É mais fácil o PSD fazer "algum" tipo de aliança com o PT na eleição para prefeito de São Paulo, em outubro, do que entrar no governo da presidente Dilma Rousseff, na reforma ministerial prevista para depois do dia 15. Mais que uma espécie de "último aviso" ao PSDB, a conversa que o prefeito Gilberto Kassab teve com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva retrata o pragmatismo do ideólogo do partido que "não é de centro, nem de esquerda e nem de direita.
Lula e Kassab conversaram sobre o ofício de ambos: política. Mas o prefeito parece sincero quando afirma que nada foi amarrado formalmente durante a visita que ele fez a Lula no hospital Sírio-Libanês, onde o ex-presidente faz tratamento de um câncer na laringe. Mas há muita conversa informal no ar.
A evolução de Kassab em direção aos principais críticos de sua gestão tem uma lógica e é vista com naturalidade no PSD. A rejeição, um muro quase intransponível está no PT e também faz sentido lógica: uma aliança formal ou informal com o PSD expõe o discurso petista contrário ao governo tucano-kassabista de São Paulo nos últimos oito anos. O PT entraria sem uma bandeira forte na eleição.
Se vê lógica na aliança com o PT, o PSD toma o cuidado de ressaltar que a tendência, a prioridade e o esforço do partido ainda é o entendimento com o PSDB em torno das candidaturas de José Serra ou do vice-governador Guilherme Afif Domingos.
Até agora a história do PSD tem seguido rigorosamente o enredo escrito na sua criação.
O partido teve a ajuda do PT e de Lula em sua formação, mas entre seus fundadores há políticos que apoiaram tanto Serra como Dilma Rousseff, nas eleições presidenciais de 2010. Boa parte deles aderiu sob a condição de que o PSD ficaria numa posição de independência em relação ao governo federal.
Até 2014, prevê o enredo, o PSD será independente, de modo que, ao final desse período, possa apoiar a reeleição da presidente Dilma, a eventual volta de Lula ou até trilhar outro caminho, sendo a oposição o menos provável deles. O projeto é que nenhuma porta esteja fechada na sucessão presidencial de 2014.
O PSD é um "partido independente" cuja tendência é caminhar sempre com o governo. Uma proximidade que faz com que o partido esteja permanentemente muito mais próximo do que distante do poder central. Por outro lado, integrar o ministério significa o alinhamento compulsório com o governo, o que é incompatível com os compromissos assumidos na constituição da sigla.
Se Dilma convidar alguém do PSD, o que não é esperado no partido, o enredo diz que o filiado poderá até assumir, desde que em caráter pessoal. Se for alguém dos órgãos de direção partidária, no limite, pode até ser desfiliado. São autônomos movimentos feitos no Congresso em favor de candidaturas do PSD a ministro.
A situação é diferente em relação à disputa pela Prefeitura de São Paulo.
Eventual aliança nas eleições é vista sem o desconforto que o assunto causa no PT. Ao contrário, é avaliada como algo que não é nenhum absurdo nem foge à naturalidade política. Mas essa negociação, hoje, de fato não existe em termos formais.
O enredo eleitoral do PSD é cartesiano.
Há alguns meses o partido estabeleceu a posição de que tentaria disputar a eleição para a prefeitura tendo como candidato um dos seguintes nomes: Serra, Afif, o senador Aloysio Nunes Ferreira e os secretários Francisco Luna e Eduardo Jorge. Os secretários foram os primeiros a cair fora: Eduardo Jorge disse que, definitivamente, não estava interessado, e Luna não se filiou a um partido. Sobraram três nomes, mas o senador Nunes Ferreira não mudou o domicílio eleitoral de Rio Preto para São Paulo, no prazo determinado pela legislação, e também saiu da lista.
Agora restam Serra, que diz não querer, e Afif como candidatos para a reedição do texto tucano-kassabista em São Paulo. Se nenhum dos dois nomes vingar, o PSD vislumbra dois outros cenários, ambos sem o PSDB. O primeiro deles é o da candidatura própria, o que só deve ser analisado seriamente se o PSD conseguir tempo de televisão na Justiça Eleitoral. Os nomes em consideração são o próprio Afif, o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles e o secretário municipal de Educação, Alexandre Schneider.
Se entender que a candidatura própria não é viável, o PSD e Kassab veem sem estranheza o entendimento com o PT. Até porque há conversas eleitorais em curso, entre os dois partidos, no país inteiro. Exemplos: Rio Grande do Norte, Bahia, Sergipe e Rio de Janeiro.
Kassab também não vê incoerência no movimento. Não deve surpreender ninguém, portanto, se o prefeito começar a elogiar adversários ferrenhos da ideia, como o presidente nacional do PT, Rui Falcão, e a senadora Marta Suplicy. Em conversas privadas o prefeito costuma dizer que o PSD é reconhecido a Rui Falcão - algoz público de sua gestão -, pois, à época da formação do partido, o presidente do PT o visitou em casa para desejar sorte e dizer que estava torcendo para que o PSD desse certo e estivesse próximo do governo para ajudar a Dilma a fazer um bom mandato.
"Ele foi muito elegante", comentou Kassab à época. O PSD também registrou o comparecimento do presidente do PT à convenção de lançamento do partido, ano passado. "O Rui ficou com muitos créditos, existe um reconhecimento do partido", comentaria Kassab, em seguida. Houve ainda, nesse período, o Congresso Nacional do PT, cuja resolução final evitou as críticas ao PSD anotadas nas versões preliminares. O discurso do pessedismo em São Paulo também começa a ser mais afável em relação à senadora Marta Suplicy, cuja candidatura foi preterida no PT pela do ministro Fernando Haddad (Educação).
Cutucar os tucanos com vara curta ou instinto de sobrevivência de quem teme ficar isolado, o fato é que, no momento em que outras hipóteses não existirem mais ou se enfraquecerem, não será nenhuma heresia se o PSD chegar à conclusão de que vale a pena a tentativa de "algum" entendimento com o PT. Kassab não é de centro, nem de esquerda ou de direita. É pragmático.
FONTE: VALOR ECONÔMICO
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