O ano é novo e a confusão na Europa é a mesma de sempre. Esta semana tudo voltou a se agitar depois de breve pausa. No encontro de Angela Merkel e Nicolas Sarkozy apareceram temas requentados e uma tentativa de agenda positiva para ajudar o francês na sua luta pela reeleição. Da Grécia vieram novas ameaças de calote, o que torna a situação deles mesmos mais grave.
Sarkozy reapresentou a proposta de um imposto sobre transações financeiras, e Angela Merkel disse novamente que aceita, claro, desde que seja para toda a União Europeia, porque sabe que o Reino Unido não aprovará. A posição inglesa é que o imposto só dará certo se for global. Essa é a mesma conversa que circula há anos na região.
Os dois governantes disseram que houve progresso em torno do pacto fiscal da União Europeia. Nesse caso, houve avanço no fim do ano passado, quando Sarkozy e Merkel concordaram sobre os parâmetros do acordo fiscal, mas eles sabem que ainda há muito caminho pela frente. Os outros 15 países da Zona do Euro precisam aprovar as bases desse acordo e depois ele terá que ser estendido para os demais países da Europa, menos o Reino Unido, que já disse que não aceitará. Esse é o ponto sobre o qual há mais esperança. A proposta lembra em parte o que foi feito no Brasil no saneamento dos estados, a partir de 1995. O problema é que lá são países, cujos eleitores podem não querer abrir mão da soberania em favor de uma lei de responsabilidade fiscal. Eles dizem que assinarão esse novo pacto fiscal em março. Se o fizerem, pode ser um passo importante para o começo do fim da crise.
Os dois governantes tentaram mudar o tom das declarações. Em vez de falarem na necessidade de ajuste, incluíram o tema "criação de empregos", principalmente para jovens, nas propostas que dizem que estão estudando. Isso é claramente um problema na Europa. Na Espanha, é dramática a falta de emprego para jovens. Para Sarkozy, a entrada desse assunto em pauta é mais do que conveniente, é fundamental. Nas pesquisas de opinião, ele está atrás do candidato socialista para as eleições de maio, nas quais tenta um segundo mandato.
Merkel marcou para esta segunda semana do ano outras reuniões para tratar da crise, como a com a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, em Berlim, nesta terça-feira, e com o presidente do Banco Central Europeu, Mario Monti. O que tanto ela quanto o presidente francês querem é garantir algum resultado positivo na reunião de cúpula em 30 de janeiro.
Para Merkel, não apenas as afinidades ideológicas a fazem torcer por Sarkozy. É que a eleição de um socialista e o começo de um novo governo poderiam fazer as negociações retrocederem várias casas. Sarkozy tenta fazer uso político eleitoral disso também. Disse que sem acordo entre Alemanha e França a Europa unida não tem futuro.
Na Grécia, também a Europa continua andando em círculos. Os países mais fortes dizem que querem que a Grécia permaneça no grupo, mas insistem no acordo entre o governo e seus credores privados. Os bancos, por sua vez, sabem que terão que conceder um desconto maior do que concederam até agora - em outras palavras, a perda que terão com a Grécia vai ser mais pesada. O novo governo de Lucas Papademos está repetindo nos últimos dias a ameaça de calote. Primeiro, o porta-voz do governo disse que o país poderia sair da Zona do Euro se os bancos não reduzirem mais o valor da dívida; depois, o próprio primeiro-ministro afirmou que se o desconto não for maior o país pode simplesmente não pagar. A Grécia deve 150% do PIB e seu acordo com a União Europeia tem exigências difíceis, como a de que haja corte de salários dos trabalhadores. Um quinto da população economicamente ativa trabalha para o governo. Se nada der certo, o calote virá mesmo e já tem data: é março. Isso aumenta o risco de agravamento da crise financeira porque os bancos podem não conseguir assimilar as perdas.
A agência de classificação de risco Moody"s disse que o ajuste da Espanha tem que ser 40% maior em 2012 do que foi o esforço fiscal somado de 2010 e 2011. Ou seja, impossível. Todos andam em círculos. As agências ameaçam e rebaixam países, empresas e bancos. Os bancos precisarão ser recapitalizados. Os países terão que ajustar suas contas. O Fundo Europeu de Estabilidade Financeira e o Mecanismo Europeu de Estabilidade precisam ser capitalizados, nos novos valores que França e Alemanha já concordaram em fazê-lo, mas ainda não receberam os recursos.
A Europa entrou em 2012, ano em que os governantes da Alemanha e França disseram que será pior do que o anterior, sem ter um enredo novo. As declarações, ameaças, propostas parecem coisa já vista. O cansaço da crise e o ceticismo são outros dos temores que pesam sobre o continente. Todos sabem que a saída da crise não será fácil. A única esperança que se tem no governo brasileiro é que o segundo semestre na Europa seja melhor do que o primeiro. Até março, haverá o medo do calote da Grécia, a pressão para que os bancos cumpram novos patamares de capital, as dúvidas sobre se haverá o acordo fiscal fechado entre os países; até maio, permanecerá a incerteza política na França. O primeiro semestre será todo de dúvidas sobre a crise europeia.
FONTE: O GLOBO
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