da alta da moeda americana e do endividamento em dólar. No ano, as ações PN caem 17%, mas nos três primeiros trimestres o lucro líquido subiu 15%. Neste caso, a queda na bolsa tem mais relação com a interferência política na empresa do que com a crise internacional.
A indústria como um todo sofreu uma retração de 0,8% no terceiro trimestre, depois de ter recuado 0,6% no segundo. Os investimentos caíram 3,5%. Mas o comércio varejista acelerou no período, de 1,1% para 1,6%. Há sinais claros de desaceleração, mas a economia manteve o crescimento. No ano, apenas três setores sobem na bolsa: telecom (11%), energia (4,8%) e veículos e peças (0,3%). Não faz muito sentido que as empresas brasileiras tenham tido um desempenho tão ruim na Bovespa. É efeito da crise externa.
FONTE: O GLOBO
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